Capítulo 6

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Para quem não consegue ler na sequência.

Descobri na dança uma maneira de encontrar equilíbrio físico e mental. Dançoterapia é uma disciplina terapêutica relacionada ao movimento corporal da dança. É uma técnica que une dois campos: a dança e a psicologia. Ela me trouxe autoconhecimento e me ajudou desenvolver a criatividade, me auxilou na reintegração social, física, mental e espiritual.

E é isso que eu faço aqui. Ajudo as crianças de um instituto que minha terapeuta me indicou. Ela faz atendimento gratuito e me trouxe para conhecer. Eu me apaixonei pelo lugar, pelas crianças e pela maneira que as pessoas se doavam sem nada a receber em troca, e como estavam precisando de uma professora de dança, me voluntariei. Isso me ajudou muito no início e tem me ajudado a cada dia.

- 1, 2, 3 e acabou – bato palmas para as crianças encerrando a aula de hoje. Estávamos ensaiando para uma apresentação de final de ano. – vocês estão cada vez melhores, agora me deem meu beijo e façam fila para sair, sem tumulto por favor.

Enquanto dou um beijo em cada um deles que saem formando a fila, obedientes como ensinei, meus olhos param na porta, na figura encostada ao batente com braços cruzados e um sorriso no rosto, ele parece maravilhado. Seu olhar parece uma mistura de admiração e surpresa.

- Rafa, o que faz aqui? – pergunto depois que todas as crianças haviam saído da sala. Ele me cumprimenta com um beijo na face como sempre faz, deixando um formigamento no local. Seu beijo singelo espalha sensações por cada parte do meu corpo e acelera mais ainda meus batimentos.

- Não sabia que dava aula aqui? Sempre quis ser dançarina, não é?

- Sempre. E você, sempre quis ser delegado? – ele cruza os braços novamente.

- Não. Teve uma fase da minha vida que quis ser prefessor de história. – levei a mão à boca escondendo meu sorriso. – está rindo de quê?

Começo a gargalhar em imaginar o Rafael sendo professor de história, usando óculos de grau, em uma sala cheia de adolescentes.

- Como não rir? Com certeza as alunas não iriam conseguir prestar um pingo de atenção nas aulas, apenas nos olhos azuis do professor. Não daria certo.

- Nossa quanto preconceito. Nem sou tão bonito assim. – ele fala parecendo constrangido. Tão lindo.

- Vai por mim, você é. Mas me diz, por que não foi lecionar?

- Eu fiz dois anos de medicina, você sabe que na minha família quem não é médico é porque não estar mais vivo ou ainda não nasceu. Quando eu desisi da medicina para cursar direito meu pai quase teve um infarto.

- E o que direito tem a ver com dar aulas, Rafael? - perguntei mesmo sabendo a resposta.

- Bom eu queria ser prefessor, e fazer diretio foi só um subterfúgio para tentar ludibriar meu pai, eu não queria ser o causador da sua morte. Eu pensei em fazer uma especializaçao depois e dar aula. Mas nesse meio tempo me apaixonei pelo direito e quis seguir carreira de delegado. E isso ja foi o suficiente para quase ser deserdado. - ele faz uma careta. - na verdade eu fui.

- E desitiu de ser professor?

- Tecnicamente não. – ele responde misterioso.

- E o que você faz aqui delegado? não me respondeu.

- Vem comigo, vou te mostrar. – ele passou a mão por dentro do meu braço me levando junto com ele. – a propósito, você dança muito bem.

- Já me disse isso antes. – falo sorrindo.

- De uma forma que me envergonho até hoje. Me desculpa. – eu balanço a cabeça em concordância. Paramos na porta de uma sala que estava uma completa algazarra.

Minha perdição - degustação.Onde histórias criam vida. Descubra agora