5- A problemática

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...Dois anos atrás...

Estava mordendo minha bochecha por dentro, enquanto observava o doutor Hunnes escrever algo na prancheta sobre mim. Internamente torcia para que minhas respostas fossem convincentes o suficiente para que nunca mais tivesse que voltar aqui.

- Então Roberta, como se sente hoje? - o psiquiatra perguntou ao me olhar.

- Me sinto bem - isso não era mentira.

- Tem deixado os pensamentos suicidas? - perguntou olhando com desconfiança.

- Sim! - isso era mentira.

Olhou fundo em meus olhos como se pudesse me ler por dentro. Sempre senti um certo incômodo quando ele fazia isso.

- Não tem pensado mais de jeito nenhum em se matar?

A verdade é que eu ainda pensava nisso todos os dias, mas não com a mesma frequência de antes.

- Não, doutor, não tenho pensado em me matar.

- Não está me dizendo isso apenas para eu suspender as consultas, não é ?

Sim!

- Não! É claro que não. Eu me sinto bem, eu juro!

Falei de maneira firme e ele me encarou inexpressivo, antes de continuar.

- E as vozes? Deixou de ouvir?

À noite quando ia dormir, ainda podia ouvir o choro da minha irmã, ainda podia ouvir o som do meu dedo apertando o gatilho.

- Não ouço mais nada.

Fez-se uma pausa antes dele responder.

- Tudo bem, irei suspender alguns medicamentos e acrescentar outros. Mas você ainda virá aqui ao menos uma vez no mês, estamos entendidos?

- Sim!

Eu quis gritar por entre os corredores do Instituto psiquiátrico, de certa forma me senti livre pela primeira vez.

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03h42

- Quanto tempo mais vai nos prender aqui se não somos culpadas?

Roberta perguntou para o delegado que tinha os olhos fitos nos depoimentos dos outros jovens.

- Quem me garante que não são? - ele retrucou.

- Eu garanto, até porque se fosse matar alguém não deixaria vestígios, muito menos seria pega no local do assassinato. Iria calcular, arquitetar, planejar e não fazer algo de amador assim.

O delegado arregalou um pouco os olhos com a audácia da jovem e depois abriu um sorriso contido.

- Talvez você não tenha matado mesmo, mas seria um ótimo cabeça para o tal crime. Quem sabe não seja você, não é? A idealizadora disso tudo.

- Sinto muito, delegado, se pensa que suas palavras me encurralam de alguma forma. Não é fácil me manipular, então me desculpe desaponta-lo, mas não vou admitir algo que não fiz. Nem eu nem minhas amigas matamos Lana. Por isso, lhe aconselho a guardar essa sua manipulação psicológica fajuta, porque comigo não rola.

Eu tenho um segredoOnde histórias criam vida. Descubra agora