Abri o pacote e imediatamente senti o aroma da maré. Haviam escamas, umas quinze, brilhantes e coloridas. Tinham um tom meio transparente, com esfumado verde e rosa, era impressionante. Iria pergunta-lo onde arrumara isso, mas Gabriel já tinha desaparecido na neblina.
Coloquei elas dentro de um pote e as guardei no meu armário de madeira rústica.
Na manhã seguinte, vesti minhas calças jeans claras e a camisa da escola salmão. Calcei os all-stars brancos (super) sujos e coloquei a mochila nos ombros. Tinha um chaveiro dourado de concha, presente da minha melhor amiga Mei.
Desci correndo até a praia, tirei os tênis e molhei meus pés na água. Quando fiz, ouvi borbulhar algo em minha frente. Uma mulher, negra, com cabelos crespos, olhos mortos e rosto tristonho apareceu. Estava nua. Haviam machucados pelo seu pescoço e, quando dirigi meu olhar para baixo, vi algo que não pude acreditar. Bem abaixo de seu umbigo, haviam escamas brilhantes púrpuras.
-Venha visitar-me mais tarde. -balbuciou a mulher.
Não tive coragem de responder, eu estava espantada, mas porém feliz. Só me afastei lentamente e corri para a areia. Agarrei meu tênis e subi na bicicleta o colocando na cesta da frente.
Era muito para mim. O que estava acontecendo? O que diabos estava acontecendo? Mesmo que isso não seja comum em mim, tentei achar uma explicação plausível. Eu alucinei. Meu sorriso entregava o quanto eu estava maravilhada. Com o vento em meu rosto, sorria que nem abestalhada. Era bom de mais para ser verdade, mas era ridículo de mais também. Sereias? Eu estava louca?
Na porta da escola, calcei meus tênis e subi as intermináveis escadarias da escola. Entrei na minha nova sala, a quatorze, e me deparei com Mei.
Ela era uma asiática que veio para o Brasil aos três anos, de cabelos pretos curtinhos na nuca e pele rosada. Quando cheguei na sala de aula, Luíza Albuquerque estava sentada no fundo da sala testando batons escuros e presilhas de cabelo com suas demais amigas espinhentas, Ana e Heloísa. Não demorou muito tempo até que Mei se jogou em cima de mim, abraçando-me, enquanto Chiara, a minha outra melhor amiga, irmã de Gabriel, negra de pele aveludada e cabelos cacheadíssimos (maravilhosos eu diria), observava tudo dando risadas.
-O que fez nas férias? -Mei me perguntou animada.
-É o que eu te pergunto. Como é Tóquio? -Respondi.
-Não era primavera…-Mei respondeu decepcionada.
Chiara olhou para os lados de forma estranha. Parecia que ela iria vomitar. Se sentou em cima da mesa e começou a soluçar.
-O que foi?- Eu e Mei perguntamos em coro.
-Comi uma coisa estragada ontem. Não se preocupem. -Ela hesitou um pouco para falar, mas soltou sua resposta parecendo que tinha elaborado na hora.
A professora chegou. Eu não a conhecia, nunca tinha ouvido nem falar. Uma ruiva de cabelos cacheados esvoaçantes, de óculos vermelho com roupas de cores chamativas até de mais. Sem falar no salto agulha amarelo que usava.
-Bom dia, nono. Eu sou Fernanda. A nova professora de matemática de vocês. -a voz era tão fina e alta, que doía os ouvidos. Não demorou muito para ela colocar os olhos em mim, e apontou com sua mão esquelética de unhas enormes violetas- quero que fale seu nome.
-Elisa de Castro. -Respondi.
Eu não havia reparado, mas havia dois garotos novos, um loirinho de olhos azuis que pareciam cinzas ao lado da minha carteira, e um bem alto bronzeado, com óculos redondos e dentes grandes atrás da minha carteira. E o que não tinha reparado também, é que Gabriel ainda não tinha chegado. O que era super estranho, já que Chiara estava lá e ele nunca faltava. E o pior é que ela também estava estranha, olhando para um lado e para outro, soluçando baixo.
-Bom dia Elisa.- A professora Fernanda deu um sorriso, mostrando seus dentes amarelados. -E você? -apontou para o novato ao meu lado. Que não tirava os olhos de mim.
-Rafael. Rafael Vasconcelos.-Ele tinha uma voz grossa e aveludada. Acho que assim era a voz do meu pai. Não sabia ao certo.
A professora continuou com toda a turma, e descobri que o outro novato se chamava Pedro.
Rafael estava me bservando. Quando o olhava não era embaraçoso nem nada, era bem estranho. Ele usava um casaco jeans no estilo anos 90, e tinha o cabelo todo bagunçado. Bonito, se esperava que eu dissesse isso.
Professora Fernanda ia abrindo sua pasta, quando a porta da sala se abriu com um estrondo.
Gabriel entrou, com o seu cabelo cacheado castanho bagunçado, e sua jaqueta de couro na cintura. Atrás dele estava a garota que me deixou boquiaberta.
Era Nerissa. Com seus cabelos negros presos perto da nuca seguindo até um pouco abaixo a cintura. Ela estava ainda mais bonita, com os seus olhos verde-água e cílios longos destacando seu olhar angelical. Vestia uma calça jeans um pouco justa, que fora dobrada por ela até a sua canela. Suas sardas estavam mais aparentes, e ela suspirava de cansaço, por provavelmente ter corrido até a sala, que ficava no quarto andar, depressa de mais nas longas escadarias da escola.
Mas por que entrava com Gabriel?
-Desculpe, professora- Se desculpou Gabriel, que arrumava seus materiais em cima da mesa bem rápido.
-Seu nome. -Fernanda disse com um sorriso despreocupado.
-Gabriel, professora.
E seguidamente, Nerissa também a respondeu.
-Laura.
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Nerissa
FantasyO tornado começa quando Elisa, uma pintora prodígio que está na oitava série, conhece uma bela e enigmática garota de cabelos mais negros que a noite. Ao lado dela, descobre segredos sobre si e encontra a sua verdadeira identidade que sempre esteve...