O Capítulo que Nihil-Adhere me escreveu porque eu tive um bloqueio.

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Eça passeava no interior da amada livraria num passinho pequenino e requintado, como se não quisesse magoar o chão que pisava.

Subitamente, espantado do espanto que os seus olhos viram, uma capa branca, cheia de desenhinhos grotescos, apresentava o seu nome e o título da sua obra prima.

Com tremores de pai que pega no seu filho pela primeira vez, Eça levantou o formoso livro grosso e, de seguida, com uma emoção comovida de pai babado, levou-o contra o peito, apertando-o firmemente.

No seu passinho lento, dirigiu-se à caixa, onde um sujeitozinho de cabelos compridos e negros (da sujidade impregnada há 116 anos no couro cabeludo) estava massacrar furiosamente uma espécie de caixinha com inúmeros botões que gemiam de dor aquando os dedos do funcionário os violavam brutamente.

Eça rapidamente retirou da algibeira 8 moedinhas de ouro, que fora o número que vira a indicar o preço da sua preciosidade à tanto tempo sem ser vista.

O homenzinho arregalou os olhos, em espanto ou horror. Comovido e atarantado (o funcionário descendia da linhagem de Palma Cavalão), o homem rapidamente guardou as reluzentes moedas enquanto o nosso Eça saía, assobiando como um canário por Lisboa a fora.

Depois de muito espanto cínico da sua parte, pode constatar o quão podre (quem sabe, mais do que já era) se tornou a sociedade lisboeta, Eça decidiu ir comer umas queijadas com o seu irmão gémeo, que há tanto que não via: João da Ega.

Mal se encontraram, deram um vivo e caloroso shake-hands, com gentlemen que eram.

Subitamente, um jovem na flor da idade, com um cigarro a pender dos lábios ressequidos e as calças a mostrar o pano cor de rosa fluorescente das ceroulas, passa por eles e, quando vê a magnífica capa cor de leite que Eça transportava orgulhosamente, parou, e, voltando-se para o nosso amado escritor proclamou, com uma voz monstruosa (a que os adolescentes racionais chamam «voz de azeiteiro»):

- O senhor gastou dinheiro a comprar essa coisa? Podia antes tê-la sacado da net e lia-a de graça!

O jovem solta uma gargalhada medonha. Eça e Ega olharam-no, aterrorizados pela sua maneira de agir em plena sociedade e pela sua linguagem alienígena, da qual não entendiam nada.

O jovem retirou o seu smartphone do bolso das calças e, depois de deslizar o dedo nessa coisa desconhecida pelos dois irmãos, voltou a olhar para eles com um sorriso de dentes amarelos.

- Aqui têm. - ele acabou por anunciar, estendendo o estranho objeto luminoso na direção de Eça. Este, muito amedrontado, acabou por por pegar no aparelho e, depois de colocar o seu óculo de ouro numa posição favorável à leitura das letras do tamanho de células procarióticas, acabou por constatar, com horror, que aquele pequeno objeto que cabia na sua mão continha todos os anos de árduo trabalho e de imaginação ardente que foram necessários para criar a sua esplendorosa e sublime (para não falar chic a valer) obra, «Os Maias».

Ega, curioso, espreitou na direção do pequeno objeto, que o irmão olhava com tamanho espanto.

De repente, uns tremores abanaram todo o corpo de Eça e, por fim, este sucumbiu ao efeito de uma apoplexia virtual.

O Lodaçal Terminado, Reeditado E 10000 Vezes Mais Mágico!Onde histórias criam vida. Descubra agora