— Puta que pariu! – a moça de cabelos negros e uma tiara vermelha de pano na cabeça quase gritou, cuspindo o líquido que havia acabado de levar à boca.
O dono dos cabelos ruivos fez uma careta, sentado à sua frente, colocando a mão em frente ao rosto – tarde demais para se proteger da maioria dos respingos em tom marrom, quase preto, que voara em sua direção. A garota ao seu lado deu uma risadinha.
— Que café horrível! – ela completou depois que cuspiu
— Luana, você é tão obtusa! – a garota falou.
Luana olhou para a amiga, arqueando a sobrancelha, como se duvidasse que logo ela estivesse usando aquela palavra.
— Não me espanta que as pessoas ficaram loucas nessa casa, com um café desses.
— Lua! – a voz masculina a censurou.
Luana levou a mão a boca, tomando consciência do que acabara de dizer. A garota a sua frente deu outra risada, dessa vez sem tentar esconder, jogando os cabelos para trás. O rapaz, ao lado dela, balançou a cabeça, dando um sorriso torto, enquanto brincava com a caneca de café a sua mão.
— Onde você aprendeu a ser tão maldosa? – ele disse, por fim.
— Comigo, é claro – a menina sacudiu os ombros para cima e para baixo – Muitos anos de convivência, você sabe, as pessoas acabam aprendendo.
Ele a encarou e Luana decidiu se levantar para não sentir aquela sensação de novo, toda vez que via os dois amigos juntos. É claro que seu coração romântico havia sido reabastecido depois que as pessoas mais opostas que ela conhecera ficaram juntas. E ela estava feliz. Mas isso não mudava o fato de que toda vez que os via trocando carinho e aqueles olhares uma sensação desagradável preenchia seu coração.
Luana não queria pensar nisso. Portanto, ela jogou o líquido da sua caneca fora e começou a abrir os armários a procura da vasilha de café.
— O que é que você tá fazendo, sua maluca? – sua amiga disse.
— Procurando a vasilha de pó.
— Mas que absurdo você procurar pó bem em frente de uma pessoa que acabou de sair da reabilitação! Olha os modos, moça! – o rapaz disse, em tom divertido.
Lua rolou os olhos, mexendo as mãos por sobre o ombro, ainda de costas. Os dois sentados à mesa deram uma risada juntos.
— O café não está tão ruim assim – ele disse.
— Isso nem pode ser chamado de café, Pedro – ela grunhiu.
— Até parece que você não conhece sua amiga, é claro que ela não poderia deixar um café desses na garrafa.
— Mas, cacete, quem nessa casa vai mesmo beber café depois do que aconteceu? A única coisa que o Caio pode vir a querer depois de tudo é ficar de porre.
— Então ele vai precisar de um café bem forte quando a ressaca chegar.
— Mas até a ressaca chegar, esse café vai estar frio.
Luana se virou, os olhos cerrados para o amigo. Pedro sufocou um grunhido encolhendo-se na cadeira.
— Deixa ela, Pê – a menina disse ao lado dele, apertando sua mão – A Lua só quer se manter ocupada, tá? Deixa ela.
Luana deu um sorriso para a melhor amiga. Quando foi que logo a Vênus – a pessoa mais desequilibrada que Lua havia conhecido – tinha se tornado tão sábia, afinal? Ainda era difícil para ela acompanhar essas mudanças. Na verdade, tudo estava acontecendo rápido demais ao redor de Luana e a sensação que ela tinha era de que estava ficando para trás.
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Doses Lunáticas de Amor e Café [AMOSTRA]
Chick-LitOs Cafés são esses lugares cheios de escritores, trabalhadores, lunáticos e, claro, histórias. Muitas histórias! Luana sabia muito bem disso, porque era dona de um e porque estava sempre cheia de muitas histórias para contar. Seus olhos negros raram...