I Surpresas e mudanças

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Encostada no muro da parte traseira da escola, Lúcia pensava na conversa que teve com sua mãe na noite anterior. Esta queria que a filha seguisse medicina, mas a própria queria enveredar por outro caminho.
No meio de três irmãos era a mais velha, o que fazia com que recaísse sobre ela certo grau de responsabilidade. A mãe trabalhava a tempo inteiro, quase não tinha tempo para si mesma, esforçando-se ao máximo para providenciar alimentação, roupa e tudo o que fosse necessário para o sustento de seus filhos.
O pai de Lúcia tinha saído de casa há quase 6 anos e arranjado outra família, abandonando os quatro filhos e mulher.
Apesar de tudo, Lúcia era uma jovem muito querida por todos. Na escola, tanto os professores como os
colegas gostavam dela por ser muito prestativa e empenhada. O problema era que Lúcia, por não ter tempo de estudar por cuidar dos irmãos na ausência da mãe, não só não tinha média, como também, não era o
curso que desejava tirar.

Ainda encostada, Lúcia apreciava a agitação que aumentava no intervalo da Escola Secundária Magestil.
Desta vez não se encontrava com os seus colegas, necessitava de espaço para pensar no que fazer para melhorar as suas notas, tinha chegado já ao último ano do ensino secundário e percebeu que nada tinha feito para ter uma boa média a fim de entrar para a faculdade. Habituou-se a ir para os testes sem estudar porque tinha uma boa capacidade de concentração nas aulas, o que fazia com que ela tirasse boas notas, apesar de ter muito trabalho em casa. Porém, boas notas não eram o suficiente, para a área que a sua mãe queria que ela seguisse, eram necessárias notas altas.
Era preciso ter média de 18,2 valores e tinha apenas 16,7. Um pouco de esforço era suficiente mas não tardiamente. "Lamento desiludir-te mãe" pensou ela "mas, terei de enveredar por outro caminho e seguir enfermagem".
- Vida de pobre. – Desabafou em voz alta.
- Se fizesses um esforço para enriquecer seria muito bom, não achas? – Interrompeu Diana, uma colega que se havia aproximado sem ela se ter apercebido. E continuou – O que tens Lu? – Era assim que a chamavam.

- Não tenho nada, estava apenas a pensar. – Respondeu ela.
- Nisso já eu tinha reparado, mas porque estás longe do pessoal?
- Não sei, Diana, apeteceu-me. – Respondeu amargamente.
- Pronto, já percebi. Não queres falar, não fales. – Respondeu.
Resolveu sentar-se ao lado dela sem atrapalhar os seus pensamentos. Ambas apreciavam o movimento dos alunos no pátio da escola e não se aperceberam de que a movimentação já havia diminuído, isto é, já estavam no horário de aulas. Subitamente, Diana lembrou-se de perguntar a Lúcia algo de que não a deixava muito à vontade.
– Então Lu, já sabes o que vais fazer da vida? – Olhou-a à espera de uma resposta e recebeu em troca
um olhar desesperado da parte de Lúcia. – Então que se passa?
- O pior é que eu também não sei o que fazer, querida. É isso que me aflige. – Respondeu com um ar
abatido.
- Então, miúda, que cara é essa? Parece que morreu alguém.
Nem sei o que seria melhor, se viver ou morrer. –
Respondeu e riu-se para tentar disfarçar a seriedade do
assunto.
- Ai, Lúcia, não digas essas coisas horríveis. Fogo...
vou para a aula, melhor do que ficar aqui envolta do teu
pessimismo.
Levantou-se, pegou na sua mochila e pôs-se a
caminho da aula de Biologia. Lúcia ria-se
desalmadamente e, deixada para trás, resolveu correr
para acompanhar a colega até à sala.
Depois da aula, foram almoçar como era costume à
segunda-feira para depois iniciarem as aulas da parte
de tarde.
Após as aulas terminarem, Lúcia correu
apressadamente para casa a fim de fazer o jantar para
poder servir aos seus irmãos que chegavam
praticamente todos juntos da escola. Rafael, de catorze
anos, por vezes não chegava tão cedo a casa pois ia
jogar à bola com os seus colegas, enquanto que
Sandra, que tinha 13 anos, ia para casa com o seu
irmão mais novo. Após servir o jantar e arrumar a
cozinha, tentou pegar no livro para estudar, mas não
conseguiu. Estava cansada e cheia de sono, resolveu
deixar-se levar pelo cansaço e foi dormir.

De Finlândia com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora