Durante as últimas semanas, na Finlândia, Lúcia procurava manter-se ocupada tanto na escola como em casa. Como o projeto estava a chegar ao fim, os convites que recebia, para jantar fora ou conhecer outras localidades, eram logo aceites. Passou a sair muito com os colegas. Em casa procurava dormir cedo porque Heikki tinha o recente hábito de passar em casa da prima depois da faculdade. As técnicas usadas para o evitar resultaram, pois ela só o viu duas vezes nas últimas semanas. É nestas duas vezes, quase que o coração saltava-lhe pela boca.
Lúcia, também, provou novos pratos tradicionais como a Kainuulain kalakeitto, um tipo de sopa de peixe, especificamente filetes de salmão, peixinho branco, lúcio ou perca; provou Kaalikääryleet, rolinhos de couve feitos com carne de porco ou de vaca picada; comeu Omeleta de cogumelos que amou e guardou a receita para experimentar em casa. Provou vários pratos e deu a provar também os seus, tanto portuguesa como africana, que para a sua surpresa, gostaram.
No dia do regresso ela não contava que Heikki fosse vê-la ao aeroporto. Ficou impressionada e derretida.
- Não esperavas não é? – Diana gozava o tempo todo no avião. – Oh! Mas, ele é um querido.
- O que ele tinha dito mesmo Lu? Kaipee... não sei, diz lá! – Insistia Teresa.
- Kaipaan sinua. – Respondeu Lúcia com voz rouca.
- O que quer dizer? – Perguntou Diana.
- Vou ter saudades tuas. – Respondeu a Teresa. – Foi a Hanna que me disse.
- Oh tão querido. – Repetiu Diana. – Nós também vamos ter saudades disto.
- Guarda bem esse papelinho que ele te deu. – Pediu Teresa. – E vê se abres a boca para responder.
- Deixa, Teresa. – Diana voltou-se para Teresa e disse baixinho: - Ela está a chorar.
Calaram-se, mudaram de assunto e deram-lhe o espaço que ela precisava.
Segunda-feira na escola, não se falava em outra
coisa a não ser a viagem. Lúcia já estava calma e contava a novidade dos locais visitados.
Na sua aula, a professora Helga colocou uma questão: - Que artigos dos Direitos Fundamentais da União europeia viram a ser violado?
Houve uma algazarra de todos a responderem ao mesmo tempo. Lúcia e mais alguns colocaram as mãos no ar.
- Diga, Lúcia.
- 'Stôra, além do artigo 21o sobre a não discriminação. – Respondeu relacionando o que Esa lhe havia dito. Teresa e Diana olharam-se, pois já sabiam do que se tratava. – Encontrei o 10o, Liberdade de
pensamento, de consciência e religião.
- Qual foi a notícia, Lúcia?
- Tentaram agredir o primeiro-ministro, Jyrki Katainen
porque não concordaram com o que ele havia dito. Isso aconteceu durante o comício de campanha para as municipais de domingo, na cidade de Turku, no oeste do país. Mas, foi descoberto a tempo por o indivíduo continha uma arma branca. Foi detido quando tentou aproximar-se dele.
- Qual o seu ponto de vista, Lúcia?
- Eu acho que o indivíduo não cumpriu a lei que na
minha opinião serve tanto para os governantes como para quem está sob governo. O senhor não gostou, deveria ter ignorado, afinal de contas todos têm a sua maneira de pensar e por mais que nos irrite devemos respeitar as opiniões das pessoas. Penso que foi um incumprimento da lei.
- O que sugeria para melhorar a situação?
- Penso que seja difícil porque nem todos conhecem a lei. Seria bom fazer com que as leis chegassem a todo o tipo de pessoas, quer por publicidades ou campanhas, não sei. Uma forma simples de entender e as consequências do incumprimento destas.
- Tens mais alguma coisa a dizer Lúcia?
- Não 'stôra.
- Alguém viu algum incumprimento da lei? – Perguntou ao resto da turma.
E assim foi passando a aula.
Foram passando semanas até mesmo meses e chegaram as férias de verão. Lúcia percebeu que estava apaixonada, pois não parava de pensar em Heikki. "Amor platónico" pensou e pôs-se a rir. Decidiu enviar-lhe uma mensagem por e-mail. Ele tinha-lhe entregue um papel com o seu contacto. No dia seguinte encontrou uma resposta a sua mensagem, "afinal não
me esqueceu". Sentiu-se feliz, apesar de saber que não valia a pena.
Resolveu cabular e colou o e-mail dele no Google translate para traduzir a mensagem. Ficou em estado de choque alegria. Correu uma lágrima do seu rosto.
O e-mail dizia:
"Querida Lúcia
Há tanto tempo! Pensei que já não me ias contactar.
Fico muito feliz por não me teres esquecido porque eu não me esqueci de ti. Esa contou-me o que te tinha dito sobre os meus pais. Está tudo bem, eles não têm nada contra ti, falei com eles. Poderiam ter pelo facto de viveres em Portugal, mas isso para mim não é
problema. Espero que não seja para ti.
Daqui a dois meses estou aí, Erasmus. Vou estudar
um ano letivo em Portugal na Universidade de Direito, último ano. Espero encontrar-te. Aguardo notícias.
Abraços ;)
De Finlândia com amor".
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De Finlândia com Amor
RandomObra criada para a disciplina de Integração em 2013 cujo o tema era dar a conhecer determinado tipo de intercâmbio escolar, o tema do meu trabalho era Comenius. Poderíamos fazer tudo, escrever uma Carta, fazer um vídeo a imaginar que estivemos em de...