Capítulo 9

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Quinta-feira. Hoje era quinta-feira. Eu sabia o que isso significava. Depois da aula eu iria me encontrar com Bernardo para ele me ajudar a ir bem em química. Qual a possibilidade disso dar certo? Bom, eu também não sei, mas o que estava feito estava feito.

Quando chego na sala de aula, é quase impossível não olhar para Bernardo, ele estava virado de costas para a porta e por isso não me viu entrando. Os amigos dele percebem que eu estava o olhando, cutucam Bernardo e apontam com a cabeça para mim. Tento desviar o olhar, mas ele se vira, sorri e acena. Primeiramente fico surpresa, e tenho que tomar cuidado para não demonstrar minha reação. Que bipolaridade! Eu certamente não conseguia entender esse menino.

As aulas passam tão devagar como se cada minuto fosse uma eternidade, como se isso já não bastasse as aulas foram chatas e entediantes, quando o sinal bate, anunciando o término das aulas, quase suspiro de alívio. Pego meus materiais e quando olho para porta vejo Bernardo encostado, olho ao redor e vejo que não tem mais ninguém na sala, o que só poderia significar uma coisa: ele estava me esperando.

- Você pode ficar ai observando minha beleza, ou pode se apressar para gente ir e voltar logo, o que acha? – diz brincando.

- Claro. Até porque você tem muita beleza para exibir né? – respondo revirando os olhos.

- Não sei... – ironiza. – Talvez eu tenha. Quer descobrir?

- Não, eu passo. – digo estendendo a mão e caminhando em sua direção.

Chegamos na biblioteca, ela era grande, e bem clara devido as janelas e as luzes brancas. Estantes se estendiam por todos os corredores. Bernardo abre a porta e faz um gesto exagerado, pedindo para eu entrar. A biblioteca estava vazia, tinha apenas umas cinco pessoas e nenhuma delas eram da nossa classe.

Escolhemos uma mesa perto dos livros de estudos e perto da janela. Pego minha apostila e meu caderno, olho para o lado disfarçadamente e vejo Bernardo me encarando.

- O que foi? – ele pergunta.

- Não vai pegar seus materiais, anotações ou sei lá? – pergunto e ele solta uma risadinha forçada.

- Eu não anoto nada, não preciso. – ele se gaba.

- Como você consegue?

- Alguns nascem perfeitos...

- Me poupe. – digo revirando os olhos. – Chega de conversa fiada, por onde começamos?

Ele fita o caderno e bate os dedos no caderno como se estivesse pensando.

- Me deixe ver sua prova. – ele pede e passa ps dedos entre os cabelos pretos e bagunçados. Remexo minha bolsa procurando a prova, quando a encontro, entrego para Bernardo. Ele analisa minhas respostas apoiando o queixo nas mãos. Depois de minutos que se parecem ser uma eternidade para mim, ele finalmente faz uma coisa: ele ri. Sinto que fico vermelha, parte por raiva e parte por vergonha.

- Ei! – é tudo o que consigo dizer no momento.

- Não acredito que errou bobeiras como essas Bia. Pelo amor de deus, me diz que tirou essa nota porque quis.

Eu fico quieta e ele fica sério instantaneamente.

- Bia, você aparenta saber as respostas, fez as coisas e tem até alguns rascunhos certos, mas certamente tirou essa nota porque quis. Você leu o que escreveu?

Nego com a cabeça.

- Não faz sentido, e qualquer um que saiba pelo menos um pouco de química sabe disso. – ele arqueia as sobrancelhas.

Okay, tenho que admitir que depois dessas falas ele pareceu ser ainda mais inteligente.

- Ta! – me entrego fechando os olhos e enterrando a cabeça nas mãos. – Sou burra ta legal?

- Bia, você não é burra, só não presta atenção no que faz. – conclui. – Olha aqui. – ele aponta para uma questão e me explica detalhadamente os meus erros. E questão por questão ele explica, para minha surpresa extremamente bem de tal forma e consigo entender absolutamente tudo.

Não sei exatamente quanto tempo se passou desde que chegamos na biblioteca, mas quando eram 15:00 horas minha mãe me manda uma mensagem:

Mãe: Bia? Ta na escola ainda?

Bia: sim to estudando

Mãe: sozinha?

Bia: não, tem um menino me ajudando

Mãe: um menino?

Bia: Mãe! A professora que pediu pra ele ajudar

Mãe: uhum... entendi

Bia: fala sério mãe!

Mãe: nao falei nada! To indo te buscar, vamos sair

Bia: ok

- Então... – digo. – Preciso ir.

- Tudo bem. – um silêncio constrangedor tinha começado quando me lembro que eu deveria agradece-lo.

- Bom... Obrigada. – forço um sorriso. Ele me encara com um sorriso branco e os olhos castanhos. Reparo que suas íris tinham pequenas machas mais claras.

- De nada garota antipática.

Saímos da biblioteca, estava muito sol, por isso estava difícil de enxergar, um vento bate fazendo meus cabelos voarem. Ficamos de frente um para o outro, sem saber muito o que dizer.

- Foi legal garota antipática, vamos ver se eu consigo fazer você tirar pelo menos 8,5 na próxima prova. – Bernardo quebra o silêncio. Sorrio sem-graça.

- Ok.

Vamos caminhando para entrada da escola, que era onde minha mãe iria me buscar.

- Então Beatriz Sousa, como foi sua aula com seu professor novo?

- Ah, foi razoável, na verdade foi melhor do que pensei, não foi uma tortura completa.

- Bom saber. – Ele diz sorrindo. – Até parece que você não me odeia agora.

Faço uma careta. Ele abre a boca para dizer algo, mas fecha assim que eu me viro e vejo o carro de minha mãe se aproximando.

- Então... Nos vemos amanhã. – digo por fim.

- Certo. – ele responde com um aceno.

Minha mãe estaciona o carro ao meu lado e abre a janela. Entro no carro.

- Estava estudando? – ela pergunta com um olhar malicioso e com um tom de dúvida na voz. Reviro os olhos em resposta. – Com... ele? – ela diz dando ênfase no "ele".

- Acredite se quiser, mas sim. – dou um suspiro pesado.

- Poxa, ele é bonito ein?

- Eu sei. – finalmente admito para alguém. – Mas também é irritante, e inteligente.

- Isso é para provar que nem todo menino bonito é burro.

Não digo nada. A verdade era que eu não tinha odiado essa aula de estudos que tive com Bernardo, ele foi legal o dia todo e parecia que nossa relação estava melhor do que antes, mas não podia chama-lo de amigo ainda, além disso parte de mim tinha dito para eu não me aproximar dele. Uma das razões para eu sempre me dar bem na vida era por eu não me envolver com esse tipo de pessoa: popular, bonito, não obediente, mas agora estou quebrando essa regra e espero que o fato de eu estar quebrando essa regra não prejudique tanto minha vida.

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