1 - No começo

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  Para compreender o problema que Mendeleiev estava tentando resolver é necessário remontaràs origens mais remotas do pensamento científico. Esse evento seminal na evolução humanapode ser identificado num momento exato e num lugar exato – 2.500 anos atrás na Gréciaantiga. A primeira manifestação de pensamento científico genuíno é tradicionalmente atribuídaa Tales, que viveu no século VI a.C. na cidade grega de Mileto, na costa da Jônia (hojesudoeste da Turquia).Nesse período, uma população de língua grega ocupava as ilhas dispersas e as planíciesisoladas ao longo do litoral pedregoso de todo o mar Egeu. É essa geografia fragmentada queexplica em parte por que o mundo grego havia permanecido um ajuntamento de cidades eEstados insulares frequentemente brigões, com uma rede de colônias comerciais que seestendia por toda a região mediterrânea. Durante esse período, como ao longo de todo operíodo de sua grandeza, os gregos antigos estavam unidos unicamente por sua língua. Demaneira reveladora, o território que ocupavam não tinha nenhum nome geral. Foram osromanos que primeiro aplicaram a palavra "Grécia" à terra habitada pelos gregos, que sereferiam a si mesmos como helenos (em memória de Helene, chefe de uma obscura triboantiga da Tessália). Afirmou-se que os gregos antigos não eram sequer uma entidade racial,consistindo de vários tipos diferentes que partilhavam uma língua comum, com uma cultura euma religião comuns.Por que a humanidade começou a pensar pela primeira vez de uma maneira científicaessencialmente racional nessa região particular continua sendo um tanto misterioso. Bem maisde um milênio antes, tanto os babilônios quanto os egípcios antigos haviam desenvolvidocivilizações superiores, capazes de um tipo de pensamento extremamente elevado. Postadosnos terraços elevados de seus zigurates, os astrólogos babilônios haviam observado o céunoturno, discernindo padrões em meio às estrelas, mapeando seus movimentos através do céu.Depois que as águas das inundações anuais baixavam, deixando o vale do Nilo como um marde lama, os escribas do Egito recalculavam a área exata do pedaço de terra de cada indivíduo,fazendo malabarismos com unidades tão pequenas quanto 1/300. Esse tipo de observação emensuração avançadas havia sido o apanágio das castas sacerdotais tanto na Babilônia quantono Egito. Essas habilidades técnicas, e toda especulação teórica que provocavam, eram parteda prática religiosa. Sua sutileza se misturara à sutileza da teologia que as acompanhava –resultando em coisas como números mágicos e a ideia de que os movimentos das estrelasespelhavam os destinos terrenos. Superstições como essas persistem até hoje na forma denúmeros "da sorte" e "signos astrológicos pessoais".Em comparação, a religião grega antiga, com seus deuses desordeiros a fanfarronar enamoricar no Monte Olimpo, era uma piada. Durante o período obscuro que se seguiu aocolapso da civilização micênica, a religião grega permanecera em seu estágio infantil dedesenvolvimento; não seria possível vincular nenhum pretenso pensamento científico sérioàquelas cabriolas de história em quadrinhos.Mas esse foi o ponto crucial. Quando o primeiro frêmito de curiosidade científica se fezsentir na Grécia antiga, não estava ligado a nenhuma religião. Não teve de se conformar aosditames de alguma teologia fortemente arraigada, nem foi estimulado a se iniciar em algumdomínio ilusório da imaginação. Era inteiramente livre – não refreado por coisa alguma senãoa razão e a realidade do mundo com que se confrontava.Segundo a lenda, Tales gostava de caminhar nos morros ao redor de Mileto. Podemosimaginar a cena. Espalhada abaixo dele, ao sol fulgurante, a cidade portuária com suasprístinas colunas de mármore e o padrão regular das ruas, tudo preciso e frágil como umaminiatura em casca de ovo. As baías e cabos do continente asiático estendendo-se para onorte, a ampla vastidão do mar Egeu, ilhas distantes borradas na cerração do calor. Talvez umbarco comercial de velas frouxas, detido no golfo pela calmaria em sua viagem de volta deuma das colônias da cidade no delta do Nilo, no mar Negro ou na Sicília – ou quem sabe deuma viagem até rincões tão distantes quanto as minas de prata espanholas além das Colunas deHércules (Gibraltar).Enquanto caminhava pela trilha na encosta, Tales observava algumas pedras que continhamfósseis do que eram inequivocamente conchas marinhas. Percebia que aqueles morros haviamsido outrora parte do mar. Isso o levou a conjeturar que, originalmente, o mundo devia terconsistido inteiramente de água. Concluiu que a água era o elemento fundamental de que todasas coisas derivavam. Em consequência, Tales de Mileto é geralmente considerado o primeirofilósofo. Foi o primeiro exemplo conhecido de pensamento verdadeiramente científico.Em seus primórdios a filosofia abrangia a ciência – o que veio a ser conhecido como"filosofia natural". O pensamento de Tales era científico porque era capaz de fornecer fatosem favor de suas conclusões. E era filosofia porque usava a razão para chegar a essasconclusões: não havia nenhum apelo aos deuses ou a forças metafísicas misteriosas. Oraciocínio era inteiramente conduzido nas esferas deste mundo, em que era possível reunirdados para provar ou refutar suas conclusões.Pouco sabemos ao certo sobre Tales de Mileto. Diz-se que ele previu um eclipse do Sol quesabemos ter ocorrido em 585 a.C. Essa é a única indicação real que temos sobre a época emque viveu. Segundo uma história, ele despencou de um morro quando estudava o céu: umaimagem emblemática do filósofo até os nossos dias. Mas Tales não era nenhum bobo. Quandolhe perguntaram por quê, se era tão inteligente, continuava pobre, respondeu que enriquecerera fácil. E o provou. Percebendo que a próxima colheita de azeitonas seria boa, alugou todasas prensas de azeitonas do lugar. Durante a colheita excepcionalmente abundante, seumonopólio lhe permitiu cobrar o que desejava.É impossível ter a medida exata do efeito do novo modo filosófico de pensar atribuído aTales. O conhecimento da civilização ocidental está baseado nele. Olhando para trás,podemos ver que, desde seus primeiros instantes, esse novo modo de pensar continha certospressupostos básicos. Estes iriam determinar (e mais de dois milênios e meio mais tardecontinuam determinando) tanto a forma quanto o conteúdo de nosso conhecimento. Eram ospressupostos que sustentariam todo o pensamento científico subsequente. Tales fez a pergunta:"Por que as coisas acontecem como acontecem?" Ao respondê-la, presumiu que a respostadevia ser formulada em termos da matéria básica de que o mundo é feito. Presumiu tambémque há uma unidade subjacente à diversidade do mundo. Mas, talvez o mais significativo detudo, presumiu que há uma resposta para essa pergunta. E que essa resposta pode ser dada naforma de uma teoria – palavra que deriva do grego "olhar para, contemplar ou especular" –passível de teste.Sabemos por indícios anedóticos que Tales chegou à sua teoria depois de encontrar algunsfósseis de conchas marinhas muito acima do nível do oceano na época. Mas suas especulaçõesprovavelmente foram ainda mais fundo. Ele deve ter visto a névoa se elevando dos montesanatólios para se transformar em nuvens, e observado a chuva a cair das nuvens emtempestades sobre o mar Egeu: terra se transformando em ar úmido, que por sua vez setransformava em água. Apenas três quilômetros ao norte de Mileto, um grande rio serpenteiapela vasta planície rumo ao mar. (Tratava-se de fato do antigo rio Meandro, do qual nossapalavra deriva). Tales teria observado o rio se assoreando lentamente, a água tornando-seterra barrenta. Teria visitado os mananciais numa encosta vizinha: terra se transformando emágua de novo. Hoje não se precisa de muita imaginação para entender como Tales concebeu aideia de que tudo é água. No entanto, a primeira pessoa a dar um passo no desconhecido comessa ideia deve ter sido um gigante da imaginação.Curiosamente, esse não foi o único grande passo na evolução do pensamento humano queteve lugar durante o século VI a.C. De maneira completamente independente, em outras partesdo globo, a humanidade estava dando vários grandes passos que iriam afetar todo o curso deseu desenvolvimento. A China testemunhou o aparecimento de Confúcio e Lao-Tsé (o fundadordo taoísmo, o rival do confucionismo), Buda começou a pregar na Índia, e na Pérsia oadorador do fogo Zaratustra fundou o zoroastrismo (que teria grande influência tanto sobre ojudaísmo quanto sobre o islamismo). Enquanto isso a região mediterrânea estavatestemunhando mais do que o mero advento dos primeiros filósofos na Jônia. No final doséculo Pitágoras estava vivendo no outro extremo do mundo grego, no sul da Itália, e seusensinamentos religiosos iriam contribuir significativamente para o elemento não judaico docristianismo (várias parábolas do Novo Testamento originam-se de fontes pitagóricas). Damesma maneira, a influência da religião dos números de Pitágoras pode ser reconhecida nateoria musical e na crença da ciência moderna de que as operações últimas do universo podemser descritas em termos numéricos. O rumo das civilizações tanto oriental quanto ocidental foifixado por eventos que tiveram lugar durante o século VI a.C.O mais importante para o mundo ocidental foi, sem dúvida, o desenvolvimento atribuído aTales de Mileto, o primeiro cientista filósofo. Sua teoria de que o mundo se desenvolvera apartir de um único elemento (água) foi apenas o começo. Essa ideia, uma vez concebida, foirapidamente desenvolvida pelos discípulos de Tales em Mileto – os filósofos conhecidoscomo integrantes da escola milésia. Um deles era Anaxímenes, que identificou o elo fraco noraciocínio de Tales. Se tudo fora originalmente água, o que explicava a diversidade atual domundo? Como havia a água se tornado todas as coisas? Anaxímenes sustentou que o elementofundamental não era a água, mas o ar. O mundo estava cercado de ar, o qual ficava maiscomprimido quanto mais se aproximava do centro. À medida que se comprimia, setransformava em água; quando a água era mais comprimida, se transformava em terra; aindamais comprimida, se tornava pedra. Tudo era ar, num estado mais ou menos condensado.Esse foi um desenvolvimento significativo da ideia de Tales. Aqui estava a primeiratentativa de explicar a diversidade do mundo – a primeira tentativa de explicar diferençaqualitativa em termos de diferença quantitativa.Uma nova maneira de pensar fora descoberta. O grande debate filosófico (que permanecenão resolvido até hoje) começara. Agora todos podiam participar. Não há registro de comoTales reagiu a tudo isso. Ele pode ter pensado cientificamente; se esperava ser contestadocientificamente é outra questão, mas foi. Ao que parece, Anaxímenes era um homem jovem porocasião da morte de Tales e foi ele quem transmitiu a história de sua morte. Numa carta aPitágoras, escreveu: "Tales enfrentou um destino cruel em sua velhice. Como era seu costume,deixou sua casa à noite com sua criada e foi olhar as estrelas. Enquanto contemplava o céu,porém, esqueceu-se de onde estava e caiu num precipício." Anaxímenes previu um destinoainda pior para si mesmo. Numa carta posterior a Pitágoras, lamenta: "Como posso pensar emestudar as estrelas quando estou diante da perspectiva do massacre ou da escravidão?" Nessaaltura as cidades-Estado dispersas do mundo grego estavam sob a ameaça do Império Persa,que se expandira a oeste pela Anatólia e agora estava se aproximando do litoral do mar Egeu.Em 494 a.C. o exército persa devastou Mileto. O destino de Anaxímenes permanecedesconhecido e a escola milésia chegou ao fim menos de um século após ter se iniciado. Asruínas de Mileto perduram até hoje, agora mais no interior, a vários quilômetros do estuárioassoreado do Grande Meandro.Mas a filosofia sobreviveu à queda de Mileto. Por uma combinação de acasos felizes e deheroísmo legendário, o mundo grego conseguiu resistir aos grandes exércitos invasores daPérsia e até derrotá-los. Um dos pontos altos dessa resistência foi a batalha de Maratona em490 a.C., em que uma força grega muito inferior em número pôs todo o exército persa em fuga.(O mensageiro que levava a notícia da vitória desfaleceu e morreu após correr os 41,3quilômetros de Maratona a Atenas. Esse evento é comemorado na maratona moderna, que édisputada numa distância idêntica.)Na época da queda de Mileto, a filosofia já se propagara do litoral jônico para as ilhas domar Egeu e dali para o resto do mundo grego. Éfeso, que era a principal cidade da Jônia,sobreviveu à investida persa mediante o expediente simples de se aliar ao inimigo contra seusrivais comerciais, como Mileto. Seu filósofo mais conhecido, Heráclito, era similarmenteproblemático. Heráclito, que nasceu por volta de 540 a.C., era um homem arrogante emisantropo. Na velhice, ficou tão desgostoso com seus concidadãos efésios que abandonou acidade por uma vida errante nas montanhas, alimentando-se de capim e ervas. Sua filosofia,por outro lado, era calma, sutil e profunda. Heráclito tinha sua própria ideia sobre o elementofundamental a partir do qual o mundo se formou. Segundo ele, era o fogo.Anaxímenes compreendera a necessidade de explicar a diversidade do mundo. Heráclitoviu que Anaxímenes havia respondido a essa questão apenas parcialmente. Que significavadizer que o ar se transformava em água, terra, pedra e assim por diante? Se não continuavasendo ar, essa não podia ser a substância de que o mundo era feito. Aqui estava uma questãocomplexa e séria. Heráclito reconheceu que ela era irrespondível enquanto o "um" fosse vistocomo uma substância – como ar, ou mesmo água. Era necessário ver o "um" como imaterial."O mundo foi, é agora e sempre será um Fogo eterno, inflamando-se gradativamente eapagando-se gradativamente." Para Heráclito o mundo estava num contínuo estado de fluxo. Énos seus célebres fragmentos que isso pode ser mais bem compreendido: "Nenhum homementra duas vezes no mesmo rio" e "O Sol é novo a cada dia". O fogo era concebido como opadrão ou ordem subjacente do cosmo, transformando-se e ainda assim permanecendo omesmo.Durante séculos, filósofos de inclinação científica tenderam a rejeitar as concepções deHeráclito como mero misticismo – até o advento da ciência do século XX. Somente então asutileza de seu pensamento tornou-se clara. O fogo sempre cambiante de Heráclito assemelhaseà ideia de energia na física moderna. Ali estava uma perspectiva filosófica capaz deharmonizar a relatividade e as ambiguidades da física quântica. (Na relatividade a massa éequivalente à energia, segundo a fórmula de Einstein, E=mc2. Assim a energia podeteoricamente transformar-se em matéria, exatamente como o fluxo ou o fogo de Heráclito.)Heráclito teria um fim lamentável, que ele mesmo se infligiu. Sua dieta parca de capim eervas finalmente o obrigou a descer de seu refúgio nas montanhas para retornar a Éfeso. Noentanto, longe de estar esquelético, estava agora inchado pela hidropisia, que provoca aretenção de fluido nos tecidos. Exibindo uma arrogância característica, solicitou umtratamento dos médicos locais na forma de um enigma: "São capazes de criar uma estiagemapós uma chuva pesada?" Quando os médicos se mostraram desconcertados com esse testemeteorológico, Heráclito decidiu curar-se a si mesmo. Retirando-se para um estábulo,enterrou-se no esterco, aparentemente na esperança de que o fluido mefítico em seu corpofosse extraído pelo calor de seu revestimento mefítico. Esse método drástico provou-seineficaz, e ele morreu de uma morte mefítica.O elemento primordial já fora identificado como água, como ar e como fogo. Qual era eleentão? Parecia haver uma resposta óbvia para essa pergunta. Por que haveria de ser apenasum? Por que não vários? Por que não todos os três – com o acréscimo de um quarto elementopara explicar a solidez do mundo? A resposta óbvia parecia ser que o mundo era feito de fatode quatro elementos fundamentais: terra, ar, fogo e água.De um só golpe, essa noção de pluralidade libertou o pensamento científico do grilhão daunidade. Foi a solução de compromisso óbvia – e em retrospecto podemos ver que elaapontou o caminho para uma compreensão espetacularmente nova dos elementos.Lamentavelmente, isso só pode ser visto em retrospecto. Essa solução de compromisso"óbvia" – a ideia de quatro elementos básicos – iria se provar um dos maiores erros dopensamento humano e seus efeitos viriam a representar uma catástrofe para nossodesenvolvimento intelectual.Quando se espalhou pela Jônia e o mundo grego antigo, a filosofia inicial foi como umasúbita iluminação da mente humana. A evolução estava focando as lentes do pensamentohumano: o que fora previamente um borrão de superstição e metafísica agora estava setornando claro. Podíamos ver! Os seres humanos estavam aprendendo como olhar o mundo àsua volta. Inversamente, a noção de que o mundo consistia de quatro elementos foi como umadoença, e iria estropiar o pensamento científico pelos dois milênios seguintes.Isso não foi em absoluto culpa do engenhoso filósofo que concebeu pela primeira vez essaideia. A teoria dos quatro elementos foi proposta por Empédocles, que viveu numa colôniagrega na Sicília durante o século V a.C. e foi influenciado por Pitágoras, que continua sendouma das grandes figuras enigmáticas do início da era helênica. Pitágoras se situa entre os maisexímios matemáticos de todos os tempos. Descobriu que ? era incomensurável e demonstrou oteorema que recebeu seu nome. Seu outro papel como fundador de uma religião baseada numamistura de puro discernimento espiritual e puro ilusionismo também indica talentosexcepcionais. Empédocles iria seguir as pegadas de seu mestre como pensador e comocharlatão. Sua teoria dos quatro elementos foi um golpe de gênio, mas ele não parou por aí.Ampliou a visão de mundo científica com teorias adicionais da mais alta qualidade. Afirmouque nada no mundo era criado ou destruído – e sustentou que todas as coisas consistiam emdiferentes combinações dos quatro elementos. Aqui, pela primeira vez, surge um vago esboçoda ideia da química.Novamente como Pitágoras, Empédocles era uma combinação de um homem à frente de seutempo e um homem atrás de seu tempo. Essa conjuminância esquizofrênica de duas erasproduziu algumas das mentes mais originais na história. (Basta pensar na combinação dasmentes medieval e renascentista de Shakespeare e na contraditória devoção de Newton àalquimia e à física matemática.) Empédocles foi uma versão primitiva desse tipo. Embora amaior parte da filosofia grega estivesse a essa altura sendo escrita em prosa, ele optou porretornar a uma era anterior, confinando seu pensamento científico na camisa de força dapoesia. Sua obra mais primorosa, O mundo físico, era uma epopeia de cinco mil versos, deque conhecemos apenas fragmentos. Essa obra-prima consistia, ao que parece, num estonteantecoquetel de ideias originais brilhantes e charlatanice rematada. Entre as primeiras estava aideia da evolução. Longe de ser um mero voo de imaginação poética, tratava-se de uma teoriaplenamente desenvolvida, elaborada em algum detalhe. Empédocles considerou a evolução emtermos de unidades anatômicas: membros, órgãos, cabeças e assim por diante. Estas secombinavam de diferentes maneiras. Para começar, havia todo tipo de criaturas estranhascombinadas – como "com face de homem e progênie de boi" (tal como os centauros e ossátiros da mitologia grega). Somente as criaturas mais bem adaptadas a seu ambientesobreviviam. Mas uma vez que, em última análise, nada era criado nem destruído – ou, emoutras palavras, os ingredientes do mundo permaneciam os mesmos – ele teve condições deafirmar: "Já fui certa vez um menino e uma menina, um arbusto e um pássaro e um peixesaltitante, corredio." Mais de dois mil anos deveriam se passar antes que ideias científicassobre a evolução de calibre similar reaparecessem na Europa ocidental.A distinção entre genialidade e disparate é por vezes tênue como uma hóstia – uma barreirafacilmente transcendida pelo charlatão verdadeiramente convincente que, de quando emquando, consegue convencer até a si mesmo. Empédocles iria morrer ao pular na cratera domonte Etna, numa tentativa de provar para seus seguidores que era imortal. Na época asopiniões ficaram divididas, mas, com o passar dos anos, seu não reaparecimento depôs contraele.A ideia dos quatro elementos de Empédocles pode ter errado o alvo na teoria, mas,ironicamente, mostrou considerável discernimento do lado prático da química. Terra, água, are fogo assumem um aspecto muito mais significativo se considerarmos o que são exatamente.A terra é um sólido, á água um líquido, o ar um gás e o fogo poderia facilmente ser visto comoenergia. Aqui está uma divisão eminentemente prática das substâncias em diferentes tipos –uma classificação que se poderia esperar de um químico prático embrionário, não de umfilósofo teórico.No entanto, essa noção prática de classificação dos elementos não é de fato tãosurpreendente. A ideia da química não passava nesse estágio de um punhado de intuiçõesvagas, mas a prática inadvertida dela já avançara bastante. Os antigos tinham conhecimento deprocessos químicos havia muito. Os primeiros químicos reconhecíveis foram mulheres, asfabricantes de perfumes da Babilônia, que usaram os mais antigos alambiques conhecidos parapreparar seus produtos. A primeira química individual que a história conheceu foi "Tapputi, aperfumista", mencionada numa tábua de cuneiformes do segundo milênio a.C. naMesopotâmia.A prática precedeu de muito a teoria. Na era helênica, o mundo antigo já havia descobertotambém mais de meia dúzia de elementos metálicos e um ou dois não metálicos. Os egípciosantigos conheciam ouro e prata, cobre e ferro; todos os quatro são também mencionados noAntigo Testamento. Sabe-se que os fenícios usavam chumbo para tornar mais pesadas suasâncoras de madeira. Numa viagem à Espanha, ao encontrarem mais prata do que podiamtransportar, livraram-se então do seu chumbo e, em vez dele, usaram prata para lastrear suasâncoras. Subsequentemente viajaram para mais longe ainda, até a Grã-Bretanha, ondenegociaram com outro elemento metálico das minas da Cornualha – a saber, estanho.Na verdade, foi o bronze, uma liga de estanho e cobre, que deu nome à era que se iniciou naregião do Mediterrâneo por volta de 3000 a.C. Foi na Idade do Bronze, por volta de 1250a.C., que os micênios tomaram Troia. O bronze metálico duro é formado quando estanho ecobre são fundidos juntos. Essa liga era usada para ornamentos e baixelas, mas seu uso maissignificativo foi em armas e armaduras. Cerca de dois milênios depois o bronze foi suplantadopor uma liga mais dura feita de ferro e carbono fundidos, inaugurando a Idade do Ferro.O outro elemento metálico conhecido pelos antigos era o mercúrio, que é mencionado emtextos chineses e hindus antigos e foi encontrado em sepulturas egípcias datadas de 1500 a.C.Graças a seu aspecto e qualidades excepcionais (superfície espelhada, metal líquido,extremamente venenoso) o mercúrio foi encarado com admiração reverente e consideradomágico desde o princípio.Quanto aos elementos não metálicos, o carbono e o enxofre eram certamente conhecidosdesde os tempos mais remotos. O autor romano Plínio refere-se a anti-gas minas sicilianas deenxofre, cujo produto era usado para fins medicinais e para a fabricação de fósforos deenxofre. O carbono era conhecido pelo homem das cavernas na forma de fuligem e carvão. Emsua forma mais rígida e mais preciosa, o diamante, esse elemento foi mencionado no AntigoTestamento e nos Vedas hindus, em textos datados do segundo milênio a.C.Tanto os gregos antigos quanto os romanos conheciam uma substância que chamavam de"arsênio". Mas não se tratava do elemento puro – tratava-se do sulfeto; eles o usavam paracurtir couros e para envenenar rivais. E é aqui que está a chave. Os antigos sabiam desseselementos, mas não os conheciam como tais, não tendo a menor ideia de que eram elementos.Isso permanecia além de sua concepção. A noção de elemento originou-se com os filósofos,não com os químicos. Em outras palavras, com os pensadores, não com os que praticavam. Ateoria de Tales segundo a qual a água era o elemento primordial foi o verdadeiro começo: aideia científica do que é um elemento.Anaxímenes desenvolveu isso e, pouco tempo depois, uma outra ideia científicaespetacularmente original foi concebida e desenvolvida pelos gregos antigos. Foi o filósofodo século V Leucipo que fez a pergunta: "A matéria é discreta ou contínua?" Em outraspalavras, é possível avançar dividindo as coisas indefinidamente, ou se chega a um ponto emque elas se tornam indivisíveis? Leucipo considerou evidente por si mesmo que a segundaalternativa era a verdadeira. Isso o levou à ideia do atomos, ou átomo. Em grego essa palavrasignifica "que não pode ser cortado", isto é, indivisível. Leucipo foi o primeiro a declarar queo mundo era composto de átomos indivisíveis. Surpreendentemente, chegou a essa conclusãoapenas um século depois que Tales inaugurara o pensamento científico. Leucipo nasceuprovavelmente em Mileto, mas deve ter partido antes da invasão persa. Parece que fundouuma escola em Abdera, no norte da Grécia continental. Ali seu discípulo mais renomado foiDemócrito, que desenvolveria a ideia atômica original do mestre. Segundo Demócrito, há umaquantidade infinita de átomos, que existem no espaço em perpétuo movimento; há tambéminumeráveis tipos variados de átomos, que diferem em forma e tamanho, peso e calor. Todamudança aparente no mundo, ele afirmou, deve-se a combinações e recombinações dessesátomos imutáveis.Tal como as ideias de elementos e de evolução, as ideias de Demócrito parecemestupendamente modernas – muito, muito além de seu tempo. Essa originalidade permaneceinédita no pensamento humano. Uma vez tendo descoberto o pensamento filosófico, parece queos gregos rapidamente o praticaram até quase os seus limites. Ninguém menos que BertrandRussell afirmou: "Quase todas as hipóteses que dominaram a filosofia moderna forampensadas pela primeira vez pelos gregos." Mas esse deveria ser um legado ambíguo. Comoveremos, quando o pensamento grego tomava um rumo errado desencaminhava odesenvolvimento intelectual por séculos a fio.Durante a vida de Demócrito a filosofia grega entrou em sua idade do ouro, em Atenas. Estahavia se tornado a mais rica e poderosa cidade do mundo grego, o ápice da cultura grega. Suaacrópole era coroada pelas colunas sublimemente proporcionais do Partenon, uma das maisbelas realizações arquitetônicas da história. Nos teatros panorâmicos ao ar livre da cidade,acusticamente magníficos, eram encenadas as tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípides. (Foiali que, no curso de uma única geração, a tragédia grega se desenvolveu, passando de umritual religioso primitivo a um drama profundo que se desenrolava num proscênio.) Quando afilosofia ingressou em sua idade do ouro, porém, Atenas havia começado a declinar sob oimpacto das longas e desastrosas Guerras do Peloponeso contra Esparta. Ironicamente, essaidade do ouro, que permanece inigualada em toda a história da filosofia, deveria ser emgrande parte uma reação contra os feitos de Demócrito, Empédocles, Heráclito e congêneres.O primeiro grande filósofo ateniense foi Sócrates, que nasceu por volta de 477 a.C. e foisentenciado à morte em 399 a.C. Sócrates foi um dos personagens extraordinários da filosofia,ao mesmo tempo cativando e enfurecendo. Declarado "o mais sábio entre os homens" pelooráculo délfico, ele afirmava que nada sabia – e passava então a demonstrar que os outrossabiam ainda menos. Diante de seus jovens discípulos na ágora (praça do mercado), usava porvezes esse "método dialético" para criticar os figurões sapientes de Atenas – procedimentoque lhe valeu poucos amigos bem colocados e quase certamente teve um papel em seuposterior julgamento e condenação à morte por "corromper os jovens". O método dialético deSócrates consistia em fingir nada saber e em seguida questionar o conhecimento apresentadopor seu adversário, perguntando seu significado, demolindo os conceitos em que se assentava.Tratava-se de uma forma precursora de análise. (A palavra grega analytika significa"deslindar".)A análise é sempre necessária para elucidar o significado – mas, do modo como Sócrates outilizava, esse método tendia a desmontar o conhecimento em lugar de construí-lo. Umaciência embrionária, cujos conceitos são vagos e cujo conhecimento é sumamente teórico,pode suportar mal esse tipo de ataque, e parecia fácil para Sócrates encontrar falhas nesse"conhecimento". (Até hoje a ciência exibe inadequações similares; a virtude que a redime éque opera na realidade, não em termos filosóficos.)Sócrates não estava interessado em átomos ou nos elementos fundamentais que compõem omundo. Sua filosofia baseava-se antes na introspecção – seu dito favorito era "conhece-te a timesmo". Ali estava o único conhecimento verdadeiro. Com consequências desastrosas, afilosofia desviou-se do mundo.Sócrates foi sucedido por seu notável discípulo Platão, que perseverou nessa tradição. Emvez de especulação científica, a filosofia voltou sua atenção para ideias abstratas. Conferia-seum valor muito maior à matemática, à verdade e à beleza que às "meras aparências". Asparticularidades do mundo à nossa volta não passavam de uma mixórdia acidental de quimeras– somente as ideias eram reais.Platão nasceu numa família ateniense aristocrática e iria se tornar o filósofo supremo daidade clássica. Foi dito que formulou todas as questões importantes da filosofia, e que, desdeentão, a filosofia inteira pouco passou de notas de pé de página a ele. Há alguma verdadenisso, mas está longe de ser toda a verdade. Certamente não se aplica à chamada "filosofianatural", isto é, a ciência. Platão nunca poderia ter perguntado "o que é força elétrica?",porque não tinha nenhuma noção do que era eletricidade. Isto pode parecer óbvio, mas écrucial. Embora já não seja considerada parte da filosofia, a ciência certamente tem seu efeitosobre nossa compreensão do conhecimento e de nós mesmos. Depois de Copérnico, Darwin eFreud, nossa ideia de nós mesmos é fundamentalmente diferente daquela de Platão e seuscontemporâneos. Podemos compreender a tragédia grega, e sentir a força inexorável de suasemoções, mas já não pensamos nem nos comportamos daquela maneira.Em 387 a.C. Platão abriu sua academia num olival nos arredores de Atenas. Esse "olivalacadêmico" foi a primeira universidade reconhecível. Acima de sua entrada estava escrito"Que não entre aqui ninguém que não saiba geometria". Raciocínio abstrato, ideias abstratas,geometria abstrata – até o ensinamento político de Platão se concentrava na ideia de umautopia e não na realidade social. A Academia era soberana em matemática, mas a geometriaali ensinada era limitada a figuras que podiam ser desenhadas com régua e compasso. Somenteessas figuras eram ideais (isto é, correspondiam a ideias "reais"); todas as demais pertenciamà mixórdia acidental do mundo concreto (que era simplesmente uma ilusão, "meraaparência"). Este último era desprezado como "mecânico". A geometria ocupava-seunicamente de coisas como o círculo, o triângulo e o polígono regular – nenhuma das quaisaparece precisamente na natureza. Demócrito chegara ao conceito do átomo aplicando amatemática à natureza. (Aplique a divisão à natureza até não poder ir mais além.) Platãoestava exclusivamente interessado em aplicar a matemática a ela mesma. (Essa atitude perdurana noção de matemática "pura".)O terceiro do triunvirato grego de grandes filósofos foi Aristóteles, que foi discípulo dePlatão. Enquanto Sócrates fora "o chato de Atenas" e Platão "o filósofo dos filósofos",Aristóteles foi o primeiro gênio universal. Ele viajou por todas as terras da civilização egeia,e em certa altura tornou-se o preceptor do jovem Alexandre o Grande – embora não subsistanenhum registro do que o maior polímata da Antiguidade ensinou (ou procurou ensinar) aomaior megalomaníaco da Antiguidade. Aristóteles daria contribuições capitais em quase todosos campos, exceto a matemática. Estava interessado em tudo, e sua biblioteca refletia isso.Nunca antes uma coleção de rolos semelhante fora acumulada por um cidadão privado. ComAristóteles a tendência anticientífica chegou ao fim. A essa altura, porém, o estrago já forafeito. Embora Aristóteles tenha sido uma das mais admiráveis mentes científicas de toda ahistória, suas ideias estavam fatalmente infectadas pelo pensamento platônico. (Coisa queainda ecoa no nosso uso da palavra: não é à toa que caso de amor platônico é aquele em quenada acontece realmente.) As realizações de Aristóteles traçaram minuciosamente o curso dodesenvolvimento científico até boa parte da era moderna. Ele deu contribuições de vulto emtodos os campos da filosofia natural, da botânica à geologia e da psicologia à zoologia. Defato, foi o primeiro a delinear muitos desses campos científicos. E sua façanha suprema foi ainvenção da lógica.Sendo assim, onde foi que ele errou? Aristóteles virou a filosofia de Platão de cabeça parabaixo, acreditando que ideias só podiam existir na substância particular que as corporificava.Apesar disso, seu pensamento permaneceu contaminado pelo modo platônico de ver o mundo.Ele via os objetos como dotados de qualidades – as ideias platônicas que os habitavam – enão de propriedades concretas. Há uma diferença sutil mas fundamental aí. Um mundo queconsiste em substância ou objetos pode ter qualidades; um mundo composto de átomos tempropriedades. Não concebemos ideias corporificadas num átomo. Somente desse modo umhomem com o brilhantismo de Aristóteles poderia ter aceitado terra, ar, fogo e água como osquatro elementos básicos. Estas eram qualidades.O busto clássico de Aristóteles. Como esta é uma cópia romana do busto grego da época, provavelmente tem fortesemelhança com a aparência real de AristótelesQuando Aristóteles aplicou o brilhantismo de sua mente científica a esse erro, o erro foiampliado com resultados desastrosos. Usando a razão e a observação, Aristóteles deduziu quecada um dos quatro elementos tem seu lugar. A terra estava no centro, em seguida vinha a água,acima desta estava o ar e acima do ar vinha o fogo. Todo movimento no mundo era umatentativa dos elementos de encontrar seu devido lugar. Desse modo as pedras caem para ofundo da água, as bolhas ascendem dela, o fogo se ergue em direção ao ar e assim por diante.Mas como o Sol, a Lua e as estrelas claramente não se moviam dessa maneira, Aristótelespropôs um quinto elemento. Chamou esse elemento rarefeito de éter. Resquícios desseelemento persistem em nossas palavras etéreo (celestial, aéreo) e quinta-essência. O céu, daLua para cima, era todo parte desse domínio etéreo. Nada tendo a ver com os outros quatroelementos, os corpos celestes não estavam sujeitos às mesmas leis, o que explicava por quenão caíam sobre a Terra. Esse domínio etéreo superior continha esferas de cristaltransparentes e concêntricas, arranjadas em torno da Terra central como as camadas de umacebola. A Lua, o Sol, os planetas e as estrelas estavam todos incrustados nessas esferas, cujasrotações independentes produziam os movimentos dos corpos celestes. À medida que semoviam umas contra as outras, as esferas de cristal transparentes geravam harmonias sublimesinaudíveis ao ouvido humano, a "música das esferas".A autoridade de Aristóteles e o brilhantismo inigualável de seu pensamento eram tamanhosque tudo isso foi aceito. A Terra foi tomada como o centro do universo, muito embora váriospensadores pré-socráticos tivessem tido uma compreensão diferente. E isso, associado ànoção de que o céu consistia de um elemento diferente e obedecia a leis diferentes, deu caboda astronomia até o advento de Copérnico no século XVI.Aristóteles, como Empédocles e Shakespeare, foi um gênio com pés em duas erasdiferentes. O que melhor ilustra sua posição histórica é talvez sua atitude em relação àpolítica. A utopia impraticável de Platão não era para Aristóteles – esse era um assunto a serconsiderado cientificamente. Para descobrir o melhor sistema político, Aristóteles reuniu emsua biblioteca rolos que continham as constituições de todas as cidades-Estado da Grécia. Sealguma cidade-Estado o procurava em busca de conselho constitucional, era capaz de redigiruma constituição que não só se adequava às circunstâncias daquela cidade particular, mastambém continha os melhores pontos tomados das constituições de todas as outras cidadesEstado.Se alguma coisa funcionava, essa deveria funcionar. Mas não funcionou, e não podiater funcionado.Por quê? Ironicamente, a culpa por isso recaiu sobre o discípulo de Aristóteles, Alexandreo Grande. Foi Alexandre quem conseguiu unir os gregos, façanha que realizou pelo simplesexpediente de conquistá-los. Decidiu então que sua Grécia unida não deveria mais enfrentar aameaça de um império invasor – assim partiu para a conquista dos persas, a leste. Feito isso,decidiu avançar contra todo o mundo conhecido e conquistá-lo. (Deixando de lado a questãoda megalomania, pode-se afirmar que a estratégia de Alexandre era equivocada. Naquelaaltura o Império Persa estava em declínio, ao passo que a oeste a República Romana apenascomeçava a se expandir. Um século e meio depois da gloriosa campanha de Alexandre, queconquistou tudo a leste, as sobras de seu império começariam a sucumbir ante a invasão vindado oeste.) Apesar de suas deficiências, Alexandre estabeleceu em pouco tempo o maiorimpério que o mundo já vira. A cidade-Estado (ou pólis) foi substituída pela metrópole(literalmente "cidade mãe"). A era das cidades-Estado estava terminada, a era dos impériosse iniciara. A democracia fora substituída pelo imperialismo. A despeito de todo o seubrilhantismo intelectual, o pensamento de Aristóteles sobre a forma de alcançar a melhorconstituição política havia se tornado totalmente redundante.Mas o mesmo não aconteceu com seu pensamento científico elementar. A ideia de que omundo consistia de terra, ar, fogo e água pertencia ao passado. E nenhuma soma depensamento brilhante seria capaz de salvar qualquer ciência baseada em tal premissa. Ainvestigação dos elementos passaria agora a ser abordada de um ângulo inteiramente diferente– um ângulo ao mesmo tempo não científico e irracional. A ciência dos elementos penetrounesse momento num reino mais escuro.  

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