Que A Verdade Seja Dita 6:2

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Suas mãos tremulas tentavam de todo o modo estancar o sangramento em seu corpo, sem mesmo perceber o que realmente estava acontecendo, sem perceber que aquele era o seu fim.

"-Filho o que você fez?! ele é o...

-Meu pai? o meu amado pai? não fode, esse cara não é o meu pai.

-Quando você começou a falar assim? quem você acha que esta respondendo?!

-Você, tem mais alguém aqui? é engraçado não é?

-Como?

-Um garoto de 9 anos, começar a responder sua mãe, e ter matado o próprio pai a sangue frio, não parece historia de cinema?

Aquela pobre mulher não estava mais na frente de seu filho, muito menos de algo que já foi ele, finalmente ele havia aceitado aquele caminho, mostrando a todos o seu verdadeiro ser.

-Mike...Por que?

-Simples, eu te odeio, melhor, eu odeio todo mundo, a minha vó, o meu avô, todos deveriam ir logo para a puta que pariu.

-Você nem se parece com alguém normal, eu só queria um filho normal.

-O seu desejo acaba de ser recusado, sua trouxa.

Ele tira a caneta do cranio morto do pai e caminha lentamente na direção da sua mãe, não estava pensando e não estava escondendo nada, cada vez mais ele sentia prazer ao ouvir os gritos que aquela mulher dava, cada vez mais ele adorava as inúteis tentativas de fuga, por acaso ela havia esquecido como destrancar uma porta?

-Saia de perto de mim!

-Calma, eu irei te silenciar, só ira doer...um pouquinho.

-Monstro!

Aquelas palavras doeram, o machucaram profundamente, ainda existia uma criança que amava sua mãe dentro dele, mas não havia mais volta, eles o criaram como monstro, nunca o deixaram brincar com alguém, e quando ele bagunçava, era espancado pelo pai embriagado e acorrentado pela própria mãe que sempre dizia " você é especial monstrinho, se continuar vivo, vai nos machucar", ele já não podia contar as vezes que eles o tentaram afogar, estrangular, o cortaram, amarraram suas partes intimas e as apertavam continuamente, eles não sabiam a dor daquilo? ainda mais quando isso é feito pelo os seus próprios pais.

-Por Favor, me poupe.

-Lhe poupar? como eu poderia poupar você? sempre que saia de casa, voltava com outro homem, as vezes trazia mulheres, até mesmo crianças, me obrigava a fazer isso e aquilo... e agora quer que eu te poupe?

-Eu faço tudo o que você quiser, mas me poupe.

Ele hesitou ao ouvir aquelas palavras, no fundo ele se perguntava se queria mesmo fazer aquilo, uma coisa que poderia marca-lo por toda a sua vida, uma coisa que poderia enviar para o caminho que ele não queria andar.

-Ajoelhe-se.

-O que?

-Fique de joelhos e me reverencie.

Um brilho vermelho surgia nos olhos do garotinho que jazia a frente daquela mulher, brilhando lá no fundo, era possível ver um sorriso distorcido e aniquilador, a mulher querendo poupar sua própria vida, faz exatamente o que ele pediu, como uma escrava, cuja o dono estava extremamento furioso.

-A partir de hoje, você fara exatamente tudo o que eu pedir, e nem tente me matar eu estiver dormindo, eu aprendi a dormir de olhos abertos depois que você me enforcou enquanto eu dormia.

-Mas...

-Amanhã, você ira trazer um homem rico para cá, venderá o seu corpo, e me dará o dinheiro que receber, faça isso, e terá comida por um dia, não tente me enganar, sou ótimo em matemática graças a você, eu agradeço pelo o dia em que você me obrigou a contar o tempo em que eu ficaria sem comida ou água, isso me ensinou muito.

O olhar do garoto não era mais o de uma criança inocente,  era o olhar de um psicopata, que tinha acabado de matar alguém, e gostado disso, e como ele havia dito, os dias se passaram, ele tinha em torno de duas fartas refeições, enquanto sua mãe que vivia acorrentada, só liberada para sair, tinha 2 pães e um copo de cheio até a metade, ele não podia ir ao banheiro, só para tomar banho e se arrumar antes de trazer outro homem ou mulher para aquela mesma casa, não importando a idade, e assim foi por muito tempo"

-O que foi Mike?

-então eu vou morrer mesmo, já até estou vendo flashs da minha vida.

-Normal, algum arrependimento?

Uma lagrima escorreu pelo rosto do Mike, enquanto um sorriso amargurado se erguia em seu rosto.

-Sim...acabei descobrindo que eu sou um monstro.

-Desde sempre, só agora que você notou?

Normalmente, Mike o teria acertado por causa do insulto, mas agora concordava, ele finalmente havia percebido que de todas as vezes que ele tinha exagerado, aquela foi a pior de todas.

-Nossa, o Mike aceitou esse insulto? logo ele?

-Ele não parece ser tudo aquilo que você me disse verônica, estou um pouco desapontado com isso.

-Eu pensei que ele fosse um lobo-solitário, mas no fim é só mais um vira-lata que anda com um bando de cachorros, sem eles, ele não é nada.

O sorriso no rosto dele aos poucos cessava, enquanto ele observava o céu nublado, ele se entristecia com o que estava acontecendo, finalmente estava morrendo, e parece que não poderia ver seus filhos crescerem, ou dizer algumas palavras para a Lucy, nem ao menos poderia criar uma família com a Larissa, essa era a sensação de ter o seu mundo desabando?

-Todos ao seu redor morrem Mike, você e eu somos iguais, essa é a lei que você impôs a si mesmo, agora, arque com as consequências.

-Errou...De novo...Lazarus...

A voz estava tão baixa e fraca, parecia que ele estava se arrastando para dizer aquilo, como se aquilo fosse tudo o que ele precisava, suas ultimas porem belas palavras.

-Não Somos...Iguais...Eu...Consegui...Uma coisa...que você não conseguiu...

Se engasgando com o próprio sangue, ele deu um ultimo sorriso antes de terminar a frase.

-Eu sei...O seu verdadeiro Nome... O meriteris... nem mesmo existe...Não é mesmo...Alexander?

Alexander, talvez muitos nem mesmo lembrem do que realmente aconteceu na terra, e o porque dos humanos serem exilados, mas Mike recebeu uma visita certo dia, de um senhor que  lhe pediu para continuar sua criação, o mesmo senhor, lhe deu um chip com algo a mais, algo diferente, Larissa era especial, e no fundo do seu banco de dados, havia um arquivo chamado...

-Então você soube? desde quando?

-Eu recebi...a visita... do seu...Avô... ele foi exilado...junto dos humanos... e sobreviveu por anos...com adaptações...robóticas...ele me...contou tudo... na forma... de uma... alegre e amável...Robô sorridente...

Seu ultimo suspiro foi gastado com aquelas palavras, e ele por incrível que pareça, pode morrer com um sorriso, mas não um sorriso que ele costumava mostrar, mas sim um verdadeiro sorriso.


Segunda Face.Where stories live. Discover now