Capítulo 1 Recém Chegada

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  Miranda desceu do ônibus que a levou de São Paulo a São José do Rio Preto. Algumas malas, uma bolsa e a esperança de uma experiência bem diferente da que havia tido em São Paulo... Algumas más recordações acompanhavam seus pensamentos. Não seria fácil apagá-las da memória, mas uma vida nova dava a ela certo ânimo.

Sentou-se no banco de uma praça que havia perto da rodoviária, ficou ali alguns minutos, observando crianças que brincavam e suas mães que as olhavam atentas.

Logo sua roupa preta colada ao corpo bonito e seus óculos escuros que contrastavam com um batom vermelho sangue, chamaram a atenção. Miranda nem ligou para as conversinhas, ela nunca teve o hábito de se importar com coisas pequenas, era seu estilo e jamais seria outra coisa que não ela mesma. Um metro e setenta e cinco cabelos negros levemente ondulados, olhos castanhos claros, personalidade forte e decidida, teimosa e muito dona de si, causava certo incômodo em quem não a conhecia, mas os poucos que a conheciam de verdade, sabiam que por trás daquele ar de mulher fatal, existia uma mulher doce, meiga, fiel, sensível,divertida, muito amiga e companheira, por vezes até sonhadora demais. Com certeza por ser do signo de peixes com ascendente em escorpião, o que lhe dava aquele dom indiscutível para a investigação.

Miranda era repórter investigativa e havia sido contratada por um jornal da cidade, juntou sua vontade de sair de São Paulo com a oportunidade de fazer sua carreira decolar em um lugar de menos concorrência.

Levantou-se do banco, procurou um táxi que a levasse ao endereço do apartamento que havia sido alugado por ela antes de se mudar. Teve o cuidado de que fosse próximo à redação do jornal onde começaria a trabalhar no dia seguinte.

A cidade era bem bonitinha, tinha lugares bem interessantes e não era tão pequena quanto ela imaginou. Com certeza haveria muitas notícias a serem publicadas. Em sua alma um tanto dilacerada, sentia o forte desejo de escrever apenas sobre crimes leves, talvez um roubo de celular, assalto a uma loja e na pior das hipóteses um roubo a banco. Havia crescido ouvindo que cidades interioranas eram muito mais pacatas do que a grande São Paulo, mas sabia que infelizmente a criminalidade havia crescido em todo o país, isso era apenas uma utopia, um reflexo de seus desejos. Não era real.

Perdida em seus pensamentos o taxi chega ao Prédio bem rápido, logo pôde ver a redação do jornal. Ficou aliviada, pois não teria que gastar muito dinheiro para chegar a seu trabalho, iria a pé. Manter-se sozinha exigia disciplina. Esta sensação lhe veio porque quando se fala que algo é perto em São Paulo, no mínimo você terá de pegar ônibus e metrô. Ou se tiver um carro, ficará horas no trânsito para percorrer uns seis ou sete quilômetros.

O taxista a ajudou com as malas até a entrada dos elevadores. Pagou o homem, agradeceu e enfiou suas bagagens elevador adentro. Apertou o número sete e subiu até seu andar, retirou tudo e logo viu a porta de seu apartamento setenta e seis. Abriu receosa, passou os olhos pelo lugar... Era agradável. Até aquele momento havia visto apenas algumas fotos, não tinha absoluta certeza do que iria encontrar afinal a internet é terra de ninguém. Ela sabia bem disso, pois muitas de suas investigações davam em nada ao seguir pistas virtuais, mesmo cercando-se de todos os cuidados necessários.

Levou suas malas para o quarto e logo procurou o banheiro, queria tomar um banho, estava cansada, tirou sua roupa, jogou-a sobre a cama e foi para o chuveiro... Aquela liberdade era boa... Morar sozinha era muito bom. Muito diferente de quando ainda morava com sua mãe e seu irmão, que foram contra a sua mudança. Sua mãe dizia que ela deveria ficar em São Paulo, esquecer o trauma sofrido, procurar um psicólogo, mas Miranda não queria ouvir nada, tinha seu próprio dinheiro, um trabalho garantido e seus vinte e cinco anos de idade lhe davam maturidade para tomar suas próprias decisões... Quanto ao psicólogo, quem sabe mais para frente, se achasse necessário. A idéia de alguém invadir sua mente não a agradava. Saiu do banheiro enrolada em uma toalha adorando a liberdade de estar nua andando pela casa, pegou seu celular, que até então estava trancado no fundo de uma mala... Não queria ter que ficar dando explicações aos amigos e a família, uma hora ou outra eles acabariam aceitando que ela era dona de seu nariz e não devia satisfações de sua vida a ninguém!

Degustação/ A RepórterOnde histórias criam vida. Descubra agora