INFINITO EM UM INSTANTE - IV

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IV

Eu fui o primeiro a acordar e, ao abrir os olhos, vi somente escuridão.

—Olá?

Tentei me mover, esbarrei em alguém.

—Qual é cara, me deixa dormir?

Era Lucius.

—Lucius, acorda.

—Você já me acordou uma vez —

—É sério, acorda. Nós não estamos mais no hotel!

—Dá para as duas mocinhas pararem de falar alto, eu tô tentando dormir.

Aquela era a voz de Hector, e veio de algum da mesma escuridão.

—Nós estamos presos!

Estiquei os braços, a distância das paredes era menor do que isso. O ar começava a faltar.

—Onde nós estamos?

—Fica quieto cara, eu tava sonhando com aquela loira da novela e —

—Acorda, porra! Vocês querem morrer sem ar aqui?

Lucius bocejou.

—Que merda é essa?

—Nós estamos presos!

Eu estiquei os braços numa direção aleatória, não encontrei ninguém. Levantei a perna, desajeitado, e chutei o espaço demarcado pelo alcance de minhas mãos, atingindo o que me pareceu madeira.

—Alguém nos tira daqui! Socorro, nos tirem daqui!

—Por que essa mocinha tá... Ei, espera aí.

Só então Hector percebeu que eu falava a verdade, e a loira da novela era somente uma alucinação.

—Nós estamos presos!

—Ah, jura? Quase não percebi! Me ajuda a bater nessa coisa, ou nós vamos —

Antes de terminar as minhas palavras, a madeira à nossa frente se abriu, revelando ser uma porta, e todos nós caímos num piso azulejado de coloração cinzenta. Estávamos num armário velho, um pequeno depósito onde eram estocadas as vassouras inutilizadas, bem como outros materiais surrados e fora de uso.

Ao encontrar o chão, a primeira coisa que vi foram dois pés femininos, calçados num sapato confortável.

—Por que vocês se esconderam?

Suzan parecia estar assustada. Ela estava vestida como anteriormente, assim como nós todos, por mais que tivesse em minha mente a lembrança de tirar as roupas mais desconfortáveis para deixar o sono mais agradável. Ao seu lado, a cega rabiscava um papel com seu giz colorido e, dentre todos nós, ela parecia ser a única a não se surpreender com aquela situação toda.

—Nós não nos escondemos.

—Eu acordei aqui, sozinha. Achei a garota por sorte. Merda, onde a gente tá?

Eu olhei ao redor, estudando cada canto daquela localidade, iluminada somente por luzes de emergência. Era familiar. Demorei um tempo para me situar, mas logo tive certeza de minha afirmação.

—É o museu de Wyrestown.

—O museu?

—Exatamente. Eu tenho certeza, estamos no museu.

—Tá, claro. Nós dormimos num hotel, então acordamos num museu, eu aqui, do lado de fora, e vocês no depósito de vassouras? Agora eu entendo porque as pessoas têm se atirado de prédios!

Estranhos no EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora