[NEW] UM OUTRO MESMO LUGAR - 2

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Eu ainda estava tonto quando abri os olhos.

Minha primeira sensação foi uma ânsia descontrolada. Virei-me para um lado qualquer e vomitei, mais água do que comida. A garganta doía.

—Você está bem?

Era uma pergunta tradicional, que qualquer pessoa teria feito, mas ela me assustou. Parte por não reconhecer a voz, parte por sequer saber onde estava ou o quê tinha acontecido. Levantei o rosto com pressa, estudando pouco do lugar enquanto o fazia: parecia uma cela de prisão, trabalhada em tijolos e sem porta alguma, como uma construção feita para que ninguém pudesse entrar ou sair, o que era ainda mais estranho. Próximo de mim, uma pequena portinhola metálica, com dois palmos de extensão. A única certeza que eu tinha naquele momento era que eu não tinha entrado por ali.

—Ei, amigo, você está bem?

Aquele homem repetiu a pergunta. Eu não o conhecia. Ele era rústico, como um assassino deveria ser. Senti medo, mais pela situação do que por sua aparência. Estava vestido como um transeunte comum, de camiseta e jeans, enquanto eu ainda tinha minha jaqueta e os sapatos sociais.

—Sim, estou. Quem é você?

—Espere um pouco. Você precisa respirar. Todo mundo aqui está afobado demais.

Todo mundo?

Só então eu percebi que ele não estava sozinho. Naquela sala sem portas havia mais três pessoas: um homem que vestia roupas velhas, como um pijama, e tinha cabelos bagunçados demais; uma mulher de vestido e meia-calça, com cabelos ruivos e sardas no rosto; e uma segunda mulher, dessa vez uma magricela de fios loiros, cujos olhos já eram suficientes para provar sua personalidade mesquinha.

—O que está acontecendo aqui?

Percebi que a loira estava tão desesperada quanto eu, caminhando ao redor da sala enquanto batia nas paredes, buscando uma saída. Ela chorava.

—Eu acho que você também acordou aqui, como todos nós —o homem mais próximo a mim disse. —Sendo assim, não tem como sabermos o que está acontecendo.

Eu notei uma pequena janela no alto da cela. Ela era feita de barras de aço, como as janelas que permitem a entrada da luz nas prisões, e por ela passavam miúdos raios de sol, a única fonte de iluminação daquele local.

O homem de cabelos desarrumados notou meu interesse pela janela.

—Nós já olhamos —disse ele. —É uma rua comum. Ainda estamos em Wyrestown, provavelmente, mas não sei dizer exatamente onde. Por um acaso você tem um celular?

Bati as mãos nos bolsos, constatando que meu aparelho ainda estava lá.

—Sim. Vou tentar ligar para um amigo. Ele deve saber onde estamos, ou ao menos pode pedir para a polícia começar a procurar e —

—Não!!!

A loura gritou e então correu até mim, movendo os braços num desespero incomum. Ela agarrou o celular em minhas mãos, e eu relutei por um instante, segurando um de seus braços sem dificuldade. Ela era magricela, não se comparava à minha força, mesmo que ela fosse baixa pelo sedentarismo de sempre.

—Me dê isso!

—Você precisa se acalmar!

—Eu preciso ligar para o meu namorado!

Ela chorava, descontrolada.

—Eu vou ligar para a polícia!

—Não!

Estranhos no EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora