Calma, o quê?

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Desculpem a demora :v Pra compensar fizemos um capítulo um pouco mais longo (quase nada, mas dá pro gasto)

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Depois da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, eu e Rose encontramos Scorpius na biblioteca para fazer as tarefas passadas pelos professores, já que o período de aulas já havia acabado.

-Como é o quarto de vocês?- Perguntou ele, carregando atrapalhadamente uma pequena pilha de livros e pergaminhos. Ele tinha se oferecido para carregar os nossos materiais também, mas nós não podíamos deixá-lo fazer tudo sozinho, sem falar do risco eminente de que ele derrubasse tinta em todos os papéis, do jeito que era desastrado.

-Eu divido o dormitório com mais três. Ally Patil, uma menina com traços meio indianos e óculos, Jojo Cowell,  que prende o cabelo cacheado e castanho em um rabo de cavalo e é muito bonita por sinal...- Começou Rose, parando para me dar uma cotovelada maliciosa. Senti meu rosto esquentar. Pela descrição, percebi que Jojo era a garota com quem havia me sentado na aula de poções. Eu deveria ter previsto que minha prima perceberia. - E também tem a Margareth. Mas sabem que eu não fui com a cara dela...- Continuou, começando a tagarelar, como sempre fazia. As palavras, que me faltavam, pareciam sobrar para ela.

-Bom, eu divido o quarto com Rick Jordan, Matt Finnigan e Oliver Brown.- Falei, objetivo. Eu preferia ouvir do que falar.  -E o seu dormitório, Scorpius?- Perguntei, curioso.

-Ah, tem o Robert Parkinson, aquele que levantou a mão na aula de herbologia, Dustin Bell, que tem o cabelo castanho e é viciado em quadribol e o Steven Robins, que tem o cabelo cacheado e é meio gordinho.- Respondeu ele, animado com seus novos amigos.
Então chegamos na biblioteca. Nos sentamos e arrumamos as coisas para começar os estudos. Isso infelizmente não impediu Rose de puxar assunto, então começamos a conversar sobre o nosso dia, enquanto escrevíamos nossas longas dissertações sobre a época das queimas de bruxos na fogueira.

-Na hora do almoço, eu acabei derrubando suco de abóbora nas minhas vestes.- Falou Scorpius, quando começamos a compartilhar o que fizemos nos intervalos. -Então, eu pedi para os meus amigos irem na frente enquanto eu limpava a bagunça. Depois de insistir bastante, eles acabaram indo. Quando eu finalmente arrumei tudo, percebi que não era o único lá ainda. Tinha uma menina mais velha, da Corvinal, que estava sozinha num canto, segurando um frasquinho pendurado num colar. Ela parecia tão assustada! Eu tentei me aproximar pra ajudar, mas ela saiu correndo.- Continuou ele, parecendo preocupado. Nos entreolhamos por um momento, as cabeças trabalhando para bolar alguma teoria sobre a garota.

O clima misterioso foi interrompido por um estrondo do outro lado da biblioteca, acompanhado por uma risada insana.

-PIRRAÇA!- Gritou uma voz masculina.

Nós três nos levantamos e fomos olhar o que estava acontecendo. Então vimos o desastre. Algumas estantes tinham caído no chão. Centenas de livros flutuavam atrapalhadamente sobre elas, se batendo uns nos outros e nas pessoas ao redor, espalhando folhas amareladas e poeira pelo ar. No meio de tudo, Filch, o zelador, personagem de muitas das histórias de meu pai, com o rosto avermelhado e os olhos arregalados, num acesso de fúria. Pirraça, também citado em algumas histórias, gargalhava maldosamente, orgulhoso. Scorpius tratou de começar a recolher os livros, saltando com as mãos erguidas, tentando agarrar os fugitivos. Enquanto isso, Rose ralhava com o poltergheist, severa. Apesar de encantado com o passado de meu pai se materializando diante dos meus olhos, toda aquela gritaria e poeira estavam me deixando meio mal.

-Er, gente... Eu acho que vou lavar o rosto.- Falei, torcendo para que eles tivessem ouvido. Sai da biblioteca, indo em direção às escadas. 

Subi os degraus lentamente, um pouco tonto. Entrei no banheiro masculino, me apoiando com as duas mãos sobre uma das pias, dispostas em círculo ao redor de um pilar no centro do lugar. Olhei para o meu reflexo. Um menino magricela, meio pálido, com os cabelos arrepiados, enormes olhos azuis acinzentados, que, além das sardas herdadas de minha mãe, eram uma das poucas características que me diferenciavam de meu pai. Eles costumavam ser um pouco vesgos, antes de vários feitiços reparadores e alguns meses usando um tampão horrível. Também eram cobertos por lentes grossas de um óculos retangular... Bem, digamos que eu me achava meio estranho. Balancei a cabeça, tentando afastar os pensamentos auto-depreciativos, abrindo a torneira. Lavei meu rosto, com a esperança de afastar o mal-estar.

Voltando para a biblioteca, dei de cara com Winifreda.

-Boa tarde, professora Campbell.- Murmurei, cordial.

-Ah, faça-me o favor, falando desse jeito você faz com que eu me sinta uma senhora com o triplo da minha idade.- Disse ela, que parecia mastigar algo. Então ela começou a soprar uma bola de goma de mascar, que estourou fazendo um barulho parecido com o de um elefante. -Quer chiclete?

Eu não sabia formar uma bolha de goma de mascar, então recusei para evitar constrangimento desnecessário. Ela deu de ombros e repetiu o procedimento. Mastiga. Assopra. Estoura. Tentei analisar seus movimentos mas aquilo não conseguia fazer sentido para mim. Eu devo ter parecido um idiota a encarando, pois ela estava prestes a dizer algo. Porém foi interrompida pelo som de passos no corredor atrás de mim. O mesmo sorriso cínico que abrira para os alunos mais cedo estampou o seu rosto.

-Teddy! - disse ela. Me virei e encontrei meu irmão de consideração envolvendo os ombros de minha prima Victorie com um braço. -Parece que conseguiu a vaga, não é mesmo? - fiquei confuso. Como eles se conheciam?

-Oi, Winnie. - disse ele, sem tentar manter o sorriso, desviando o olhar. O que estava acontecendo?

-Winifreda. - corrigiu, seca. Ela parecia analisar minha prima. -Ela não é muito nova para você? - perguntou, com desdém. Eu já havia desistido de entender, prestando bastante atenção para contar a situação com detalhes a Rose e Scorpius. Victorie parecia tão perdida quanto eu.

-Não é da sua conta. - ele respondeu, em tom natural. -Boa tarde. - disse, seguindo seu caminho e levando Victorie junto. Olhei para minha professora, que agora olhava fixamente para frente.

-Vaza, garoto. - disse, de um modo tão sério que nem hesitei em dar as costas e ir embora a passos largos, por um momento esquecendo que aquela não era a direção da biblioteca.

Quando virei a primeira esquina, resolvi parar e esperar um tempinho para poder voltar ao meu rumo. Escutei a professora batendo os pés no chão com gritinhos frustrados. Quase voltei a correr quando ouvi seu farfalhar de asas vindo em minha direção, mas ela passou voando tão rápido que nem me notou. Quando o vulto do corvo não era mais visível soltei uma risada nervosa que estava prendendo desde a chegada de Teddy.

Voltei ao caminho certo para a biblioteca, pensando se deveria contar sobre a cena presenciada para os meus amigos. Decidi manter segredo, então logo pensei em outro assunto para conversar. Minha futura coruja! Que chegaria naquela noite, por pó de flu. Corri ao encontro de Rose e Scorpius, que aguardavam do lado de fora, tentando disfarçar o sentimento de estar escondendo algo deles.

Horas depois, lá estava eu, sentado com as pernas cruzadas na frente da lareira do Salão Comunal da Grifinória, com meu admirável pijama com listras vermelhas e douradas, sorrindo feito um bobo, já imaginando a grande chegada triunfal da minha coruja, que entraria na sala voando graciosamente e pousando em meu ombro, imponente. Eu estava sozinho, pois todos os outros Grifinórios  já tinham entrado em seus quartos para conversar com os colegas.

Alguns minutos angustiantes se passaram antes que algo acontecesse. Em um piscar de olhos, a parte de dentro da lareira explodiu em chamas esverdeadas, estalando em uma sinfonia já comum aos meus ouvidos. Preguiçosamente, algo começou a se esgueirar para fora do fogo. Aos poucos, foi se revelando o corpo de um gato. Grande, gordo e peludo, o animal foi andando sem pressa em minha direção. Seus olhos verdes se destacavam num mar de pelos curtos e negros. Então, ele abriu a boca e soltou um miado curioso e agudo, inclinando a cabeça para o lado.

Eu estava boquiaberto. "Um gato? Sério?" Pensei, frustrado, enquanto me aproximava, desamarrando uma fita com as cores da Grifinória de seu pescoço, soltando um bilhete rabiscado a giz de cera.

"De: Mamãe, papai e Lily

 Para: Alvo

 Este é o Sr. Bolinho. Cuide bem dele."

-Lily Luna.- Resmunguei, tentando não ficar com raiva de minha irmãzinha. Meus murmúrios frustrados foram interrompidos pelo som de passos vindo da escada que levava aos dormitórios femininos. Ao virar o rosto, vi que era Jojo. Senti que tinha corado. Não sabia se era por causa do bicho-de-estimação-nada-descolado ou pelo fato de ela estar surpreendentemente bonita com o cabelo emaranhado e um pijama de bolinhas.

-Que gato fofinho.- Ela falou, sorrindo.




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