Capítulo 32

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Perdi a noção dos tempo conforme os dias foram passando. As férias estavam chegando ao fim e eu estava tentando não parecer preocupada sobre como as coisas entre Bernardo e eu seriam dentro da escola. Ele sempre foi uma pessoa meio popular e explosiva, eu por outro lado, costumo ser invisível, não sei como essa combinação seria para os outros que nos vissem pelo lado de fora.

Estávamos na última semana de férias e íamos para o cinema com o pessoal. O garoto que Larissa conheceu na praia parecia ser um cara legal, e pela primeira vez, Larissa concordou em trazer ele para sair conosco.

- E então, tem uma comédia romântica top passando. – Larissa fala. Eu torço a cara. Por mais que esteja vivendo meu próprio romance, ainda não gostava de ver esse tipo meloso de filme.

- Eu estava pensando em uma coisa um pouco mais sanguinária... – Digo.

- Acho que vi um trailer de um filme de terror... – Pedro começa a falar mas Larissa o interrompe.

- Não! Eu odeio filme de terror.

- Não é de terror, é um tipo de mistério. – Bernardo diz dando um olhar furtivo para Pedro que se cala. O filme era de terror, mas talvez conseguiríamos convencê-la a assistir esse.

- Qual é Larissa, filmes assim costumam ser tão bobos que dá até vontade de rir. - Letícia complementa e ouço uma risadinha sair de Diego.

- Por favor... – Suplico. – Vai ser legal.

- Ta bom... – Ela diz finalmente revirando os olhos. Solto um gritinho e bato palmas.

Vamos para a bilheteria comprar os ingressos. Ainda teríamos um tempo antes do filme, então sentamos nas poltronas para conversar. Havia um sofá enorme, e algumas poltronas separadas na frente, com uma mesa separando os dois. Eu e Bernardo nos sentamos no sofá, Larissa e Diego se acomodam na poltra na nossa frente, e Letícia e Pedro se sentam ao lado dos dois.

- Não acredito que as férias estão no fim. – Letícia fala um tanto dramaticamente triste.

- Mais um semestre inteiro. – Solto.

- Depois finalmente vamos para o terceiro. Último ano acreditam? – Lari diz.

- Nem é tudo isso. – Bernardo fala e bufa. – Só mais um ano de aprendizado para no fim fazer uma prova com todas as matérias juntas que nunca vamos usar na vida. Pelo menos nem um terço delas.

- O Diego ta no último ano. – Larissa aponta.

- Concordo com Bernardo. – Ele fala rindo. – Não é nada demais. Tem a graduação claro, mas até chegar lá são mais de um semestre inteiro de puro tédio. E ainda tem a merda dos vestibulares, que além de ser chato e difícil, são caros.

- Você estuda onde? – Pedro pergunta.

- Vocês não vão conhecer, é uma escola minúscula que ninguém conhece. Fica perto do centro. – Responde.

- Acho que sei qual é. Não é aquela onde tem os riquinhos que se acham? – Letícia indaga.

- Letícia! – Larissa repreende. Vejo Diego corar meio tímido.

- Está tudo bem. – Ele diz sorrindo. – É verdade em partes. Mas tem bastante bolsista lá, então não é todo mundo rico.

Vejo Letícia dar de ombros.

- No segundo ano não nos importamos com nada além de nos divertir. Inclusive, acho melhor assim, e quando chegamos no terceiro, nós não iremos nos arrepender de ter aproveitado os anos anteriores, já que teremos que focar nas aulas. – Bernardo diz.

- Fácil para você dizer. Você é inteligente. – Falo sarcasticamente. Ele ri.

- Nem por isso deixo de ir em festas e aproveitar... – Rebate.

- Não sei nem por que estamos falando disso. – Larissa começa. – Literalmente estamos sofrendo antecipadamente. A gente tem tempo ainda. – Conclui.

- Eu concordo, acho que não temos que pensar nisso agora. – Pedro concorda.

- Ainda assim não consigo entender por qual razão temos que nos encaixar nos padrões da sociedade quando se trata de provas padronizadas. Quero dizer, como Bernardo disse, não vamos usar praticamente nada do que aprendemos no futuro. Quem quer fazer letras por exemplo, não vai ter que usar matemática nunca mais na vida. A não ser quando se trata de finanças, então porque não dar apenas aula financeira para os alunos? – Letícia fala.

- Para isso teria que dividir os alunos dependendo do curso que eles gostariam de fazer, mas pensa, e se eu começo o ensino médio querendo ser médico, mas depois quero virar engenheiro? Eu teria perdido todos os anos anteriores e teria que fazer algo que eu não gosto para o resto da vida. – Bernardo indaga.

- Pensnado dessa maneira faz sentido. – Ela o responde.

- Mas medicina é muito diferente de engenhearia, e se as pessoas dividissem por gosto de matérias? Por exemplo, eu gosto e me dou melhor com exatas, então é provável que vá fazer um curso relacionado à exatas. Foco minhas aulas em exatas. – Pedro diz.

- Acho que seria uma boa ideia se realmente desse certo. Mas acho que reformular todo o método de ensino do Brasil inteiro não seria fácil. – Concluo.

- Caramba, esse assunto está sério. – Larissa fala rindo.

- Reflexão do dia. Ensino Médio é um saco. – Digo. E os outros murmuram em concordância.

- Pelo menos não temos que enfrentar sozinhos. – Letícia sorri ao dizer.

- Acho que temos que entrar. – Bernardo nos chama.

Larissa deu gritinhos e se encolheu durante a maior parte do filme, ela também mantinha os olhos fechados em muitas das cenas, isso nos fez rir muito e acabou que o filme foi mais engraçado do que aterrorizante.

Bernardo já estava me levando para casa quando comecei a pensar em como foi uma noite bem incrível, o que me fez relembrar como eu estava relutante quando me mudei, como eu havia sido má com meus pais por causa disso. Isso me faz me sentir mal, eles não mereciam toda a grosseria gratuita que eu estava dando.

Eu acabei me encontrando nessa cidade. Óbvio que sentia falta de Porto Alegre, mas a cada dia que passo aqui, tenho amado cada vez mais. São Paulo não é tão ruim, possuí seus baixos, mas sinceramente, sei que se não fosse pelas amizades que cultivei aqui, eu ainda estaria odiando a mudança. Mas agora me sinto bem o suficiente para querer ficar, agora tenho uma razão para ficar.

- Bia? – Bernardo me chama me tirando de meus desvaneios. Eu sorrio em resposta.

- Estou bem. – Eu suspiro. – Quando me mudei para cá eu estava sendo extremamente ruim com meus pais. Me sinto mal por isso, causei muitos problemas.

- Você não queria ter vindo? – Ele pergunta curioso.

- Odiei que teríamos que nos mudar. Discuti um monte com meus pais, não foi muito certo da minha parte. Mas não queria abandonar a cidade que eu gostava, muito menos deixar minha melhor amiga para trás. E ainda que sou meio tímida, então teria que fazer novos amigos, o que para mim sempre foi um problema.

- Um problema foi tentar ser seu amigo. Você foi insuportável no começo. – Ele responde rindo.

- É, acho que fui. Mas Ber?

- hm? – Ele pergunta sem tirar os olhos da estrada.

- Obrigada por não ter desistido. – Ele vira para me olhar e dá um sorriso genuíno. Ele puxa a mão que estava no meu colo e trás para si dando um beijo suave, esse jesto foi o bastante para confirmar que foi o certo a se fazer. Durante todo o resto do caminho, permanecemos com as mãos unidas.

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