6- Ela me leva para os portões do meu abismo

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  Me vi então de olhos fechados. A água fria queimando minha pele e o sal da água fazendo minha ferida arder como nunca. Eu não tinha idéia da profundidade que estávamos, mas sabia que era fundo o bastante para encontrarmos detritos de pequenos barcos naufragados.
  Eu ouvia a passagem de bolhas, indicando a velocidade que ela me levava. Meus pés já deveriam estar roxos de frio, por mais que a praia daqui seja um forno. Estava frio. Com ela estava frio. Suas mãos gélidas me tocavam como fogo, me levando talvez para a morte.
   Senti que tinha que abrir os olhos. De uma vez, sem pensar no que eu poderia ver. Minha respiração não estava afetada, pelo contrário, era como se estivéssemos ainda na superfície. O medo de enxergar a minha nova realidade me fazia uma covarde. Eu sabia que a partir do momento que eu levantasse minhas pálpebras, nada voltaria a ser como antes. Era como se Nerissa me levasse para os portões do inferno.
  De repente, comecei a ouvir movimentações ma água. Eram lentas, mas me deram pavor. Como se peixes abissais estivessem ao nosso redor. E logo, comecei a ouvir um canto. O canto era tão perfeito com o timbre de minha mãe.  Era rouco, como um cochicho.
  Senti Nerissa largar meu pulso. Eu estava solta no fundo do mar. Eu sabia que não me afogaria, mas aquilo podia fazer minha sanidade ir por água abaixo.
  Mãos frias como gelo então tocaram minhas bochechas. Eram macias, mas eram muito grandes para serem de Nerissa. Então, as senti tocando minha pálpebras. E com um leve movimento, abrirem meu olhos.

NerissaOnde histórias criam vida. Descubra agora