No dia seguinte, sábado, os pais de Esa tinham saído, deixando-as sozinhas em casa. Visto que era filha única, não tinham preocupações, acordaram as 9:00 mas resolveram continuar na cama até as 11:00 ou mesmo 12:00. Infelizmente, ainda eram 9:30 quando alguém estragou-lhes o plano.
- Esa. – Chamou-a ouvindo o som da campainha. – ESA. – Chamou mais alto.
- Uh?
- The door.
- Uh.
- Esa?! – Insistiu
- Ah?!
- The door. – Repetiu. Mas não obteve nenhuma
resposta da parte dela. Então, voltou a deitar-se.
Quem quer que seja que estava na porta, não desistiu de tocar. "Quem pode dormir com esse toque
ensurdecedor? Só mesmo Esa" pensou para si mesma. Levantou-se, vestiu-se apressadamente e foi espreitar na olheira da porta. "Quem é esse?" Perguntou-se. Reparou que estava agora a falar ao
telemóvel. Pé ante pé, voltou para o quarto sem fazer barulho para o rapaz não perceber que estava alguém à porta. Foi tentar acordar Esa novamente, mas já a encontrou e com o telemóvel na mão.
Esa virou-se e disse: - Have opened the door?
"Não sabia que era para abrir, não iria abrir a estranhos e ainda por cima nem sei falar finlandês" pensou instantaneamente.
- No. – Respondeu.
- Is my cousin. Opening the door! – Deitou-se e
continuou – He called me on my cell.
"Melhor não falares muito porque não sou propriamente um génio a inglês" Resmungou pra si, respondeu um "ok" e foi abrir a porta.
- Hyvää pääivää. – Cumprimentou o rapaz mal abriu a porta. Lúcia retribuiu o bom dia, pois já tinha aprendido. – Ovat kuuluisia Lúcia Comenius-ohjelman? – Perguntou o rapaz com um enorme sorriso na cara. Ele perguntou se era ela a famosa Lúcia do programa Comenius.
Lúcia ficou especada a olhar para o rapaz, isso já ela não sabia responder. O rapaz parecia que continuava a espera de uma resposta e Lúcia decidiu perguntar: - Está a espera que te responda? - perguntou em português.
- Mikä? – Perguntou ele com admiração, que significa "o quê?".
- É assim, nós não nos vamos entender porque tu falas finlandês e eu português.
- Ah?! – Disse novamente o rapaz. - Did you speak english? – Perguntou.
Lúcia começou a achar piada a cena e resolveu dar a impressão de nem sequer saber falar inglês, fez isso levantando os ombros e depois baixando-os.
- Ok, Esa? – Tentou o rapaz.
- Esa? Está bem, vou chamar a tua prima. – E quando se voltou deu de caras com Esa, de braços cruzados no peito, que presenciava a cena ao fundo do corredor. – Sorry. – Pediu envergonhada.
- Ah? You speak. – Descobriu o rapaz.
Lúcia ficou com a cara quente de tão envergonhada. Olhou para o rapaz, pediu novamente desculpas e saiu dali a correr.
Heikki tinha 19 anos e andava na faculdade de Direito em Helsínquia. Apesar do pequeno incidente, gostou de conhecer Lúcia e combinou com sua prima para leva-la a conhecer mais cidades históricas. O problema era que o próprio não teria muito tempo por causa dos exames e mesmo vivendo na capital quase não tinha tempo para visitar os tios, daí ele aparecer passado um mês. Heikki confessou a primavera que no início, também estava a gozar, pois sabia que ninguém aprende uma língua em apenas um mês para desenvolver uma conversa séria, mas a brincadeira dela superou a dele.
Lúcia tinha contado isso a Diana e a Teresa que ficaram bastante entusiasmadas e que qualquer conversa que tivessem era motivo para pronunciarem o nome Heikki Nykänen.- Se eu soubesse não vos contaria. – ConfessouLúcia.
- Deixa-te disso Lúcia. – Respondeu Teresa. – Só estamos a brincar contigo. Assim até parece que gostas dele.
- Pronto, vão começar. – Resmungou Lúcia.
- Não vamos nada, Teresa cala-te. – Diana esticou os braços com o objetivo de tapar a boca de Teresa.
- Para, Diana! Não vou falar mais, além disso vem aí os nossos colegas, Diogo, Priscila, Cátia, Ana, Liliana, Rubem e Tiago.
Passaram, então, a tarde, a contar experiências que viveram durante o primeiro mês e início de segundo. Visitaram cidades históricas; conheceram mais escola, apesar de terem aulas somente em uma; trabalharam outros projetos relacionados com o meio ambiente, e sobre a cultura do país.Heikki fez um esforço para estar presente no último mês do programa que Lúcia participava e um certo dia levou-a, juntamente com seus tios e Esa, a um parque de diversão.
- Não poderás voltar para Portugal sem conhecer o parque. - Disse-lhe Heikki durante a viagem. - Pois. – Respondeu-lhe Lúcia.
- Falas pouco.
- É verdade. – Concordou Lúcia.
- Sou chato?- Perguntou.
"Não", respondeu dentro de si "eu é que não sei falar inglês fluentemente"
- Sou? – Perguntou novamente.
- Não, é que não sei falar inglês muito bem.
- Tenta. Aliás tens falado muito bem esses dias. – Elogiou-a olhando para ela a espera de uma resposta. – Eu também não sei falar muito bem, a minha língua não é essa, lembras-te?
- Finlandês
- Exatamente. Vês como sabes? Afinal até és esperta. Riram-se e começaram a falar parvoíces. Esa e seus pais entraram na conversa e foi uma viagem animada até chegar ao parque que nem sentiram muito as duas horas de viagem que fizeram. Foram a Sarkanniemi Adventure Park em Tampere.
Visitaram o aquário com golfinhos, o Planetário que ao contrário de Lisboa é um aquário, o mini Zoo e a Torre.
Apesar das inúmeras atrações, ainda conseguiu existir um momento mais admirável. Foi quando Heikki virou-se para Lúcia e perguntou se ela já se tinha apaixonado alguma vez.
- Porquê? – Perguntou admirada.
- Curiosidade.
- Não sei...Acho que sim. Coisas de crianças. – Riu-se para tentar disfarçar o nervosismo. "Que pergunta estranha", pensou.
- Eu nunca. – Disse Heikki.
- Ah. Está bem. – "Mas o que eu tenho a ver com isso" questionou-se.
- Estranho, não? – Perguntou Heikki.
- Não sei...Ah... Talvez. – Tentou responder "Estranha é a pergunta, mas está bem".
- Não é por ser feio, é que não aconteceu mesmo. Não ligava para isso. – Continuou após algum silêncio.
"Feio?" Perguntou-se Lúcia "Então ele é louco, quem dera que todos os feios fossem assim". Começou a rir- se antes de responder: - Quem foi que te disse que és feio?
- Não sou?
- Claro que não. Porque pensas assim?
- Não penso assim, arranjei foi uma forma de saber a tua opinião a meu respeito. Sou bonito, eu sei.
"Convencido", pensou.
- E o teu silêncio revela que me achas convencido. – Começou a rir-se.
"Boa intuição" pensou, mas não sabia dize-lo em inglês, portanto disse apenas: - É isso mesmo.
- Nunca me tinha apaixonado... – Voltou a tocar no assunto anterior. Esperou que ela olhasse para ele e quando isso aconteceu continuou - ... até conhecer-te.
"Ok, agora é que ele enlouqueceu", lúcia não conseguia reformular palavras para responder-lhe e
ficaram por volta de dois minutos a olharem um para o outro.
- Não queria atrapalhar, mas... a minha mãe... os meus pais esperam-nos para almoçar. – Disse Esa que ao se aproximar percebia o que se passava.
- Sim, vamos. – Lúcia apressou-se, deixando-os para trás.
Esa também não podia deixar de a informar que era melhor não pensar no seu primo, porque além de viverem em países diferentes, os pais não iriam gostar da ideia.
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De Finlândia com Amor
De TodoObra criada para a disciplina de Integração em 2013 cujo o tema era dar a conhecer determinado tipo de intercâmbio escolar, o tema do meu trabalho era Comenius. Poderíamos fazer tudo, escrever uma Carta, fazer um vídeo a imaginar que estivemos em de...