OU O MISTÉRIO DO MEU PRIMEIRO BEIJO
PEIXES
CAPÍTULO 1: O INÍCIO
Querida América,
Resolvi iniciar por você a minha saga pela redenção.
Caralho. Comecei profundo.
Não que você seja mais importante que as outras onze garotas que passaram pela minha vida, mas, por questões de ordem cronológica e porque eu tenho sérios problemas com organização ("você é meio idiota, sabia disso?", disse o meu irmão ao ver o meu armário categorizado por cores e idade das roupas), achei interessante iniciar essa jornada pelo meu primeiro beijo, pelo florescer dos meus desejos sexuais, pelo início dessa longa jornada rumo ao fundo do poço do meu amor não correspondido.
Eu não acredito muito em "primeiro amor", porque, honestamente, Freud já nos explicou que a gente acaba recalcando o primeiro sentimento amoroso que temos — ao que eu sou muito grato, porque seria um pouco bizarro lembrar de quando eu era apaixonado pela minha mãe —, então o que nós tivemos, querida América, eu gosto de chamar de "primeira atração".
Eu tinha 12 anos, você, 11.
Os alunos te chamavam de Estados Unidos, Pedro Álvares Cabral, Cristóvão Colombo, dentre outros apelidos — aqui eu preciso fazer um parênteses e aplaudir a criatividade maldosa de um pré-adolescente —, mas eu te chamava simplesmente de "América", porque curtia o seu nome incomum e porque você costumava fazer todas as minhas lições de biologia em troca de passarmos o intervalo trocando figurinhas (nenhum dos meninos queria brincar com você, e nenhuma das meninas queria ficar batendo a mão naquele chão imundo do pátio).
Você era meio avoada. Vivia com os cadarços desamarrados e sempre tinha folhas no cabelo volumoso da cor de trigo, além de passar horas com o nariz enfiado em livros amarelados fedendo a mofo. Para piorar, você usava óculos redondos e vermelhos que eram grandes demais para o seu rosto fino e delicado. As crianças "brincavam" que você vivia no mundo da lua (as crianças têm o dom de serem filhas da puta), mas eu achava toda essa áurea mística muito fascinante. Segundo as minhas pesquisas recentes, piscianos vivem mesmo em outro mundo, mas eu não vejo nada de mal nisso. E você parecia ser feliz daquele jeito, então quem era eu para te convencer a ser outra pessoa?
A Larissa te odiava, e a Larissa não costuma odiar as pessoas... eu não conseguia entender o porquê, era quase impossível desgostar de você, você era quieta e inofensível, mas respeitava a opinião da minha melhor amiga; quando ela estava por perto, eu fingia que não te conhecia.
Olha só como eu sou escroto desde criança.
Mas a real é que eu te via apenas como uma amiga. Uma amiga meio doida, mas totalmente leal, e que se dedicava 100% às pessoas que amava. Segundo pesquisas recentes, feitas há cinco minutos enquanto eu cagava e mexia no celular, piscianos são meio trouxas — não no sentido Harry Potter da coisa — e se doam demais.
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Carta aos Astros
RomanceDEGUSTAÇÃO! PARA COMPRAR O LIVRO, ACESSE ESSE LINK: https://amzn.to/3gnrMVi Aos 21 anos, todos estamos perdidos, mas Diego Neves acredita ser o mais perdido de todos. Preso a um curso de graduação pelo qual não se interessa, sem sucesso na carreira...