Alguém me entende!

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     -Prazer - disse meio sem jeito.
     -ham...- me olhando daquele jeito tipo "porque-esse-ser-ta-olhando-assim-para-mim" - o mesmo.
     - Então Thalia...ham...é...- tentando puxar assunto, mas eu não era o melhor nisso- quantos anos tem?
     - 12. E você?
     - Sou dois anos mais velho. Tenho 14.
     - É filho de Hermes né?
     - Sou.
     -deve ser muito bom...
     - O que?
     - Ser filho de Hermes ué. Você sabe que atrai menos monstros que eu né?
     - Até pode ser. Mas não sou tão incrível quanto uma filha de Zeus. - falei tentando elogiar, mas fiquei vermelho e sem jeito.
     Thalia corou e deu um sorriso, então sorri de volta.
     - Quer dizer- continuei - quantos poderes você não deve ter não é mesmo?
     - É verdade. Mas eu daria tudo para ser uma mera mortal. - suspirando.
     Eu entendia ela. O que eu mais queria era ter uma vida normal também. 
      - Eu também.
Ficamos quietos por um tempo. Até que ela puxou assunto novamente.
      - Tem casa?
     - Tinha. Mas resolvi ter uma nova vida.
     - Eu também fugi. Minha mãe era horrível. - disse ressentida.
     - A minha também.  Mas não era só isso, a escola era um inferno, eu não tinha amigos, e meu pai nem deve ter notado que fugi ainda.
     - Meu pai também é ausente. Mas não o odeio por isso.
     - Meu pai também me odeia. Acho que eu e ele estamos quites.
     Pude ver o olhar de pena dela. Porque, apesar dos sentimentos dela pelo pai, ela sabia como era.
     - Fugiu a muito tempo? - Thalia
     - Já perdi a noção do tempo. Mas creio que não muito tempo.
     - Entendo.
     - Thalia... lembra de quando eu te falei que queria uma nova vida?
     - Lembro.
     - Quer fazer parte dela?- perguntei em quanto abria um sorriso.
     - Claro. - disse ela com um enorme e maravilhoso sorriso.
     Então, abri os braços e ela veio até mim. Deve ter sido o abraço mais gostoso da minha vida. Foi uma ótima sensação, eu sabia que apesar de ter conhecido ela a pouco, não queria perdê-la por nada no mundo. E além disso, ela era a única que me entendia.
     Depois disso, saímos daquele beco um do lado do outro, eu à direita e Thalia à esquerda. Eu estava muito feliz. E podia ver que o sentimento era mútuo. Agora éramos uma dupla, éramos Thalia e Luke. Pra sempre.
     Eu finalmente sentia que podia contar com alguém. Eu não estava mais sozinho.
     Naquele dia, por incrível que pareça, não encontramos mais nenhum monstro. Parecia até um sonho, e por um momento tive medo que fosse realmente um sonho. Mas era tão real, que era impossível não ser verdade. Pelo menos, era o que eu esperava.
     Eu e Thalia ficamos só passeando e nos divertindo, como se fôssemos mortais comuns. O dia todo não parávamos de brincar, mas de repente Thalia ficou séria e olhou no fundo dos meus olhos.
     -Luke, obrigada por estar comigo. - parecia tímida, como se fosse difícil dizer isso, mas entendo que ela seja orgulhosa, afinal, é filha de Zeus.
     Ficamos olhando um pro outro por uns cinco segundos e então eu dei um meio sorriso.
     -Eu que agradeço. Não estou mais sozinho.
     Então nos abraçamos bem forte. Por um bom tempo. Até que ela se soltou.
     -Está ficando escuro precisamos achar um lugar para dormir.
     -Não temos dinheiro para nós hospedar em um hotel. Você sabe disso Thalia.
     -Eu sei. Vamos dormir na rua mesmo.
     -Então, que tal naquela praça?
     -Não. Precisa ser mais escondido. - pensando. 
     -Tipo um beco?
     -Talvez, - pensou mais um pouco - acho que pode ser.
     -Beleza. Vamos encontrar um.
Ficamos procurando por um tempinho. Até que achamos um que perecia perfeito.
-O que acha?
-Está ótimo. Vamos dormir em turnos, assim os dois descansam e ficamos mais seguros. Quer que eu assuma o primeiro turno?
-Eu assumo, pode ficar tranquila Thalia.
-Tudo bem então. Tem certeza?
-Claro. Tenha bons sonhos Thalia.
-Obrigada.
Eu sentei no chão e ela pôs a mochila que carregava no chão, apoiou a cabeça nela e simplesmente capotou.
Eu sentia medo. Medo, porque agora não era só a minha vida, era a de Thalia também, ela havia confiado em mim. Quer dizer, e se parecesse um monstro do nada e eu não fosse rápido o bastante para levantar e ataca-lo? Ou se de repente eu pegasse no sono e antes que me desse conta eu e Thalia já estivéssemos sendo julgados no mundo inferior? Ou também se do nada... me interrompi. Eu estava me distraindo. Não podia ceder assim. Então só tentei não pensar nisso.
Fiquei tão enrolado em meus pensamentos, que nem tinha percebido que Thalia estava tremendo de frio. Então tirei a minha jaqueta preta e coloquei por cima dela, como um cobertor. Alguns minutos depois, quando ela já tinha parado de tremer eu comecei a pensar de novo:"se o pai dela era ausente quanto o meu... porque ela não o odiava também?". De repente interrompi o meu pensamento, eu estava me distraindo de novo, eu não podia. Tinha que ficar esperto... preparado... atento... PELOS DEUSES! EU NÃO CONSEGUIA! Continuei a pensar " Thalia tinha tido o direito de odiar o pai. Ele era um deus. Quer dizer, a única coisa que eles têm de vantagem são os poderes! Não são inteligentes, não são espertos, e com certeza não são bondosos! Se EU estivesse no poder do mundo, o mundo seria um lugar bem melhor. Seria melhor, porque como um deus eu não iria ser tão arrogante, egoísta, mau humorado, egocêntrico, e principalmente, não sairia por ai tendo filhos para depois não me importar com eles. Como o meu pai. E todos os deuses são iguais a ele. No entanto, Thalia não os odiava, pelo menos, não todos eles; ela se recusava a culpar os deuses por tudo que acontece no mundo, sendo que, eles estão no poder do mundo e também...".
Vi que Thalia estava se levantando.
-Já descansou o suficiente?
-Já. Eu assumo agora, pode dormir Luke.
-Obrigada.
Thalia assentiu com a cabeça. Deitei em cima da minha mochila ( que já estava no chão) e dormi.

A história de Luke Castellan Onde histórias criam vida. Descubra agora