Mais um Potter

Atrasado

Acordei bruscamente, soltando um grito abafado. Sr. Bolinho estava me arranhando por cima do pijama, miando impaciente. Me levantei, erguendo o gato comigo, franzindo as sombrancelhas. Ele estava com fome. Olhei ao redor, procurando meus amigos. Nem Rick, que era sempre o último a se aprontar, estava lá. Me dei conta de que eu estava atrasado para o café da manhã. Soltei o animal, correndo para procurar minhas vestes na bagunça do quarto, ao mesmo tempo que pegava a ração do Sr. Bolinho num pote no parapeito da janela. Assim que coloquei a comida para o gato, disparei para fora do dormitório, enrrolando o cachecól no caminho.

Ao chegar lá embaixo, apenas alguns alunos ainda estavam no Salão Principal. Encontrei Matt comendo seu último pedaço de waffle.

-Por que não me acordou, bobalhão?- Perguntei, indignado, me servindo de uma maçã.

-Ora, não precisava ofender.- Ironizou, rindo. -Você estava tão bonitinho dormindo, babando um rio no travesseiro... Achei que seria maldade te acordar.- Provocou, com um sorriso travesso.

-Não acredito que fizeram isso comigo.- Resmunguei, emburrado.

-Tchau, Bela Adormecida. Não se atrase para aula!- Gritou, enquanto corria em direção à saida. "Droga" Pensei, comendo o mais rápido que conseguia.

O salão foi se esvaziando aos poucos. Quando finalmente terminei, saí em disparada, torcendo para que não estivesse atrasado. Então eu a vi. Uma menina da corvinal, em um dos cantos, segurando um frasquinho, pendurado em um colar. Ela tinha mais ou menos a idade de Tiago e olhava para os lados, se certificando que estava sozinha. A reconheci como a menina da história de Scorpius, que havia nos contado sobre ela na biblioteca, semanas atrás. Não tive tempo de observá-la melhor, pois não tinha parado de correr. Estremeci dentro das vestes, curioso. Mas não havia tempo para pensar sobre isso, eu precisava chegar à aula de transfiguração.

Ao chegar na sala, a professora Lesly já estava sentada em sua cadeira, mas estava distraída demais para reparar em mim. Fui rapidamente até a mesa de Oliver, tentando ser discreto.
-Oi, atrasadinho.- Provocou, rindo baixo, sem olhar pra mim. Dei um empurrãozinho nele, emburrado.

-Ei, vocês, podem parar com esse empurra-empurra aí!- Repreendeu a professora, derrepente interessada. Nos endireitamos nas cadeiras, nervosos.

Então a aula finalmente começou. Tinhamos que transformar a tinta preta do tinteiro em rosa. Todos começaram a tentar, alguns alunos da Corvinal e Rose conseguindo de primeira. Ouvi Oliver soltar um suspiro.

-Olha como ela faz isso parecer tão fácil!- Murmurou, com um sorriso bobo.

-Eca.- Resmunguei, tentando me concentrar. Então minha tinta ficou com uma coloração esverdeada e com uma textura nojenta. -Droga. Oliver, será que dá pra parar de babar em cima da minha prima?- Sussurei, aborrecido.

-Espera aí, ela é sua prima?- Perguntou ele, surpreso. Assenti com a cabeça, enquanto tentava reverter o estrago que tinha feito na tinta.

-Sério? Por que não me disse antes? Preciso de ajuda!- Falou, sorrindo.

-Ah, qual é?- Murmurei, quando a tinta ficou sólida.

-O que ela gosta em um cara? Você acha que ela gostaria de mim se eu fosse muito inteligente?- Disse ele, começando a tagarelar sobre como ele poderia ser irresistível.

-Na verdade, a Rose não é tão inteligente assim...- Expliquei, tentando me certificar de que ela não estava ouvindo. -Ela é péssima em poções.- Continuei, lembrando do quanto ela se parecia com o tio Rony nesse ponto. E no nariz incrívelmente pontudo.

-Ok, então eu preciso ser ótimo em poções, então ela vai pedir a minha ajuda e vai se apaixonar perdidamente por mim!- Concluiu, com um sorriso radiante.

-Sr. Brown, pode compartilhar coma a classe o que o Sr. Potter disse de tão espirituoso?- Interrompeu a professora, enquanto eu me esforçava para não dar um tapa em minha própia testa, quando todos viraram para nos olhar. Observei enquanto Oliver pegava um pedaço de pergaminho e começava a escrever, me passando o papel.

-Não acredito que vai me passar bilhetinhos pra conversar sobre a minha prima.- Murmurei, revirando os olhos. Então ele puxou de volta a mensagem, rabiscando mais alguma coisa. Quando abri o pergaminho, encontrei a mensagem "Você é chato, Alvo."

A próxima aula seria de herbologia. Encontrei Scorpius na porta da estufa número 2. Tinhamos combinado de formar uma dupla nesta aula. Seu rosto estava vermelho.
-Pensei que iamos colher urtigas, não tomates.- Brinquei, rindo.
-Ora, você nem sabe o que aconteceu.- Resmungou ele, chutando uma pedrinha. Ele ficou me encarando por um momento. O encarei de volta. -Não vai perguntar o que aconteceu?- Disse, frustrado.
-O que aconteceu?- Repeti, revirando os olhos.
-Eu estava simplesmente conversando com a Rose, aí chegou um menino da grifinória e ficou me olhando torto. Eu fiquei realmente sem graça.- Explicou, cruzando os braços, atrapalhado. A imagem de Oliver lançando um olhar assassino para ele me veio a cabeça. Soltei uma risada.
-Deixa pra lá.- Falei, puxando Scorpius para a estufa.
Nos sentamos numa carteira atrás de Jojo e Rose. Logo, vimos o professor Longbotton entrar, carregando um vasinho de urtigas. Dessa vez, ele usava um avental engraçadinho com os dizeres "Não beije o jardineiro. Ele é casado."

-Olá, alunos!- Começou, com um sorrisinho. -Hoje vamos finalmente colher o resultado de nossas urtigas.- Anunciou, erguendo sua planta, verde e vistosa, tão bonita que parecia feliz. O que contrastava contra as nossas mudinhas, que tinham uma aparência absolutamente normal (tirando a de Jojo, que parecia mais um salgueiro chorão minúsculo, murcho e tristonho. Além de exalar um cheiro meio estranho.)
-Tudo bem. Ponham as luvas e peguem as varinhas. Faremos um simples feitiço de poda, que irá partir suavemente o caule das folhas, que deverão cair em uma pilha organizada ao lado do vaso.- Continou o professor, erguendo a varinha. -Repitam comigo: Forcipe.- Falou, fazendo com que cada folha da urtiga fosse partida delicadamente, sem ferir o caule principal, voando em volta dele e pousando em uma pilha sobre sua mão que segurava a varinha. Todos começaram a por suas luvas.

-Forcipe.- Falou a classe, em um coro. Observei enquanto alguns alunos da lufa-lufa conseguiam de primeira, enquanto eu tinha conseguido tirar apenas uma folha.
-O professor parece menos sorridente hoje.- Comentou Scorpius, preocupado. As folhas de sua urtiga haviam começado a flutuar. Segui seu olhar, encontrando um tio Neville abatido, passando o dedo enluvado em sua plantinha. Tentei o feitiço mais uma vez, finalmente conseguindo que as folhas se soltassem, caindo desorganizadamente sobre a carteira. As empilhei manualmente mesmo, apressado. Quando terminei, me levantei e fui até a mesa do professor.

-Por que está tão triste?- Perguntei, fazendo com que ele levantasse a cabeça rapidamente, surpreso.

-Ah, oi, Alvo... quero dizer, Sr. Potter. Não é nada...- Falou, tentando disfarçar, forçando um sorriso. -Quem eu estou tentando enganar?- Resmungou, retornando a sua feição tristonha. -É a minha filha. Ela está um pouco doentinha. Minha pobre Daisy... Eu sou um pai meio ocupado, sabe? Por causa do tempo integral em Hogwarts e coisa e tal... Me sinto culpado por não estar lá com ela.- Explicou, com os olhos marejados. -Ora, estou enchendo sua cabecinha com meus problemas de adulto. Vá se sentar.- Concluiu, colocando a mão enorme em minha cabeça e bagunçando meus cabelos.
-Eu não sabia que o senhor tinha uma filha.- Falei, ignorando seu último comentário.
-Ah, ela é mais nova que você. Deve ter a mesma idade da Lily. Daqui a três anos, virá para a escola, minha linda bruxinha...- Contou, com um sorriso sonhador. -Minha nossa, pare de tentar me enrrolar. Para sua carteira. Já.- Cortou, tentando soar autoritário, o que não funcionou muito, por causa de uma risada.
-Claro, professor Longbotton.- Declarei, sorrindo. Voltei para a mesa, orgulhoso de ter melhorado o dia dele. Ouvi um grito atrás de mim. Me virei, assustado. Jojo havia conseguido grudar todas as suas folhas de urtiga em seu rosto, que começava a ficar vermelho. Ela era definitivamente péssima em herbologia.