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O mel vai sempre bem com mostarda...
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Fez-se um clarão de luz nos olhos fechados de Eça e este estava agora encostado forçosamente a uma parede, com um par de mãos sapudinhas à volta do seu pescoço de flamingo.
- Com que então, o bastardozeco morde a mão de quem lhe deu de comer? - coaxou Dâmaso, rubro como um aneurisma brejeiro.
Eça fulminou-o, sem dizer uma palavra. O sangue escorria-lhe do nariz indignadamente e os olhos humedeciam-se de raiva.
- Responde-me, ó janota!
Uma multidão de bolso juntara-se em redor do trio e Maria José tentava salvar o ente querido do batráquio que ficava atrás dela no elevador do escritório só para lhe respirar para cima e sussurrar ordinarices. A visão de Eça afunilava-se vertiginosamente, mal conseguia ver a cara do agressor (a única ocasião em que não ser sujeitado a tal visão posa um problema, e não um alívio), mal conseguia ouvir, mal conseguia respirar, mal conseguiu dizer para si próprio "lá vou eu outra vez."
Conseguiu, no entanto, ouvir algo que parecia um elástico a rebentar em Almada, e logo de seguida os seus sentidos regressaram timidamente. Estava Dâmaso agora virado para Maria José, esta com cara de quem tinha levado uma bofa de um rapaz malcheiroso.
- Larga-me, cróia!
O epíteto foi como uma pena de fénix.
O nosso escritor não teve grande memória do que se sucedeu a seguir. Só caiu em si quando se achou na posição torcida de quem acaba de realizar um "uppercut", com dores na mão direita e o com o Dâmaso no chão, de boca virada do avesso, mas consciente. "Terei sido eu?", perguntou-se. Só podia ter sido, pois Dâmaso apresentava, no meio do quintalinho de estilhaços e fressura da boca, o distinto carimbo de um anél de curso coimbrão.
Maria José aproximou-se do estropiado, com uma aflição quase teatral:
-Oh! Meu bibixinho! O que é que te fizeram? Deixa, que eu faço-te um curativo no dói-dói!
E dito isto, enterrou a biqueira do sapato no baixo-ventre do Dâmaso com tal entusiasmo que seriam precisas noventa cirurgias para desalojar completamente as unhas dos pés dela do saco escrotal da vítima, que deu um zurro que se ouviu até à Póvoa de Varzim.
Eça enxugou o sangue do nariz (tarefa monstra) com um lenço de linho monogramado e foi reaver a sua bengala e o seu chapéu. A multidão foi-se dispersando entediadamente. Maria José virou as costas a Dâmaso.
Eça apareceu a seu lado e ela tomou-lhe o braço, olhando para ele com um sorriso afetuoso. Ele colocou o chapéu na cabeça (duh.), ligeiramente tombado para a direita, calçou as luvas de cabedal amarelo-canário que o irmão lhe emprestara (espera, se Eça saiu do hospital apenas na posse de um par de ceroulas e não se encontrou com Ega no caminho, de onde é que ele desencantou as luvas? Enfim, é o que dá não ter leitores-beta...) e dirigiu-se às escadas. A meio do caminho, estacou e disse, altivo e sem se virar:
- Só mais uma coisa, caro Dâmaso.
- Zim?
- Para si é Senhor Bastardo, entendido?

O Lodaçal Terminado, Reeditado E 10000 Vezes Mais Mágico!Onde histórias criam vida. Descubra agora