Capítulo 3

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Acordei cedo com os gritos de Bob. Será que ele nunca havia cansado de invadir e transformar minha vida em um inferno?
Levantei da cama correndo e fui até a sala. Ele estava sentado no sofá e uma foto minha com minha mãe estava em pedaços no chão.
-O que pensa que está fazendo? -grito.
-Bom dia minha querida.
Ele abre um sorriso irônico enquanto eu recolho os pedacinhos da foto.
-O que está fazendo aqui? -pergunto tremendo de raiva.
-Vim fazer uma visita.
-Você invadiu a minha casa.
-Não invadi nada garota.
-Me diz logo o que quer e vá embora.
-Vim te avisar sobre aquele rapaz que apareceu aqui ontem.
-Qual?
-Um tal de Lucas.
-O que tem ele?
-É intrometido demais. Avisa pra ele não se meter onde não é chamado.
-Já terminou? -levanto uma sombrancelha e aponto pra saída. -Já pode ir embora.
-Deveria selecionar melhor as pessoas que você se relaciona.
-Não tenho um relacionamento com ele, e mesmo se tivesse, isso não seria da sua conta.
-Cuidado com o jeito de falar comigo.
-Vai embora! -grito por fim.
Bob quebra mais um vaso. Aquilo me ferve o sangue e sinto um ódio que me corroe até a alma.
Não vou chorar.
Não vou voltar a ser aquela garota.
Vou me controlar.
Eu mudei. Tive que mudar.
-Apenas um aviso: se aquele garoto não sair do meu caminho, eu acabo com a raça dele.
Bob sai batendo a porta fazendo ecoar um barulho estridente por causa da força excessiva.
Me ajoelho no chão para tentar recolher os cacos do quadro e os pedaços da foto. A única que eu tinha.
O que Lucas teria feito para deixa-lo assim? Seja lá o que for, espero que isso não acabe mal.
Apesar de ser apenas uma amizade colorida, eu não quero que nada de ruim aconteça, ainda mais sabendo que o motivo sou eu.
Conheci Lucas a um ano atrás, éramos amigos, mas com o tempo, passamos a sentir atração um pelo outro, o que nos levou a manter uma amizade colorida até hoje. Sei que no fundo, ele não me vê apenas como uma amiga, mesmo que eu não sinta o mesmo por ele, ele prefere oprimir seus sentimentos do que se afastar. Ele me faz bem. Mais o único conceito que pode ser usado para explicar a complicação do nosso 'lance' seria: Amigos que transam de vez em quando.

...

Mais tarde naquele mesmo dia, após ligar para o Lucas só para garantir que ele está bem, me arrumo e vou para o bar. Só de olhar o movimento já me sinto cansada. Mais uma noite de trabalho.
Suspiro e entro pela porta do fundo, a primeira pessoa que vejo é Flávia, ela corre até mim.
-Amiga o que aconteceu com o Bob? -ela sussurra enquanto me puxa para um canto.
-Não sei. Por que está perguntando?
-Ele está com o olho roxo.
-Sério?
Franzo a testa enquanto ela me conta o que houve.
Pelo que parece, Bob tinha acabado de apanhar, Flávia  não sabe onde tudo aconteceu, porém, ela disse que ele estava com raiva e xingando muito, dizendo coisas do tipo "Vou matar aquele desgraçado" e várias outras ameaças.
Tento buscar no cérebro um nome, um rosto ou qualquer pessoa que possa ser suspeito, pois só assim irei conseguir entender os motivos. Bob é um filho da puta covarde, não se envolveria em uma briga assim, ele provavelmente mandaria alguém fazer em seu lugar.
Tento me livrar das multiplas questões que meu cérebro busca por horas.
Perto das dez horas, o bar continua lotado, as dançarinas se esfregando nos homens e a música eletrônica continua estrondando. Tudo igual.
-Sarah! Vai ficar aí parada? -Flávia me dá um tapa de brincadeira sorrindo pra mim e gritando mais alto que a música.
-Estou entediada. -grito de volta.
-Leva três doses de Camplin para a mesa 9.
-É pra já. -sorrio.
Pego uma bandeja com três copos, coloco duas pedras de gelo em cada um, sirvo a bebida e levo para a mesa 9.
Antes de chegar lá para vê-lo de perto, automaticamente já o reconheço.
Jonathan Delevigne está sentado na mesa com dois homens. Ambos de terno. Respiro fundo e continuo andando tentando parecer indiferente. Assim que me vê, ele abre um sorrisinho. Ignoro. 
-Senhores... -digo entregando-lhes os copos.
-Olá Sarah. -Jonathan diz.
-Olá senhor Delevigne.
Respondo educadamente em um tom formal. Ele apenas da de ombros achando graça. Qual é o problema dele?
Quando me viro pra sair um dos homens que estava na mesa segura meu braço.
-Tem como você me trazer mais gelo?
-Claro. Mais alguma coisa?
-Se puder, traga a garrafa de Camplin e uma água mineral sem gás. -Jonathan me encara.
Balanço a cabeça afirmativamente e abro um sorriso forçado.
Quase corro para trás do balcão, Jonathan está lindo como na outra noite, formato de seus olhos e sua expressão irônica sempre caem perfeitamente bem com os ternos, e falando em ternos, tenho que dar um jeito de devolver seu blazer.
Pego umas pedras de gelo, coloco no baldinho, uma água com gás, um copo e praticamente imploro para a Flávia levar no meu lugar e atender a mesa para mim. Não estou afim de ver Jonathan novamente.
-Por que não quer atendê-los? São lindos!
-Não sou tão boa para atender essa gente importante.
-Ah, mas que bobagem!
Reviro os olhos e volto a atender outras mesas, hora ou outra dou uma rápida olhadinha para a mesa 9, quase sempre Jonathan está sério apenas observando a conversa. O que será que está pensando?
-Ei! -grito para a outra garçonete que esqueci o nome. -Vou ao banheiro!
Ela confirma com a cabeça e eu ando rapidamente até o banheiro. Faço minha higienes, lavo as mãos, enxugo e encaro meu reflexo no espelho.
Se minha mãe soubesse de tudo o que está acontecendo, se ela não estivesse naquela maldita cama de hospital, se eu não estivesse fingindo estar bem toda vez que vou visita-la, como ela iria reagir ao me ver assim, trabalhando em um bar e sendo ameaçada pelo seu ex-marido?
Pensar em como minha vida mudou depois do diagnóstico de sua doença, me faz querer chorar até acabar todas as lágrimas que meu corpo é capaz de produzir. Queria que tudo isso fosse uma grande mentira, assim como todas as histórias que tenho inventado para minha mãe.
Balanço a cabeça e saio do banheiro limpando os olhos marejados, acabo esbarrando em alguém. Droga.
-Desculpa. -levanto a cabeça e paraliso.
Verde.
Essa é a cor dos olhos de Jonathan Delevigne.
Olhos que prendem, com uma intensidade assustadora que me deixa com as pernas bambas. Analiso seu rosto e paro em sua boca bem desenhada. Que boca! Seus lábios carnudos parecem macios e me pego com o desejo de mordê-lo. 
-Você está bem?
Passo as costas das mãos nos olhos e me recomponho assim que desvio o olhar para o teto.
-Estou sim, obrigada.
-Estava chorando?
-Não. É apenas cansaço. -digo abrindo um sorriso. -Tenho que voltar pra lá, com licença.
Dou um passo para o lado, mas quando estou quase passando por ele, o mesmo segura meu braço. Respiro fundo.
-Por que tenho a impressão de que você está fugindo de mim?
-Não estou. -digo.
-Você por acaso é comprometida?
Ele levanta uma sombrancelha soltando meu braço e ficando de frente pra mim. Por que ele está perguntando isso afinal?
-Claro que não. -solto uma risada. -Não sou desse tipo.
-Desse tipo? -ele levanta uma sombrancelha.
-Que curte romance.
Abro um sorriso e cruzo os braços. Ele sorri de volta.
-E qual é o seu tipo?
Pode até ser impressão minha, mas essa simples frase saiu bastante sedutora em sua voz. Talvez estou atraída por ele, a ponto me sentir quente apenas por estar perto dele.
Qual é meu tipo afinal?
-Acho que do tipo anti-romantismo.
Ele ri exibindo dentes extremamente brancos.
-Isso é interessante. -ele se aproxima.
-Você acha?
Levanto uma sombrancelha e, sem me controlar, me aproximo dele também. Preciso daqueles lábios em mim.
-Com toda a certeza senhorita Watson...
Ele se inclina para a frente e me beija suavemente. Meu corpo se acende. Seus lábios são tão macios quanto eu imaginei, talvez até mais. Coloco minha mão em sua nuca e o puxo para mais perto, sinto seus braços firmes ao redor de mim e intensifico o beijo, quero ver o que ele é capaz de fazer.
Jonathan não recua em momento algum, me guia até o banheiro feminino e antes que alguém possa nos ver, entramos em uma das cabines sem parar de nos beijar.
Ele cola seu corpo no meu enquanto me imprensa na parede, sua língua explora toda a minha boca de uma maneira deliciosa, puxo seus cabelos macios e passo as unhas pela sua nuca enquanto ele passa as mãos pelo meu corpo.
Quando nos afastamos, sua respiração está tão ofegante quanto a minha, como se estivéssemos acabado de correr uma maratona.
-Deus do céu Sarah...
Ele sussurra dando um passo para trás e passando a mão pelo cabelo.

PURO DESEJO - Conteúdo AdultoOnde histórias criam vida. Descubra agora