A floresta de Hosth não costuma ser povoada. Nem mesmo os bravos guerreiros de Sotren viviam ali.
Talvez fosse por causa da antiga lenda de um assustador mostro que supostamente habitava aquela floresta.
A imaginação das pessoas era cada vez mais fértil! Alguns acreditavam que o tal monstro se parecia com um dragão gigante que rondava pelas árvores à espreita de visitantes.
Outros ainda, juram que em um dia de neblina algum de seus parentes, ao passar pela floresta, vira o enorme gigante que estava sempre ao lado de uma bruxa horrenda.
De acordo com as lendas, os que sobreviviam e voltavam para casa, eram marcados por forças malignas. E tendiam a uma hora se juntar com eles para firmar seu exército.
É... As pessoas falam o que querem, mas isso não significa que seja verdade.
Moro nesta floresta dês de menino e nunca vi nada assustador além de mim, é claro.
Apesar disso não sou só eu que sou assim em nosso reino! As pessoas não teriam motivos para me temer se eu decidisse que queria ajudá-las.
O fato é que eu não queria. Ninguém do reino me estendeu a mão quando precisava. Zombaram de mim, muitos achavam que eu era uma aberração!
Se soubessem de meus poderes haveriam me matado. Tudo que fizeram de mim por um simples grau de familiaridade... Era inaceitável!
O pequeno filho da fera poderia sim ter sido mantido em cativeiro... Mas pior que o cativeiro é ser deixado à mercê da sorte e, segundo o povo, não conseguir sobreviver a essa vida!
Nem ao menos houve uma alma caridosa para mostrar piedade da pequena aberração!
Mas o tempo foi passando. Estar sozinho nesta floresta apenas me fez refletir sobre minha situação! Ao longo dos anos a raiva crescia dentro de mim, e assim como meus poderes, se tornava mais forte.
Até que tive a brilhante ideia de usar meus poderes para algo! Tornar as lendas sobre meu lar, reais.
Na época eu só queria ajudar as pessoas. Porém, depois de tudo... Creio que nunca ninguém me fará acabar com essa raiva que há dentro de mim.
O fato é, ninguém aparecia na floresta... A menos que quisesse ser vítima de um dos tais monstros.
Ninguém sabia ao certo que monstros eram, mas ninguém se mostrara disposto a descobrir a pelo menos um ano.
A não ser ela! Aquela moça tinha algo de especial. Não era como os outros que passavam por ali.
Sua pele era macia de mais para a sua idade... Seus olhos me encantaram instantaneamente!
Os pés eram tão limpos que quase pareciam nunca ter estado ali, e sim em um museu, guardados.
A visão dela correndo eufórica me deixou abismado. Não sei dizer o que senti na hora, mas não foi uma coisa normal!
Foi estranhamente sufocante para mim fazê-la desmaiar tão drasticamente com havia feito com todos... Mas eu não conhecia outra forma!
Parecia que estava tendo... Piedade dela! Piedade! Eu não devia ter piedade das pessoas. Isto era errado.
Algo que não tenho desde meu aniversário de onze anos, quando decidi que acharia alguma forma de descontar o que fizeram comigo aos seis.
Pego a garota no colo, e em vez de fazê-la acordar para assistir o show de horrores que acontecia com todas as minhas vítimas, coloco ela sobre a cama de um dos milhares de quartos do palácio abandonado.
Ele não parecia tão abandonado agora que eu, com ajuda de meus poderes, o havia transformado em um lar aconchegante.
Olho uma última vez para a moça, antes de sair do quarto e permitir que acordasse.