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Foi costume da raça, filha de Tupã, que o guerreiro trouxesse no corpo as cores de sua nação.
Traçavam em princípio negras riscas sobre o corpo, à semelhança do pêlo do coati, de onde procedeu o nome dessa arte
da pintura guerreira. Depois variaram as cores, e muitos guerreiros costumavam escrever os emblemas de seus feitos.
O estrangeiro, tendo adotado a pátria da esposa e do amigo, devia passar por aquela cerimônia, para tornar-se um
guerreiro vermelho, filho de Tupã. Nessa intenção fora Poti se prover dos objetos necessários.
Iracema preparou as tintas. O chefe, embebendo as ramas da pluma, traçou pelo corpo os riscos vermelhos e pretos, que
ornavam a grande nação pitiguara. Depois pintou na fronte uma flecha e disse:
— Assim como a seta traspassa o duro tronco, assim o olhar do guerreiro penetra n'alma dos povos.
No braço um gavião.
— Assim como o anajê cai das nuvens, assim cai o braço do guerreiro sobre o inimigo.
No pé esquerdo a raiz do coqueiro.
— Assim como a pequena raiz agarra na terra o alto coqueiro, o pé firme do guerreiro sustenta seu corpo.
No pé direito pintou uma asa:
— Assim como a asa do majoí rompe os ares, o pé veloz do guerreiro não tem igual na corrida.
Iracema tomou a rama da pena e pintou uma folha com uma abelha sobre: sua voz ressoou entre sorrisos:
— Assim como a abelha fabrica mel no coração negro do jacarandá, a doçura está no peito do mais valente guerreiro.
Martim abriu os braços e os lábios para receber corpo e alma da esposa.
— Meu irmão é um grande guerreiro da nação pitiguara; ele precisa de um nome na língua de sua nação.
— O nome de teu irmão está em seu corpo, onde o pôs tua mão.
— Coatiabo! exclamou Iracema.
— Tu disseste; eu sou o guerreiro pintado; o guerreiro da esposa e do amigo.
Poti deu a seu irmão o arco e o tacape, que são as armas nobres do guerreiro. Iracema havia tecido para ele o cocar e a
araçóia, ornatos dos chefes ilustres.
A filha de Araquém foi buscar à cabana as iguarias do festim e os vinhos de jenipapo e mandioca. Os guerreiros
beberam copiosamente e trançaram as danças alegres. Durante que volviam em torno dos fogos da alegria, ressoavam as
canções.
Poti cantava:
— Como a cobra que tem duas cabeças em um só corpo, assim é a amizade de Coatiabo e Poti.
Acudiu Iracema:
— Como a ostra que não deixa o rochedo, ainda depois de morta, assim é Iracema junto a seu esposo.
Os guerreiros disseram:
— Como o jatobá na floresta, assim é o guerreiro Coatiabo entre o irmão e a esposa: seus ramos abraçam os ramos do
ubiratã, e sua sombra protege a relva humilde.
Os fogos da alegria arderam até que veio a manhã; e com eles durou o festim dos guerreiros.
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Iracema
Romance"A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas: - Iracema!... (...)Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos ma...