P.S.: Eu Te Amo (Livro 2) [H.S]

Capítulo 17

Mais dias depois...

Melanie estava rodando, de um lado pro outro. Harry na sala de fisioterapia. Ela não sabia por que estava inquieta. Resolveu que ia cozinhar; comida nunca era demais. Mas ela passou pela porta do quarto, e parou olhando, despercebida. A fisioterapeuta estava afastada de Harry, lhe dando instruções. Melanie, os olhos pálidos de choque, viu o marido segurar na barra de metal que havia na frente do espelho, e se levantar da cadeira, que a fisioterapeuta removeu. Deus, como ela perdera aquela evolução? Uma vez de pé, seguindo as instruções dela, ele dobrou as pernas. Tinha facilidade ao fazer isso. A fisioterapeuta disse algo (Os ouvidos de Melanie pareciam bloqueados, ela não ouvia), e Harry sorriu. O estomago de Melanie deu um solavanco ao ver ele se virar, soltando das barras, e caminhar até a cadeira. Não havia instabilidade, era o andar dele, ereto, opressor. Era como se nunca estivesse na cadeira de rodas. Uma vez feito o percurso, ele o refez, só que andando de costas. Melanie viu as pernas dele firmemente se movendo, os músculos operando de modo normal. Harry tinha o rosto descontraído, orgulhoso e feliz. Uma vez novamente na barra, ele se espreguiçou, elevando os braços acima da cabeça. Melanie se esquecera de quanto ele era alto. E forte. Harry viu Melanie naquele momento. Ele se espantou; ela estava branca feito cal.

Harry: Melanie? – Chamou, hesitante, dando um passo na direção dela.

E ela desmaiou.

Melanie viu flashes rápidos em sua mente: Primeiro, uma escuridão que a abafava. Depois Harry atravessando o escritório em passadas largas, apanhando-a com força pelos braços... Harry jogando tênis no piquenique da empresa... Ele indo até ela debaixo d'água, na piscina, os músculos dos braços se movendo fluidamente enquanto nadava... Harry dizendo a Liam, no hospital, pra ter coragem e dizer a ela que ele estava tetraplégico... Harry enjoando na primeira vez da cadeira de rodas... E algo ardeu em seu nariz. Era desagradável.

Harry: Ma Belle. – Chamou a voz ansiosa, baixa – Não está funcionando. – Rosnou.

Fisioterapeuta: Deixe que ela aspire mais do álcool. – E Melanie sentiu o cheiro ardido em seu nariz outra vez. Ela afastou o rosto, e Harry afastou a mão.

Harry: Ma Belle, está me ouvindo? – Perguntou, ansioso.

Melanie: Harry. – Disse, abrindo os olhos. Estava no chão, no portal do quarto, o corpo mole no chão. Harry estava agachado ao seu lado, elevando seu rosto com a mão. – Meu Deus, você está andando! – Disse, exasperada. Ele estava agachado ao seu lado, o peso dela em cima de sua coxa, e o peso dos dois sobre os pés dele.

Harry: Cristo. – Disse, suspirando, aliviado – É, eu estou.

Melanie: Isso... Isso... – Ela desmaiou de novo.

Harry: AH, PELO AMOR DE DEUS! – Disse, exasperado, segurando ela antes que seu rosto rolasse pro chão.
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Dias depois... Era noite. Melanie dormia, mas Harry estava acordado. Pensava. Se livrara da cadeira de rodas naquele dia, agora estava com um andador. O andador era só pra ele recuperar a coordenação motora. Logo não o necessitaria. Seu apartamento estava pronto. Mas doía só em pensar em abandoná-la, outra vez. Então Melanie murmurou, em seu sono.

Melanie: Não. – Disse, inquieta. Harry a olhou, os olhos verdes insondáveis. Não o que?

Melanie estava sonhando. Ela estava no hospital, em uma cama. E não sentia nada. Nada, parte nenhuma de seu corpo. Ela entrou em desespero. Samantha estava lá. Ela se queixou, assustada, e Samantha lhe falou sobre o acidente no avião. Harry entrou no quarto. Ela quase desmontou de alivio. Mas Harry abraçou Samantha pela cintura, beijando-lhe a testa. A ruiva não o reprovou, nem nada. Ela se aninhou em seu abraço. Melanie se revoltou, e ralhou com Harry. O olhar dele era piedoso. Melanie gritou, que diabos era aquilo? Samantha tentou acalmá-la. Melanie disse que não ia ficar calma, ela estava tetraplégica e Samantha estava abraçando seu marido. Então Samantha, carinhosamente, explicou que Harry não era marido de Melanie. Era marido dela.

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E você pode dizer a todos que esta é sua canção.
Pode ser bem simples, mas agora que está pronta... ♫

Harry: Ma Belle? – Chamou, preocupado.

Melanie: Não é meu marido. – Suspirou.

Harry empedrou. No sonho, Melanie estava tendo uma briga violenta com Samantha. O tom de piedade na voz da ruiva a enojava.

Melanie: Eu não... quero. – Disse, e se revirou na cama. Harry observava, quieto. No sonho, Jace, marido de Melanie, chegara no quarto. Tentava abraçá-la. – Não quero você. Não toca mais em mim. – Ela estava agoniada, em seu sono.

Harry tinha o rosto entalhado em pedra. Melanie não se lembraria do sonho na manhã seguinte, mas ele entendeu tudo errado. Aquilo bastava.

Dias depois...

Harry: Melanie? – Chamou, o rosto virado pro corredor.

Melanie: Sim? – Respondeu, a voz vindo do quarto.

Harry: Posso falar com você? – Perguntou, contornando o sofá. Estava sem o andador, o deixara no quarto. Quarto que voltara a ser de hospedes; todo o equipamento fora removido, e a cama foi levada de volta ao quarto, assim como tapetes, e todos os moveis.

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Ele ouviu Melanie se levantando e respirou fundo. Teria de ser de modo rápido e decisivo. Ela chegou na sala, um livro na mão, um dedo marcando a pagina, e uma maçã mordida na outra. Ele quase se distraiu com isso; Melanie sempre estava comendo, de uns dias pra cá.

Ela parou do outro lado do sofá, e mordeu a maçã com vontade, olhando-o.

Melanie: O que houve? – Perguntou, mastigando a fruta. Harry demorou um instante pra responder.

Harry: Eu vou sair de casa. – Avisou, a voz dura.

Melanie: Tudo bem. – Disse, após engolir o pedaço da maçã, olhando-o.

A resposta dela fora imediata. Harry buscou em seu rosto algum sinal de alivio, de alegria, com a esperança de achar relutância, mas não. Não havia nada. Ela não tinha expressão alguma no rosto, nem olhar.

Melanie: Pra onde você vai? – Perguntou, tranquila.

Harry: Eu comprei um apartamento. – Disse, com as mãos nos bolsos.

Melanie: Oh. – Disse, entendendo agora as saídas dele.

Harry: Irei hoje, no final da tarde. – Completou. Melanie ergueu as sobrancelhas brevemente, e assentiu.

Melanie: Certo. – Disse, parecendo distraída. Havia algo zumbindo na orelha dela. Devia ser a perda, ela não sabia dizer.

Harry: Você vai ficar bem? – Perguntou, observando-a. Ela sorriu brevemente.

Melanie: Eu sempre fico. – Disse, tranquila, os olhos insondáveis. – Mais alguma coisa? – Perguntou, ainda no mesmo lugar.

Harry: Não. – Melanie assentiu, e olhou a maçã em sua mão.

Melanie: Tudo bem. Boa sorte. – Desejou, e o observou por um instante. Nesse instante, só ouve o silencio. Então ela mordeu a maçã novamente, e retomou o caminho pro quarto, abrindo o livro na pagina em que parara.

Harry se sentou, passando a mão no rosto. Ela aceitara prontamente a partida dele, mas ainda assim alguma coisa dizia que isso estava violentamente errado. Ele respirou fundo, deixando a cabeça repousar no recosto do sofá. Melanie saiu aquela tarde, sem dizer onde ia. Foi até uma pracinha, perto do cais, e se sentou, esperando as horas passarem. Não suportaria ficar em casa, e vê-lo partir. Ela ficou sentada lá, se abraçando, até que a noite se tornou aberta.

Ele dissera que iria no final da tarde, e já devia passar das 8 da noite. Melanie apanhou seu carro, e voltou pra casa. A vaga do carro dele no estacionamento estava vazia. Aquilo provocou um solavanco doloroso no peito dela. Tomou o elevador, e foi pra casa. Entrou no apartamento silencioso, acendendo as luzes. Precisava ver algo, seu interior a impulsionava. Ela foi diretamente até o closet, acendendo as luzes por onde passava, e puxou a porta do lado dele do closet. Não havia nada. Ele havia levado toda e qualquer peça. Mas Melanie não tinha a necessidade de ver aquilo, ela soube que ele partira no momento que entrou em casa. O silencio solitário era evidente demais, ela convivera com ele por quatro anos. Foi ele quem lhe deu as boas novas, assim que ela chegou: Harry a havia abandonado. Novamente.