Capítulo 13 - O impacto (parte II)

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Rejane Menezes entrou na sala para dar início às suas três aulas, no dia seguinte, e Patrick realmente não compareceu. Um fato engraçado é que por mais que eu soubesse que ele não iria à aula, algo dentro de mim me enchia de esperança. Eu acho que explodiria de felicidade ao vê-lo passar pela porta e jogar sua bolsa na cadeira antes mesmo de chegar ao assento como sempre fazia.

Sobre o ontem, eu ainda me sentia meio angustiado. Ficava com falta de ar quando me lembrava da cara de nervoso do Patrick ao lidar com aqueles idiotas. E do seu jeito diferente durante o dia. Mas tudo bem, eu pensei. Nem o Patrick, a pessoa mais animada que eu conhecia - ressaltando novamente que eu não conhecia muitas - havia seus momentos de tristeza. Feliz ou infelizmente estar triste nunca foi privilégio só meu.

Assim que Rejane passou pela porta e se sentou na cadeira, eu sabia que ela estava pior do que costumava estar. Ela não bateu seu pano na cadeira antes de se sentar - apenas sentou-se. Estava aparentemente tensa e seu olho direito tremelicava mais que o normal.

A princípio, foi fazer a chamada. Ela era a única de todos os professores que fazia a chamada no início da aula. Os outros faziam ao final, pois temiam que os alunos abandonassem a classe, mas Rejane não possuía esse medo. Ela sabia que ninguém faria isso.

- Victor Luís - ela falou, lendo a lista de presença.

- Presente, professora - eu levantei o braço.

- Vivian Valéria.

Silêncio.

- Vivian Valéria - Rejane repetiu.

- Valéria? - uma garota cutucou outra que estava ao seu lado - a chamada. Era Valéria, a garota mais inteligente da sala que falava inglês assim como eu. Ela estava com a cara enfiada nos seus braços, como se estivesse dormindo.

Não sabia-se muito bem o que havia acontecido, mas Valéria havia mudado. Seu desempenho estava dos piores. Seu rosto parecia sempre com expressões tristes ou desanimadas. Quando não faltava, ela ia para as aulas só para dormir. Não mais participava das aulas. Não mais levantava seu dedo, atenciosa e pronta para responder qualquer pergunta. Alguma coisa antes das férias havia ocorrido e não sabíamos o que era.

- Você continua assim, garota? - Rejane disse para ela.

Valéria nada respondeu.

- Vocês adolescentes são tão, tão petulantes, tão prepotentes. Vocês realmente acham que sofrem alguma coisa? Acham que essa geração sofre como a minha sofreu?- Rejane parou de se referir apenas à Valéria e naquele momento, ela olhava pra cada um de nós. - Vocês acham que sabem de alguma coisa? Deus abençoe o futuro do mundo. Vocês não tem potencial pra droga nenhuma - o olho dela pulsou forte.

A turma se manteve calada.

"Essa velha tá maluca" ouvi um cochicho atrás de mim. Prendi a respiração.

- O quê? - ela bateu a base da caneta na mesa e se levantou. - O que você disse?

Silêncio.

- Se você se acha corajoso a ponto de falar uma vez, tente a segunda - ela disse passando o olho pela turma.

- Você tá ficando mais maluca ainda, sua velha doida! - o garoto atrás de mim disse em voz alta. Me virei para ver. Era um dos bagunceiros do fundo da sala. - Acho que ter participado da primeira guerra ferrou com a sua cabeça - ele disse.

Eu quase ri. Alguns alunos riram baixo.

- Saia dessa droga de sala antes que eu conte até dez - Rejane cerrou a boca.

Se cuida, LuísOnde histórias criam vida. Descubra agora