Capítulo 2 - Incertum ⓘ

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Ele era o meu reflexo, seus olhos eram de uma imensidão negra e parecia que ele se divertia com tudo o que estava acontecendo então ele sorriu e me olhou com desdém.

- Porque não se levanta Diego?

Ele movimentou a mão de baixo para cima em um movimento circular e no mesmo instante meu corpo saiu do chão e se pôs de pé. Ele sorriu novamente e indicou para mim uma enorme mesa que antes não estava ali. Ela estava repleta de comida em abundancia. Ele caminhou e se sentou na extremidade e indicou a cadeira que estava próximo a mim na outra extremidade.

- Sente-se. – disse ele cordialmente.

Sentei-me e olhei para aquela mesa e olhei para ele, ele sorriu e antes eu pudesse falar algo ele começou.

- Sei que deve ter muitas perguntas. Começando pelo o que eu sou. Mas garanto-lhe que não sou uma copia, ou como é conhecido popularmente no plano humano de doppelganger. Ao contrario sou tão real quanto você, e sim sou você, mas uma parte da sua mente que você não esta ciente que existe assim como o que você é de verdade. Mas agora comece, escolha a pergunta menos obvia possível, porque afinal de contas temos um jantar para desfrutar e nem todas as perguntas serão respondidas. E ainda teremos o seu teste final.

- Teste final?

- Sim, você não acha que vai poder voltar para o plano humano sem antes passar por tal processo acha?

- Eu vou voltar? E que historia é essa de plano humano? Onde estou?

- Diego – a mesa instantaneamente ficou reduzida a uma mesa redonda para duas pessoas, a luz era feita por duas velas, uma branca e uma negra. A negra parecia esta mais intacta do que a branca que deixava a cera escorrer por sua extensão. – Você esta no que eu chamo de Incertum uma zona para onde nos vamos. E essa é claro não é a primeira vez que você ou eu estamos aqui. Essa zona fica localizada entre os planos humano e espiritual, ao contrario do que todos pensam nem todas as criaturas do plano espiritual ou seres sobrenaturais advêm de lá. Nos somos uma espécie especial de ser místico, somos fortes, mas ainda somos subjugados por outros que estão bem trancados em zonas como essa, que funcionam como prisões ou o túnel que pode levá-lo a vida ou o retorno de sua energia a fonte.

- O que nos somos?

Ele deu um breve sorriso.

- Nos não existimos separados meu caro, compreenda isso. Eu sou um reflexo da sua mente, meus poderes advêm dos seus. Se você morrer eu não existo. Eu sou você, seu lado mágico trancafiado em um canto da mente por sua ultima encarnação.

- Porque foi trancado?

- Você não pode morrer Diego a não ser que tire a sua própria existência, mas isso não garante que você realmente desapareça. E você esta ligando a algo importante, não poderíamos nos dar ao luxo de que morresse. Por isso foi feito o que chamamos de...

- Dybbuk Divisio. – completei a frase.

- Isso. Agora a parte interessante. Você sabe o que significa ser um Dybbuk Divisio?

- Não.

Ele riu.

- Na verdade você sabe só não associou isso ainda. Como você chegou aqui?

- Eu morri. Mas...

- Mas, como você voltou?

- Eu não sei.

- Tem certeza disso Diego? Se concentre.

Então fechei os meus olhos e mentalizei na ultima memória que eu tinha.

Meus olhos se abriram devagar enquanto Lana se postou ao meu lado dele e me olhou nos olhos.

- Esta tudo bem? – perguntou ela preocupada.

- Sim... – disse fracamente.

- Esta sentindo alguma coisa?

- Não...

- Ótimo. A morfina fez efeito. Vamos começar.

Então seguro sua mão com força e urgência.

- Salve-a. – disse em meio a um sorriso fraco para Lana.

Minha barriga se movimentava de forma urgente, como se algo estivesse sufocando Violet e ela lutasse para se manter viva. Eu podia sentir seus pezinhos chutando a minha barriga em desespero, ela sabia que precisava sair para sobreviver.

- Eric...

Ele se aproximou de mim e eu segurei sua mão.

- Tudo vai ficar bem. Vocês vão ficar bem.

Ri levemente.

- Prometa que vai cuidar dela. E que vai ama-la. – falei enquanto as lagrimas transbordavam meus olhos.

Eu sabia que eu teria que morrer para que Violet sobrevivesse, por mais que Lana não quisesse falar eu sabia que no final teriam que tomar uma decisão e esta teria que ser a minha, teria que ser Violet e não eu.

- Você não vai a lugar algum. Não vou te perder. – Eric tentava falar calmamente.

- Me prometa, por favor. – supliquei em meio a lagrimas.

- Eu... Eu... Prometo.

Sorri enquanto o bisturi abria minha barriga e Lana retirava Violet de dentro de meu ventre. Manteve-me sorrindo ate ouvir o choro de Violet. Ela havia nascido. Lana a coloca do meu lado. Em uma tentativa fraca de segurá-la eu não consegue movimentar sua mão, Eric pega meu braço e o coloca sobre nossa filha. Dou um sorriso fraco e beijo a sua testa.

- Eu te amo Violet. Eu te amo.

Então uma lagrima desce pelo meu olho que se fecha.

Mas então algo estranho acontece, um chiado como uma teve que fica fora de sinal e do nada as cores voltam a minha visão.

- Surge malum dormiens. Sed exsurge. Ad hoc in omni virtute et gloria.

Vejo o fogo formar linhas que se interligavam a cada circulo que se ligava ao circulo central onde estava. Não isso não pode ser. Aquele é o meu corpo. Então as chamas viraram labaredas altas ate que uma fumaça negra emanou do meu corpo.

Marcos olha para a Ravena.

- Ad hoc in omni virtute et gloria. – repetiam com mais vigor.

Ate que as chamas antes alaranjadas começaram a ficar negras e se espalhavam pelas linhas dos triângulos. Clarice foi a primeira a ser atingida. Seus olhos ficaram negros ela sorriu, o mesmo aconteceu com tia Eliza ate que quando chegou a mim apenas deixou que seus olhos verdadeiros aparecessem.

Negros.

E eles eram tão sombrios quanto à fumaça que emanava do meu corpo. Então nós três pegamos as adagas que carregávamos por debaixo da roupa e repetimos ao mesmo tempo em que Ravena e Marcos entoávam o feitiço de forma espectral.

- Ad hoc in omni virtute et gloria.

E por um breve instante eu me ouvi e logo em seguida cortei meu pescoço.

Então tudo se desfez, ele estava na minha frente comendo um pedaço de bife suculento e me olhou com um sorriso.

- O que foi isso?

- Você teve acesso as suas ultimas lembranças.

- Violet e depois...

- E depois...

- Lucius.

- Entendeu?

- Isso não pode ser!

Ele riu.

- Ah claro que pode. – disse ele me olhando com os olhos negros e bebendo uma taça do que parecia ser vinho.

- Eu sou Lucius. - E tudo começava a fazer sentindo na minha mente.

Darkness of Soul | Livro III | Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora