início

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A missão de paz fora aprovada. Era mista e patriota, sem indícios de que sofreria algumas breves derrotas. E se tudo fosse preciso não seria a consagração de uma mente sábia e vistosa.

Cabelos espessos, pretos com tons de vermelho, sapatos de intelectuais, pretos com tons de amarelo fugaz. Chamava a benção, temia não estar na lista de consagrados como era já um tempo. Orava, entretanto, pela bondade de quem já não tinha, pedia com fé a quem acreditava não a deixas sozinha.

Há horas atrás, percorria um caminho chato, machucado por quem não se interessava e marcava a cada passo com suas lágrimas. Ana de Oliveira, menina a quem se dizia ser a nova moça cobiçada e solteira, pura de luxúria e manchada de coração. Ana pensava na vida que levaria, pensava nas penitências que teria que continuar a pagar e no sofrer que não queria ser destinada a se sacrificar. Sentia sua mãe a cantarolar e brevemente já sentia o coração apertar. Era sua mãe, a quem deveria avisar? Não sabia, se sua mãe de luz, a impediria. Mas tinha medo do seu pai, qual expressão e qual sapato ele iria utilizar.

Temia pelo que não acontecera e acovardara a horas arrastadas.

Caetano tinha mãos grandes e Ana não gostava das mãos dele. Eram grandes e assustadoras como a de seu pai, e Caetano parecia apreciar conversar com seu pai. Caetano era seu noivo, forte, trabalhador, sério e incrivelmente um moço novo. Mesmo assim, Ana não se interessava, casar-se com o moço era uma menção de anos iguais ao que já costumava a passar.

Queria desfrutar de emoções que não a deixaram experimentar, sentia sua pele formigar e emoções surpresas, se aconchegarem. Aceitava de bom grado, tolerava o misto de um toque chamuscado, com cheiro de fogo e incrivelmente enlouquecedor. Adorava a sensação de ser a nova estrela do rock em ascensão, corria nos sonhos e sentia que a hora estava perto. Não queria ter que se obrigar a chorar por causa do tédio, de uma vida sem rodas gigantes da qual nunca foi, da qual queria, antes do abraço da morte, sentir.

Sua casa, velha, desprovida de toques modernos, a fazia ansiar o vômito. Era estranha a sensação, não gostava da falta de beleza, do toque moderno a que alguns anos se interessara. Correu em disparada, sua mãe não estava em casa, seu pai nunca estava em horas a quais o sol permitia a lua, uma breve estada. Sua mochila, rosa apagada, cantava canções de filmes da barbie que ainda cultuava, seria a guardiã dos seus pertences, escolhidos milimetricamente para o dia em que uma garota sorriria para a vida e juraria que nunca mais a deixaria.

A vida dizia que não permitia a entrada de garotas com malícia. Falava, dialogava, resmungava: quem é essa garota que insiste em tentar mudar sua vida já destinada?

Ana de ninguémOnde histórias criam vida. Descubra agora