Não deixe o coração morrer

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Nossa! Há quanto tempo, eu não vinha, no Cipoeiro, Marcelo. Como é bom, mergulhar, nesse riacho, novamente.

E tu, não pôs a sunga, por quê?

Desde que, um garoto, me perguntou, se eu, era menina, e também o Edy, quase me come, com o olhar, eu nunca mais, tomei banho de sunga, em um igarapé. Fico, com mais vergonha, ainda, de caminhar, na frente das pessoas, vestido apenas, de uma sunga.

Tuas coxas, são groças, e teu bumbum, é bem branquinho. Dá vontade, de apalpar, a tua bunda.

Para, Marcelo. Eu, não vou tirar, meu calção, pra ninguem ver..

O que, tu acha, mais bonito, em meu corpo, olha?

Vamos nadar, até aquela sapata, em baixo da ponte. Lá, tu fica em pé, em cima dela. Tem pessoas, olhando pra gente, aqui perto, Marcelo.

Vamos lá. Ninguêm sabe, o que, estamos falando, seu vergonhoso.

É tão legal, subir a conrrenteza. Aquelas pedras, ainda deixam, a conrrente de água, mais forte. E esse barulho, do atrito, da água, nas pedras me fazem regredir há, três anos no tempo.

Para de pensar, e falar, no passado. Olha as sapatas, em nossa frente. O presente e a compania agora tá muito melhor, tu não achas?

Tá muito, seu convencido.

Tu quer, que eu, te ajude, a subir, menina sonhadora?

Sim, mas não, me trate como menina. Sobe e pegue minha mão. Não vou subir, com você, levantando- me, pela bunda.  dessa forma, não.

Tu quer, que eu pegue, em tua bunda, e não adimite.

Tu quer  pegar, e não adimite. Isso sim. Sobe, e me ajude, a subir, pegando pela mão, vai..

Tá ótimo. Pelo menos, tu ver, o meu corpo, aí de baixo.

Tu é uma das grandes maravilhas do mundo, só de sunga e a água escorrendo, nesse corpo, de macho. Esse corpo, moreno é um sonho, pra quem gosta. Estou pensando, no culto, de despedida, da Floresta. 

Vamos ficar, um pouco nessa sapata. Vamos sentar, proximos, um do outro. Vamos, conversar baixinho.

Não, tão próximos, marcelo. Hoje, me sentí, um nada, Marcelo. A Andresa e a Lúcia, não puderam dá, a mínima, pra mim. Todas, de namorados e noivos. Todas, amando e vivendo. Acabaram de deixar a infância, e estão entrando direto, para a vida, de donas de casa, mães de filhos e uma só carne, com os maridos. Elas tem 15 anos de idade, e eu, apenas 16. Eu senti, que sou, um renegado. Eu não tenho, intenção de namorar, e não pude continuar, nem sendo, um amigo. Toda a vergonha, que passei, na casa da Lucia, foi menor, e menos, dolorosas, ainda,  que aquelas, enchurradas, de acusações, que a irmã Marilda, estava jogando, na minha cara. Me negar hospedágem, um prato, de comida, a amizade esperada,  eu acharia normal. Me chamar, de imoral, e me acusar, da morte, de meu pai, me chamar de gay, ou veado, e me humilhar, por causa, de meu jeito, feminino, é igual apunhalar, meu estômago. A dor, de ouvir isso, é muito grande, Marcelo. O gelo no estômago, tão cedo, não derrete. Vou passar dias, com essa dor.

Tu, te esquece, das coisas melhores, dessa vida. Eu não sou acusado de gay. Já comi mulher, prostituta, jumenta porca, e te comeria agora, caso tu quizesse. Mas eu não lembro de Deus, fizer comigo, o que Ele fez, por ti hoje. Eu nunca, tinha chorado, na mesa, depois de um almoço, Branco. Eu tava com ódio de ti, pela vergonha que estávamos passando na hora em que todos nós, fomos, praticamente expulsos. Eu tava com vergonha, com pena e com ódio, de ti, ao mesmo tempo. Tu viu, o que Deus fez?

Por que então Ele, não engrossa minha voz, tira esse jeito de mulher de meu caminhado. Eu seria, o melhor pregador, do mundo, Marcelo?

Caralho, a única resposta, que posso, te dá, é: viva a vida, do jeito, que Deus, te fez. É isso, que eu faria, no meu caso. Tu, me deixa, com ódio, de ti, quando, tu quer respostas, pras coisas simples. Deixa, de complexisar tudo.

Simples, pra ti, Marcelo. Ninguem, te chama, de imoral, quando sabe, que tu já comeu puta, jumenta e tudo que é fêmea. E no dia que tu me comer vou ser o imoral, pervertido, senvergonha, sozinho.
Tu é homem. Tu é macho. Dá pra me entender?

Dá, pra tu, entender a Deus? Eu nunca, li a biblia, igual tu. Deus nunca, falou comigo, igual contigo. Não era, pra mim, tá te falando isso. Era, pra você, está falando isso, pra mim.

É muito dificil, ser gay, sem sentir- se culpado, Marcelo. Depois de uma punheta, o arrependimento, vem junto, com a gosada. Imagine, se eu transar, com um homem. E ser tratado como um pervertido, é pior ainda. Isso, não é só, uma vergonha. É muito doloroso
Já está chegando às 17 hs. Vamos voltar à civilização. Nossa janta, vai ser, na casa, da irmã Marilda. Eu prometi, que vou, jantar na casa dela. Adeus, meu igarapé, riacho, Cipoeiro. Em baixo dessa ponte, houve, muitas amizades,  brincadeiras, alegrias, e gargalhadas.

Tu devia, dar um beijo, em alguma coisa, nessa despedida.

Vou dar, um beijo, nas pedras. Não posso, te beijar.

Não pode, de bobo.

Vamos Marcelo. Vamos.

Meu filho. Que bom, que você veio. Lúcia, Lúcia. Ponha, a comida na mesa.
Hoje, é o dia, mais feliz, de minha vida. Branquim Deus falou, apenas: Você não é uma de minhas filhas. Naquele momento parece, que abriu, uma janela, em meu cérebro. É como, se meu coração, estivesse, falando comigo. Meu coração, parecia gritar, para mim mesmo:
Você se acostumou, com uma vida de mentiras. Agora, você quer, que sua filha, viva assim.  Sua filha estava fugindo, de um casamento, sem amor. Você, está matando, as pessoas com seu ódio. Naquele dia, você falou, que, sua filha, poderia se considerar, uma filha, que já morreu. Mas a assascina era você. Você, é quem está, matando todo mundo. Sua filha estava correndo de De uma relação baseada, em apego, aos bens materiais. Apenas isso. Você não queria que sua filha casasse com um homem. Você queria, casar sua filha, com uma familia rica. Uma casa luxuosa. E uma vida, de faz de conta. Sua filha, estava fugindo disso. Ela caiu em braços errados. Você tornou, sua filha, em uma fugitiva. Ela correu, pelo caminho errado, e você, não quiz ajudá- la, a se reencontrar. Sua filha estava no caminho da morte e você estava terminando, de matá-la. Agora você levantou sua voz, sua mão e sua arrogancia, contra um inocente. Meu filho. Deus te trouxe, em minha casa, pra me livrar da morte tambem. Eu estava matando, mas também, eu estava morrendo. Eu não só estava morrendo. Eu estava morta. O rancor,  é uma doença. O rancor chegou até mim, entrando pelas portas da ambição e do desamor. Eu achava que eu tinha Jesus. Que eu tinha religião. Eu só tinha preconceitos. Eu, não tinha a verdade. Eu não conseguia mais amar.
E você, meu filho. Não entre em todas essas portas erradas, em que entrei. Tá aqui, a minha, filha Marilda.  Eu amo, a minha filha. Nunca mais deixarei de amar. Aquele que não ama, não conhece a Deus.
Nunca sinta vergonha, do que aconteceu hoje, em minha casa. Minhas portas sempre,  estarão abertas, pra você, e seus amigos. O meu coração estava morto. Mas Deus, o ressuscitou. Não deixe morrer, o seu coração.
Vamos ao culto todos, juntos hoje. Vou abraçar, minha filha, e a todos no pulpito, da congregação. Tudo que falei, aqui no almoço, vou pronunciar no culto de hoje. Já falei com o pastor. Minha filha vai voltar a cantar na igreja. Minha filha está viva, e,  Deus me ressucitou.

Os Anjos Tambem Sofrem 2Onde histórias criam vida. Descubra agora