Capítulo 1 - Café Para Recomeçar

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— Puta que pariu! – a moça de cabelos negros e uma tiara vermelha de pano na cabeça quase gritou, cuspindo o líquido que havia acabado de levar à boca.

O dono dos cabelos ruivos fez uma careta, sentado à sua frente, colocando a mão em frente ao rosto – tarde demais para se proteger da maioria dos respingos em tom marrom, quase preto, que voara em sua direção. A garota ao seu lado deu uma risadinha.

— Que café horrível! – ela completou depois que cuspiu

— Luana, você é tão obtusa! – a garota falou.

Luana olhou para a amiga, arqueando a sobrancelha, como se duvidasse que logo ela estivesse usando aquela palavra.

— Não me espanta que as pessoas ficaram loucas nessa casa, com um café desses.

— Lua! – a voz masculina a censurou.

Luana levou a mão a boca, tomando consciência do que acabara de dizer. A garota a sua frente deu outra risada, dessa vez sem tentar esconder, jogando os cabelos para trás. O rapaz, ao lado dela, balançou a cabeça, dando um sorriso torto, enquanto brincava com a caneca de café a sua mão.

— Onde você aprendeu a ser tão maldosa? – ele disse, por fim.

— Comigo, é claro – a menina sacudiu os ombros para cima e para baixo – Muitos anos de convivência, você sabe, as pessoas acabam aprendendo.

Ele a encarou e Luana decidiu se levantar para não sentir aquela sensação de novo, toda vez que via os dois amigos juntos. É claro que seu coração romântico havia sido reabastecido depois que as pessoas mais opostas que ela conhecera ficaram juntas. E ela estava feliz. Mas isso não mudava o fato de que toda vez que os via trocando carinho e aqueles olhares uma sensação desagradável preenchia seu coração.

Luana não queria pensar nisso. Portanto, ela jogou o líquido da sua caneca fora e começou a abrir os armários a procura da vasilha de café.

— O que é que você tá fazendo, sua maluca? – sua amiga disse.

— Procurando a vasilha de pó.

— Mas que absurdo você procurar pó bem em frente de uma pessoa que acabou de sair da reabilitação! Olha os modos, moça! – o rapaz disse, em tom divertido.

Lua rolou os olhos, mexendo as mãos por sobre o ombro, ainda de costas. Os dois sentados à mesa deram uma risada juntos.

— O café não está tão ruim assim – ele disse.

— Isso nem pode ser chamado de café, Pedro – ela grunhiu.

— Até parece que você não conhece sua amiga, é claro que ela não poderia deixar um café desses na garrafa.

— Mas, cacete, quem nessa casa vai mesmo beber café depois do que aconteceu? A única coisa que o Caio pode vir a querer depois de tudo é ficar de porre.

— Então ele vai precisar de um café bem forte quando a ressaca chegar.

— Mas até a ressaca chegar, esse café vai estar frio.

Luana se virou, os olhos cerrados para o amigo. Pedro sufocou um grunhido encolhendo-se na cadeira.

— Deixa ela, Pê – a menina disse ao lado dele, apertando sua mão – A Lua só quer se manter ocupada, tá? Deixa ela.

Luana deu um sorriso para a melhor amiga. Quando foi que logo a Vênus – a pessoa mais desequilibrada que Lua havia conhecido – tinha se tornado tão sábia, afinal? Ainda era difícil para ela acompanhar essas mudanças. Na verdade, tudo estava acontecendo rápido demais ao redor de Luana e a sensação que ela tinha era de que estava ficando para trás.

Doses Lunáticas de Amor e Café [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora