Quando fiz dez anos de idade decidi iniciar a maior luta de toda minha vida. Foi o momento que decidir parar de ser medroso. Como isso foi difícil. Por mais jovem e inexperiente que eu fosse admito, sem modéstia, que consegui planejar bem a coisa toda. Meu grande problema não era de ordem noturna ou sobrenatural, mas sim real, obvio e escancarado em minha frente. Eu era menor que todo mundo, mais fraco e mais mole. Isso tinha que mudar o mais rápido possível.
Depois de peregrinar por diferentes estilos e academias eu finalmente encontrei um tal de Sérgio Batarelli, um dos percussores dos eventos de artes marciais mistas no Brasil como eventos organizados. Em 1989 conheci uma de suas academias, junto de um estilo que ele criou, chamado Full Contact (esclarecimento: Full Contact era uma modalidade que englobava vários estilos marciais, ele apenas batizou seu estilo com esse nome, pois o treinamento visava a participação nesses campeonatos, muito populares na época), que não vou descrever muito, mas foi a mudança que eu precisava em minha vida. Não vou dizer que virei o Daniel San, porque ele era um viadinho e eu estava mais para integrante de uma versão da Cobra Kai sem aquele vilanismo caricato (ou qualquer tipo de vilanismo, pois aprendíamos a ser esportistas honrados).
O mais importante que aprendi ali não foi a dar porrada e sim a parar de achar que eu era feito de isopor. Aprendi a me respeitar muito mais e também não deixar os outros me diminuírem. Parei de ter medo de reagir.
Claro, a "evolução" disso foi me tornar um babaca chato que briga todo dia na escola, mas isso não é culpa do Batarelli ou do Full Contact, o "mérito" é só meu. Acontecia que em minha infância eu era um covarde que fugia ou, geralmente, paralisava e na adolescência virei um covarde que se escondia atrás da violência. Porém, como eu avisei, foi um processo de evolução, e esse tipo de coisa não acontece de um dia para o outro. Comigo demorou anos, mas foi um processo contínuo, até o dia que fiquei corajoso o bastante para fugir de uma luta (desnecessária) contra alguém mais fraco apenas porque, por mais que ele estivesse muito errado, eu podia fugir e deixar quieto. Esse foi o fim de todo esse processo, apesar que sempre evoluo um pouco mais nesse quesito. Mas para essa história, da casa da Consolação, eu precisava dar um fim. E dei.
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Noites sem sonhos & sonhos acordados
No FicciónDurante uma parte de minha vida, de minha remota infância até pouco antes dos meus trinta anos, acumulei uma boa bagagem de experiências que considero sobrenaturais. Nesse texto falarei sobre uma delas. Não é a que mais me marcou ou impressionante...