Capítulo 13

20.9K 1.8K 926
                                    


As coisas entre mim e Bernardo não poderiam estar pior, já fazem uma semana que não trocávamos uma palavra, eu não tenho ido a biblioteca, e a essa altura do campeonato acredito que nem ele.

Eu, Larissa e Letícia estávamos sentadas na mesa conversando normalmente, quando uma garota alta, loira, com os olhos azuis e bem vestida se aproxima seguida por duas garotas morenas que pareciam gêmeas.

- Olá. – diz. – Acho que não fomos devidamente apresentadas, eu sou Patrícia. – ela diz colocando uma mecha de seus cabelos loiros atrás do ombro com as costas das mãos de uma maneira bem irritante. Instintivamente olho para minhas amigas, que naquele momento estavam encarando a mesa.

- Prazer, eu sou...

- Beatriz. – ela conclui me interrompendo. – Já ouvi falar de você ai pelos corredores. – Patrícia abre um sorriso falso. – Achei que estava estudando com Bernardo. – ela provoca, e tenho que me segurar para não responder de uma maneira mal-educada, sarcástica ou ignorante. As gêmeas observavam tudo de braços cruzados sem dizer nenhuma palavra, elas tinham um sorriso malicioso no rosto.

- Eu estava. – digo.

- Sério? Por que não vejo vocês juntos na biblioteca a uns dias? – ela pergunta com uma indignação exageradamente fingida.

- Digamos que eu e ele tivemos... Uma pequena discussão.

- Ah! Eu sei bem como ele é, sabe ele era meu namorado, meio difícil de lidar, aliás é assim com todas as meninas.

Não respondo na esperança de que ela vá embora.

- Foi bom te conhecer. – ela fala por fim e acena de uma maneira irritante antes de sair.

- Odeio aquela menina. – Letícia diz depois de se certificar que ela não podia mais nos escutar.

- Ela é com certeza uma falsa. – digo revirando os olhos.

- Eu não disse? Pode esperar que tem mais por vir... – Larissa conclui.

Por alguma razão olho para Bernardo do outro lado do refeitório, ele estava olhando para nossa mesa quando Patricia estava lá. Logo ele desvia o olhar. Eu queria entender o que se passa na mente desse menino para agir dessa forma.

No fim do intervalo ouço uma voz caridosa me chamando e imediatamente respondo com um sorriso forçado. A professora Milena vestia um vestidinho soltinho florido, que dava a ela uma aparência ainda mais jovem.

- Bia! Tudo bem?

- Ér... Oi. Tudo. – respondo um pouco hesitante. Qualquer um desconfiaria, mas se ela desconfiou, não deixou transparecer.

- Eu queria saber se o Bernardo está te ajudando. – imediatamente meu sorriso falso que eu estava tentando manter se desmancha, mas ai lembro que eu devia tentar fingir o máximo. Acho que o mundo devia estar conspirando contra mim para todos estarem perguntando a mesma coisa.

- É... Esta sim, você estava certa quando disse que ele era bom.

- Eu sei que ele as vezes é meio difícil de lidar, mas é um bom garoto sabe... – ela sorri radiante. – Qualquer coisa já sabe, estou a sua disposição.

- Claro. – respondo e sorrio em uma tentativa de fazer com que ela acredite na pequena mentira que acabo de contar.

Ela acena e sai ainda com o sorriso no rosto. Aquela professora era um amor de pessoa e eu estava me sentindo mal por ter mentido para ela, porque para ser sincera, Bernardo e eu não estávamos nem um pouco bem.

Por mais que eu tenha odiado a ideia, decido falar com ele, talvez se eu tomasse a iniciativa ele cedesse e pudéssemos voltar com as aulas, pelo menos até a próxima prova. Infelizmente não consegui achar Bernardo pelos corredores, então decido ir a casa dele, me lembro que durante um de nossos estudos ele perguntou se eu morava perto da escola, e após eu responder fiz a mesma pergunta a ele, e ele respondeu, deu a impressão de que ele não queria falar no início, mas por fim acabou dizendo, então eu sabia onde ele morava e podia ir até lá, poderia não ser uma boa ideia, mas não custava tentar, eu estava cansada de mentir por sua causa e tínhamos assuntos pendentes. 

Bastava ligar para minha mãe e avisar, ela iria gostar de ver que eu estava fazendo "novas amizades", e foi o que eu fiz, liguei para minha mãe e disse que ia até a casa de "um amigo" para pegar uns livros emprestados. Segunda mentira do dia. Se contar o fato de Bernardo ser meu amigo essa seria na verdade a terceira, porque eu e Bernardo estávamos bem longe de sermos amigos.

Bernardo morava a uma quadra da escola, então fui andando, o sinal havia batido a um tempo e todos que moravam perto da escola já haviam ido embora, exceto os alunos do futebol, líderes de torcida, o pessoal do programa de música, ciências e computação.

A casa dele era bem diferente do que eu imaginava, era enorme, maior que a minha e era linda por fora, um sobrado pintado de beje, com uma garagem para dois carros do lado de fora, as janelas retangulares exibiam cortinas tipo persianas e a porta era de madeira com pequenos detalhes entalhados para decorar. Um pouco hesitante toco a campainha, um tempo se passa e penso em desistir, talvez ele nem estivesse em casa, mas meus pensamentos são interrompidos quando ouço a trava se abrir. Bernardo estava usando uma roupa confortável e diferente da que eu estava acostumada a vê-lo vestir, uma bermuda preta e uma camiseta larga vermelha lisa. Ao me ver seu rosto se fecha em uma carranca e não consigo ver expressão alguma através de seus olhos claros.

- O que você está fazendo aqui? – ele quebra o silêncio.

- Eu... Decidi vir... Para tentar conversar com você. – respondo sem ter certeza de minhas próprias palavras.

- Não foi uma boa ideia, você não devia estar aqui.

- É, eu sei, mas achei que poderíamos acertar as coisas.

- É? Achou errado. – ele estava prestes a fechar a porta, quando meu instinto age mais rápido e coloca o pé entre a porta impedindo-o de fecha-la.

Ele abre a porta revirando os olhos.

- Estou cansada desse joguinho, que tal pararmos de ser crianças só por um momento e conversarmos como pessoas da nossa idade fariam? – pergunto seriamente. Ele encara o chão pensativo, como se estivesse pensando se é uma boa ideia me deixar entrar.

- Ta, entre. – diz abrindo a porta por completo.

Clichê AmericanoOnde histórias criam vida. Descubra agora