Outono | 07

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Lawrence

Corri para o meu quarto, só podia ouvir os gritos da minha mãe: "Lawrence tira os sapatos primeiro!", "Se eu for ai em cima e encontrar o chão do corredor sujo, você vai encerrar a casa todinha!", "Você está doente e nada de ficar correndo!", "E se reclamar esfrego a tua cara no asfalto", entre outras coisas. Se eu me importava? Nem um pouco, eu tinha uma alegria tão grande nesse momento que ninguém a tiraria tão fácil. Ligo o rádio em uma estação na qual eu adorava, sempre tinha algumas músicas ótimas para o público juvenil, jogo-me na cama e olho para a encadernação do livro e mordo os lábios de leve, a capa continha um balão, era fofa até. Se eu pretendia ler? Claro! Ler é umas das melhores coisas que se tem, é como se fosse uma TV na sua cabeça para os leigos, mas para os experientes é a imaginação.

Viro de cabeça para baixo e abri o livro, folheio o mesmo e sinto um perfume conhecido. Perfume de papel, como costumo chamar. Um sorriso surge em meus lábios e comecei a leitura do presente que ganhara do meu melhor amigo. O primeiro capítulo contava a história de uma jovem que descobrira que tinha um câncer, e assim como eu, tinha uma vida e teria que abrir mão de tudo para se tratar. Claro, havia uma certa diferença entre nós duas, ela queria a cura e viver, eu só quero viver, mesmo que seja um tanto errado de minha parte.

A minha leitura ia seguindo até que uma batida na porta do meu quarto, pego um papel qualquer e coloco dentro do livro para marcar a página.

- Pode entrar. - Digo ajeitando a minha postura sobre a cama, ficando sentada.

A porta se abre revelando o meu pai, ele sorriu minimamente e trazia consigo um prato e um copo de suco, no qual a minha vista parecia ser de laranja.

- Como vai, Law? Trouxe biscoitos e suco de laranja. - Diz ele e deixou-os sobre a comoda ao lado da minha cama.

Você acertou, menina! Penso e uma risada fraca escapa.

- Obrigada pai.

- E como vai a minha menina? - Ele vira para mim e se acomoda ao meu lado.

- Hum. Bem.

- Então... quais os planos? - Ele pergunta e eu apenas franzi o cenho.

- Planos para a vida Law. Já sabe o que fazer em relação a tudo isso?

Uma parte de mim dizia para não falar do que eu pretendia, talvez ele me repreendesse por pensar só em mim e por outro lado queria contar, falar das grandes aventuras que pretendo ter aproveitando o máximo que a vida me proporciona.

- Eu ainda não sei.

Sei que é mentira, mas eu não quero destruir suas expectativas que talvez sejam de que eu faça o tratamento de forma correta e segura. Ele sorri de lado, provavelmente não era essa a resposta que queria, se conheço bem ele... era nessas horas que sempre surgiam as conversas filosóficas na qual tínhamos desde os meus treze anos, em um dia chuvoso de maio no qual eu acabara de ter o coração partido pela primeira vez e estava sentada no balanço do parquinho perto da escola, ensopada e chorando. Mas ali... ele apareceu com um enorme guarda-chuva com estampas coloridas, entregou o mesmo a mim e sentou o meu lado, olhando para o horizonte deixando que a chuva o molhe, então perguntou o que aconteceu, e eu contei.

- Só porque alguém não te deu o amor que você merece, que vai deixar de acreditar em amores verdadeiros. - Disse ele e me abraçou.

49 Dias de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora