Ana de ninguém

meio

O tempo havia se perdido, demorando-se a passar e provocando inquietude no batucar dos dedos e no balançar das pernas. Ana prontificou-se a buscar soluções urgentes, demorava-se mais alguns minutos e seu pai já poderia chegar acompanhando de seus outros parentes.

-Moça, diga por favor que o ônibus 'jajá estará presente? - A moça tinha pose de não ser boa gente, seu olhar traduzia todas as respostas evasivas que ela repetia durante todo o dia.

- Ocorreu um acidente com o único ônibus que viria hoje, amanhã será um melhor dia.

Irritou-se, mas não revelou suas emoções, estava sem esperanças como há muito tempo em sua vida, buscava felicidade, porém não parecia que a mesma queria ser encontrada.

Pedia ao universo sinais de tudo que poderia fazer, esperou, chorou, cansou. Foi-se embora da rodoviária, do ponto de encontro e das despedidas, da esperança e das boas novas. Foi-se para a estrada, e encontrou o que procurava.

- Oi. Quer uma carona? - Tinha um sorriso bonito, mas não era o retrato de esperança que imaginara. Estava acompanhado de mais três moços, que tinham pinturas em todo o corpo e uma van caindo aos pedaços. - Sou o Júlio, fomos colegas na sétima série, lembra?

O alerta vermelho ofuscava seus pensamentos, confiaria em três garotos desconhecidos e seu ex colega cujo seus últimos seis anos não havia tido conhecimento?

Sentia que aquela escolha não era simples, não era apenas uma carona até um destino, era essa escolha que definiria os próximos anos de sua vida, bons e ruins, doces e amargos.

Aceitou e não olhou para trás, os garotos eram bons e maus, tinham como religião o rock e o seu deus, as drogas. Ana não tinha destino e acabou por se contentar ali, beijara Júlio e se apaixonara, conheceu as drogas e foi fisgada.

Às vezes pensava se poderia ter forças para sair de onde se encontrava, se deveria voltar para casa com as costas curvadas e um pedido de desculpa costurado em sua alma.

Era o meio, mas logo seria o fim.