Heaven

2010

23 de janeiro de 2010

Naquele dia eu descobri o que era sentir ciúmes de verdade.
Estávamos de férias e um amigo do WonWoo veio da China passar algumas semanas aqui, no entanto essas semanas se tornaram um mês e logo depois ele disse que os pais iriam se mudar pra cá e ele agora estudaria com a gente. Eu não gostava daquele garoto. Ele sorria demais, gargalhava demais, falava demais, tocava demais no WonWoo e era sempre sarcástico comigo.
Wen JunHui se tornou a pessoa que eu mais odiava na vida, ao menos enquanto ele estivesse perto do WonWoo. Ele me irritava de propósito, estava sempre contando coisas que os dois faziam quando mais novos e WonWoo morava na China perto dele. Eu queria socar a cara dele até meu pulso dar câimbras, mas se eu fizesse isso o Hyung ia ficar bravo.
No entanto naquele dia eu não aguentava mais ficar quieto olhando aquele Chinês abusado encolhido no meio das cobertas abraçado com WonWoo. Estava frio pra caramba lá fora, mas aqui dentro o aquecedor estava ligado, então por que diabos ele grudava tanto no Hyung?  Que inferno! Eu queria arrastar ele pelos cabelos longo dele até o lado de fora e mostrar pra ele que lá fazia frio, aqui dentro não.
Argh! Eu queria muito que ele fosse embora da minha casa e me deixasse sozinho com o WonWoo. Antes éramos apenas nós dois, mas desde que esse projeto de diva petulante chegou eu nunca mais fiquei sozinho com o Hyung. Eu estava pronto para fazer birra feito criança de bater pé e rolar no chão.
Eu só queria que ele fosse embora!
No entanto o que vi não me deixou nada feliz e ai sim eu chorei, mas não por birra, mas porque doeu mais que um tiro ou uma facada no peito.
WonWoo já havia me dito que gostava de garotos e eu não via problemas nisso, afinal JeongHan e SeungCheol agora namoravam pra valer e eu achava aquilo um máximo. Eu sabia bem o que sentia pelo WonWoo. Eu estava apaixonado e contaria pra ele quando tivesse coragem, mas eu não sabia que aquele moleque iria sair dos confins da China pra vir aqui atrapalhar minha vida.
O som que ouvi me fez gelar e implorar a Deus que não fosse o que estava pensando, mas era. Deus não ouviu minhas orações e quando virei o rosto tudo o que vi foi WonWoo e JunHui grudados pelas bocas.
Aquilo doeu tanto que eu não tive forças nem pra desviar o olhar enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto tão pesadas quanto meu coração estava naquele segundo. Não conseguir prender o soluço dolorido que me escapou e nem conseguir esconder que chorava quando WonWoo soltou JunHui e me encarou se sobressaltando quando percebeu que eu chorava.

Ele tentou me abraçar enquanto perguntava o que tinha acontecido e eu queria berrar que ele não devia beijar JunHui, que ele não deveria tocá-lo, mas eu não conseguia. Eu sentia uma dor tão grande dentro de mim que tudo o que consegui fazer foi chorar ainda mais alto enquanto ele me abraçava preocupado.
Eu queria sentir o cheiro dele, mas eu só sentia aquele perfume enjoado que o chinês usava. Por Deus, aquilo me fazia enjoar e também era a prova de que eu não tinha imaginado coisas.
Empurrei WonWoo pra longe de mim e levantei correndo subindo as escadas de casa me trancando no meu quarto. Ele esmurrava a porta perguntando o que estava acontecendo e eu me encolhia na cama chorando tão alto que jurava que ouviriam da esquina, mas e dai? Eu sentia dor, eu estava ferido e queria que aqueles gritos aliviassem aquela tormenta dentro de mim.
Só queria que aquilo fosse embora junto com as batidas na minha porta e os dizeres; Quando quiser falar vou estar aqui por você, Gyu.
Ele foi embora com JunHui e eu fiquei. Fiquei sozinho com minha própria dor e angustia de ver ele beijando outro.
Foi naquele segundo que eu percebi; Apaixonado eu estava quando o vi pela primeira vez, agora eu o amava e ele não podia mais ser meu... Oh Deus, como doía.

30 de março de 2010

Eu realmente achei que aquilo não podia ficar pior. Eu havia me afastado tanto de WonWoo quanto ele de mim, não conseguia mais falar com ele tão livremente como antes e tudo só piorava quando JunHui estava junto. O garoto não me provocava mais, parecia ter se dado conta de que aquilo me machucava tanto a ponto de me fazer chorar feito criança como naquele dia. Ele até mesmo me sorria sem graça quando passava por mim na rua ou no colégio.
Eu o culpava sim por ter me tirado meu melhor amigo, mas não o culpava por gostar do WonWoo. Eu sabia como era doloroso não ter um amor correspondido e não desejava aquilo para ninguém, nem meu pior inimigo, coisa que JunHui não era.
Eu me sentia completamente sozinho, por mais que JeongHan e JiHoon estivessem sempre comigo eu sentia falta de WonWoo e suas brincadeiras, nossas conversas e palhaçadas. Eu sentia falta do meu melhor amigo comigo e não o cara que eu amava. Antes disso ele era meu melhor amigo e eu sentia falta dos nossos momentos idiotas.
Porém nem mesmo vê-lo beijando JunHui e senti-lo cada vez mais distante doeu tanto quanto naquela tarde em que ele disse para todos nós que estava namorando com Jun. Se antes meu coração pesava, agora ele havia caído e virado um milhão de cacos e todos eles espetavam meu interior causando ainda mais dor. Jun me olhava como se pedisse desculpas e eu me questionei se ele sabia o que eu sentia pelo WonWoo, mas logo ignorei aquilo. Eu queria sair correndo da casa de WonWoo, me enfiar no meu quarto e quem sabe morrer por lá.
Aquela sensação de tristeza mesclada a desilusão era horrível e eu jamais pensei que fosse sentir isso um dia.
Diferente do dia em que os vi se beijaram na sala da minha casa, dessa vez eu consegui engolir o bolo de choro em minha garganta e sorri para WonWoo dando a ele os parabéns pelo namoro. Na primeira oportunidade que tive, em meio a bagunça que fazia, fui pra casa e me isolei do resto do mundo para chorar o peso de ficar calado perante um amor.
Eu sabia que deveria ter contado a ele o que eu sentia, mas não conseguia e não queria estragar o que ele tinha com Jun. Seria egoísmo demais da minha parte.
O porta retrato acima da minha cabeceira só me fez chorar ainda mais e me lamentar a cada segundo. Eu era idiota.
Um idiota que amava sozinho e em silêncio o cara que um dia foi meu melhor amigo.