Capitulo 4 - Aquele dia

350 31 4
                                    

Em 2014, último dia de aula

Conversava com meus amigos e não vi quando Patrick encerrou sua conversa com a cozinheira. Eu o tinha perdido de vista.

— Gente, vamo lá no canto da suruba — nome dado ao lugar afastado dentro da escola onde costumávamos ficar — Lorena se levantou do banco de concreto.

— Mas e se o diretor iniciar a palestra agora? — Eu perguntei, nem um pouco afim de abandonar minha procura pelo Patrick.

— Luís, dá pra ouvir de lá — me respondeu.

— Ah, tem razão.

— Mas que baixo astral! O que foi, heim? — Ela me cutucou. — É o último dia. Vamo nos animar.

— Vamos sair daqui mesmo. Tá muito lotado — Rayssa disse.

Fomos e sentamos na pedra, próxima ao motor de água da escola, este que já quebramos umas duas vezes, com nossas brincadeiras bobas. Aquele lugar costumava ser radiante nas tardes anteriores. Rayssa ria das piadas que eu fazia com Lorena e Gonçalo e soltava as piadas dela. Lorena falava sobre sexo, como se tivesse algum conhecimento disso. Eu e Matheus brincávamos de luta. Lorena, explosiva o tempo todo, falava sobre as coisas que a deixavam brava — e nós riamos das confusões nos seus relatos. Como era a mais velha, sempre tinha coisas para contar. Gonçalo, com um violão, vez ou outra tocava música boa que nos fazia cantar em coro. Mas naquele dia foi diferente. Estava cada um no seu próprio mundo. Talvez fosse por conta da despedida.

Gonçalo tinha saído. Só estava eu, Matheus, Rayssa e Lorena.

— O que tá ouvindo no fone, Matheus? — Lorena perguntou-o.

— Uma música nova que baixei ontem. Muito viciante.

— Hum, legal. Mas ficar no fone de ouvido no nosso último dia juntos não é legal. Vamos conversar, gente. Aff, se animem, Luís e Matheus! Rayssa, o que você vendo nesse celular?

— Tô respondendo uma mensagem — Rayssa disse, sem tirar os olhos do celular.

— Uma? Se é só uma mensagem, por quê continua teclando? — Lorena perguntou, intimidando.

— Porque vem chegando de uma em uma — Rayssa respondeu.

— Dá um tempo. É o último dia de aula. Quantas vezes eu preciso falar isso?

Lorena ia e vinha dando voltas. Nunca tinha a visto tão agitada. Eu e Matheus começamos a conversar sobre a música nova que ele disse ter ouvido. Não era nova, era de 2009, mas eu não o disse nada.

Rayssa teclava no celular mais rápido ainda, com sua testa enrugada e sobrancelhas franzidas. 

— Cadê o Gonçalo, gente? Mas que... Aff — Lorena resmungou.

Ao terminar a frase, via-se Gonçalo vindo. Trazia um violão.

— Ai, não — Lorena pôs a mão na testa.

Gonçalo sentou, tirou os sapatos e se escorou na parede:

— E ai, galera.
E foi logo na direção das cordas do instrumento, começando a dedilhar alguns sons.

— Gonçalo, hoje não — Lorena disse soletrando.

— Por quê? — Ele parou com o som.

— Porque você passou todo esse tempo tocando músicas do Renato Russo e ninguém aqui aguenta mais. Nem eu que amo MPB aguento mais.

— Eu gostava um pouco — eu disse, mas fui ignorado.

— Você ama MPB desde quando? — Ele a perguntou.

Se cuida, LuísOnde histórias criam vida. Descubra agora