Capítulo 6 - A visita

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Em 2012

Eu não poderia ir visitá-lo naquele dia e só soube disso após termos saído da escola, por conta de uma ligação da minha mãe me dizendo que meu dever seria estar em casa cedo, pois Edilson estava fazendo bicos de segurança noturno e eu que faria sua janta, já que nunca havia um horário certo para que minha mãe retornasse à casa.

Edilson se incomodava quando eu saía. O ódio na nossa relação era fiel e de ambas as partes, mas o fato de eu passar muito tempo fora o deixava zangado, coisa que acontecia nas minhas fugas temporárias, quando me sentia péssimo por morar ali e fazer parte daquela "família". Foi só na sexta que pude visitar Patrick. Antes disso, precisei ser o empregado de Edilson.

Na terça, Patrick me perguntou a razão de eu não poder tê-lo visitado e tive que mentir, por achar vergonhosa a verdadeira causa. Sentia que não poderia dizer "hoje não posso, porque tenho que fazer a janta do meu padrasto nojento" sem me sentir péssimo com isso. Na quarta, ele voltou a me convidar, como se realmente quisesse minha presença em sua casa e eu o disse que talvez iria na quinta-feira.

Na quinta, ele faltou. Foi a aula de Rejane Menezes e eu não conseguia olhar para ela normalmente. A ficha não tinha caído. Ela era a mãe dele, a mãe do Patrick. Ela estava lá, agindo grossa e seca com todo mundo, como de costume, humilhando qualquer um que agisse de forma humana. A aula acabou tarde e Patrick estava lá fora me esperando, decidi ainda não perguntar nada sobre aquilo tudo que me abalava ou perguntar qual a razão de ele ter faltado. — E aí, está pronto? — ele me perguntou.

— Mais que pronto, senhor. Vamos lá.

Fomos andando. A casa de Patrick era longe da escola. Todos os dias, ele fazia o mesmo percurso a pé. Eu perguntei o porquê e ele disse apenas que gostava de caminhar. Depois de um bom tempo de caminhada, chegamos a um lugar afastado da vida caótica urbana. Era uma vila cheia de plantas e flores. Haviam algumas residências e o lugar todo tinha um cheiro bem agradável. O Patrick bateu na porta de madeira de uma casa duplex, com tamanho razoável e textura exterior de um azul profundo. Antes, tivemos que passar por uma estradinha de pedras. Aquilo tudo não parecia nem um pouco com o ambiente que eu costumava ver todos os dias. Não tinha sujeira ou bagunça. Ouvia-se pássaros cantando e eu sentia uma sensação de tranquilidade.

— Meu Deus do céu — e soltei, vendo tudo com minha visão periférica.

— O que foi? — Patrick me perguntou.

— Ah, nada.

Um homem abriu a porta e nos atendeu. Era o pai de Patrick. Ele tinha alguns cabelos brancos e barba. "Será que ele vai ser barbudo assim? ", pensei enquanto comparava os dois. O homem usava óculos arredondados e uma camisa quadriculada.

Quanto a casa, e seu interior, era bem rústica. Parecia que eu estava dentro de filme francês.

— Boa tarde, garotos — ele disse sorrindo. Eu e ele demos um aperto de mão suave. O seu sorriso parecia com o do Patrick.

O homem chamava o Patrick de Pat, às vezes. Era fofo e engraçado. Eles se abraçavam, faziam piadas internas um com o outro. Parecia haver uma intimidade e conexão incrível entre os dois.

Eu gostaria de ter aquilo com a minha mãe, mas ela era muito ocupada para ter tempo para mim. Sustentava a casa com seu trabalho e eu procurava entender isso, por mais que doesse.

— Posso te chamar de Pat também? — Cochichei para Patrick.

— Claro que pode.

Por um momento, pensei que ele responderia "não". Mas me lembrei que era o Patrick, o que não se importava com nada. Era assim que ele agia. Eu não o chamaria de Pat, só queria testá-lo.

Se cuida, LuísOnde histórias criam vida. Descubra agora