2. Um Amigo Perdido.

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Já faz 113 anos que a guerra civil que atingiu nosso país chegou ao fim, aprendemos na escola que a ambição, a sede de poder e o dinheiro motivaram a queda do governo presidencialista. Pessoas motivadas pelo ideal de paz e igualdade se rebelaram contra o governo. Mal consigo imaginar como deveria ter ocorrido, civis armados lutando contra soldados com poder de fogo mais elevado, planos de conspiração, inocentes sendo mortos. Mesmo estando em desvantagem os mais fracos venceram o governo, conseguiram derrotar o presidente em exercício, e no ano de 2020 tomaram posse do poder.

Um acordo de paz é a única forma de proteção que as três bases tinham entre si, mas esse acordo foi quebrado em menos de uma década após a guerra pela Base Norte. Ninguém sabe o motivo que os levou a quebrar o acordo. Mas o inevitável aconteceu. Sempre soubemos que a Base Sul era a mais preparada para esse tipo de situação, mas o que fizeram a povo do norte foi a demonstração de poder mais assustadora que alguém já ouviu falar. A população foi totalmente aniquilada, mesmo os que não faziam parte da rebelião foram mortos injustamente. Mesmo que corressem, se abrigassem, era impossível passar desapercebido pelas aeronaves do sul. 

Tudo foi transmitido ao vivo para as outras duas bases através de de grande telões holográficos produzidos pela base central. O governantes do sul estavam demonstrando quem estava no poder, e acima de tudo o que aconteceria com quem desobedecesse as ordem do tratado de paz.

Homens, mulheres e crianças, todos mortos. Nenhum sobrou para contar história. A partir daquele momento a Base Norte não passava de uma lenda, um fantasma usado para nos assustar. Tudo ficou no esquecimento. Essas são as únicas coisas que sabemos sobre o norte, sua história se perdeu através dos anos. Mas todos sabemos que um dia existiu.

Ao menos os acordos de paz entre as Bases Sul e Central ainda continuam firmes, nós oferecemos tecnologia e eles nos oferecem tudo o que a ciência pode oferecer. Medicamentos, professores e hospitais. A troca de alimentos também mantém os laços fortes entre nós, o sul produz todo tipo de alimentos produzidos com grãos, desde os naturais aos processados, enquanto nós temos enormes fazendas onde criamos animais para produção de carne e tecidos. 

Certa vez fomos a uma das fazendas em que são criados e reproduzidos o animais que são destinados para o abate. Nunca vimos tantos animais juntos em um mesmo local. tantas espécies e cores nos deixavam maravilhados.

Ainda me lembro de meu amigo David metido em uma de suas confusões.

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- Eric eu tenho plano.- toda vez que ouvia David dizer essa frase sentia um calafrio em minha espinha que fazia ficar com as pernas bambas. Sempre metido em confusão e muitas vezes eu também estava. Mas naquele dia seria diferente, eu não estava disposto a participar, na verdade nunca mais iria entrar em confusões. Mesmo que custasse a nossa amizade.

- Não David. Eu não vou mais entrar em mais uma de suas confusões, nunca mais.- disse com um tom sério e preste a perder a cabeça.

- Mas Eric, nós sempre fizemos isso juntos.

- Isso mesmo. Fizemos. Mas a partir de hoje não estou mais afim. Entendeu!

- Ok. se é assim que você quer, quem sou eu pra te obrigar.- Conheço David o suficiente para saber que estava tramando alguma coisa. Mas nesse caso não havia nada que eu poderia fazer, o que estava por vir já havia sido bolado a muito tempo.

- Queridos estão todos aqui.- quando ouço a senhorita C. pronunciando essas palavras imediatamente percorro com os olhos todo o aviário e aparentemente está tudo bem, mas não consigo enxergar onde está David. Mas é claro que sim esse deve ser uma parte de seu plano, a julgar que suas maiores traquinagem são feitas onde se tem muitas pessoas ou animais reunidos. Mas dessa vez seria diferente.

O pai de David era responsável pelo aviário, e era seu dever se certificar que estava tudo em ordem com as galinhas. Me lembro de algumas vezes em que David me contava que seu pai o levava para trabalhar com ele e lhe ensinava todos os comandos da sala de controle. E ele? Bom, ele odiava. 

- Olá crianças tudo bem? eu me chamo Peter mas muitos de vocês me conhecem como pai do David. Eu sou o responsável por todos os complexos de aviários e principalmente com as galinha que vocês estão observando.- mal consigo prestar atenção no que Peter diz, apenas um pensamento em minha cabeça me perturba. Se Peter está aqui, quem está na sala de controle.

De repente  ouço apenas meus colegas gritando, água caindo dos aspersores fixados no teto do aviário, e galinhas defecando e tentando alçar vôo de um lado para o outro. David. só poderia ser ele. Sou empurrado por meus colegas em direção a porta de saída.

- Está trancada.- grita a senhorita C. tapando a boca.

- Deixa comigo.- com apenas um chute Peter consegue derrubar a porta e todos saímos correndo para fora do complexo. Enfurecido, ele sai a passos largos em direção a sala de controle que fica a poucos metros do complexo em que estamos. Ao abrir a porta fica bem claro quem estava controlando os aspersores. David.

- Pai.- espantado David salta da cadeira fica paralisado, com um olhar de espanto como se tivesse visto um fantasma.

- Crianças o passeio acabou, vamos todos para o ônibus.- a senhorita C. sabia o que estava para acontecer, e não queria que víssemos.

- Mas professora estamos todos sujos e fedidos.- indaga Anne.

- Crianças entrem no ônibus. E sem reclamações.- a professora assumiu um posto mais autoritário do que o dos demais dias.

Todos fomos em silêncio para o ônibus. Aquele seria enfim a ultima vez que veríamos David.

RESISTÊNCIAOnde histórias criam vida. Descubra agora