4- A perfeita

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- Isabella Petronieri... - Rômulo falou com ênfase o sobrenome da garota diante de si - Um nome de peso, não acha?

A loira apenas deu de ombros como se aquilo não tivesse importância para ela.

- Quantos milhões acha que seu pai vai desembolsar para apagar esse escândalo? Qual manchete a senhorita prefere? - então o delegado colocou a mão na altura dos olhos como se estivesse fazendo as palavras surgirem em letras brilhantes diante dele - "Filha do primeiro ministro: Cúmplice ou inocente? Assassina ou vítima?" Ou talvez "A filha não tão perfeita?" ou quem sabe "Primeiro ministro, filha e sangue". Que tal? O que acha?

A jovem suspeita ficou se perguntando se o delegado fizera uso do mesmo tom irônico com suas amigas, da mesma forma que estava usando com ela.

- Acho que você é péssimo nisso, seria um jornalista horrível.

O delegado gargalhou e concordou com a jovem, então pegou a ficha da adolescente e começou a ler em voz alta como se estivesse declamando um poema lindo.

- Ganhadora de dois prêmios de dissertação, ótimas notas em todas as matérias, fluente em italiano, inglês, espanhol, português e francês. Voluntária em uma monitoria para alunos com dificuldade em ciências exatas. Toca piano, violino, flauta, violão e saxofone. Joga tênis, handebol e já participou de um campeonato estadual de xadrez, saindo em terceiro lugar. - ele fez uma breve pausa - medalha de bronze no xadrez, mas eu lhe daria medalha de ouro em tudo - abaixou as fichas em sua mão e encarou a jovem - Uau! Fiquei cansado só em ler, Senhoria Petronieri, eu estou muito impressionado, você existe mesmo? Parece que seus pais lhe deram uma excelente educação. A senhorita é perfeita!

A loira deu um leve sorriso, ainda se sentindo incomodada pelo tom sarcástico do delegado.

- Eu não me resumo a isso.

Falou com prepotência e Rômulo sorriu se recostando na cadeira.

- Ah! Não? Então quem é você de verdade?

Bella era de família rica, fora criada tendo os melhores mimos e cuidados. Nascera na capital da Itália, mas mudou-se de seu país de origem aos cinco anos de idade. Seu pai era um renomado advogado até que entrou para a carreira política e agora exercia o cargo de Primeiro Ministro do país, ou seja, sua família sempre teve uma imagem pública a zelar. Talvez por isso, Bella tenha sido criada em uma redoma de vidro, criada para ser exemplar e admirada. Vez ou outra sua família estampava capas de revistas famosas da classe média alta, por não ter irmãos, caia sobre os ombros da loira a responsabilidade de transmitir para o mundo a imagem de menina perfeita. Assim, cresceu frequentando classes de idiomas, clubes de esportes, aulas de música e tudo que pudesse torna a garota ainda mais exemplar. Apesar do poder aquisitivo de sua família, a loira não era uma adolescente deslumbrada, tinha valores éticos e morais, principalmente devido à educação cristã que recebera nas escolas que estudou quando criança. Gostava de defender suas ideias e sabia usar do tom arrogante para colocar alguém no lugar, eram os resquícios que tinha às vezes de uma garota mimada. Assim, era adorada por todos, sempre viveu rodeada por amigos, mas se perguntava se alguns gostavam mesmo do que ela era ou do que tinha. Na escola sempre foi a melhor aluna, mas em nada parecia uma nerd isolada, na verdade Bella era imensamente popular e invejada. Sua beleza era singular, de longe se via que era de algum país europeu, seu cabelos loiros combinavam com sua pela clara e olhos cinzas. Seu sorriso brincava fácil nos lábios desenhados e vermelhos que a garota tinha, tinha um piercing no nariz que só usava quando estava longe dos pais, seu corpo era bonito ao ponto de ter sido convidada para estampar uma revista de moda, pedido esse que fora negado por seu pai. O fato era que Bella possuía todas as atribuições para ser a garota perfeita e ela conseguia transmitir isso a todos com naturalidade, o que ninguém sabia era que no fundo ela não era nada do que aparentava ser. A loira desejava se aventurar pelo mundo, viver aventuras, experimentar o mundo e viver sensações. E foi quando conheceu Vanessa que a jovem experimentou as melhores sensações que a vida lhe podia oferecer, só então entendeu porque nunca havia se interessado pelos garotos que a paqueravam. Entre tantos desejos ocultos que Bella nutria pelo mundo, Vanessa era seu maior desejo e segredo, jamais poderia contar isso aos pais que amava uma garota. Esse era o problema de viver de aparências.

Eu tenho um segredoOnde histórias criam vida. Descubra agora