7º CAPÍTULO

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Permaneci na cama. Minhas lágrimas encheram a fronha do travesseiro, e meu suor, o lençol da cama. Tudo me machucava. Tentei não me mexer muito. A certa altura você entrou no quarto e trocou as ataduras dos meus pés. Eu me sentia amolecido, e tinha a impressão de que estavam derretendo.

Você me disse depois que foram apenas uns dois dias, embora eu tenha tido a impressão de que tivessem sido semanas. Minhas pálpebras ficaram inchadas de tanto chorar. Tentei pensar em modos de fugir, mas meu cérebro também parecia ter se derretido. Passei a conhecer muito bem o teto, as paredes rústicas e a moldura de madeira da janela. Bebia a água marrom e terrosa que você deixou ao meu lado, mas só quando você não estava olhando. Cheguei a mordiscar as nozes e as sementes que estavam numa tigela, mas primeiro encostei a língua nelas para ver se não estavam envenenadas. Sempre que você entrava no quarto, tentava falar comigo. A conversa era sempre a mesma.

"Quer tomar banho?" você perguntava

"Não."

"Quer comida?"

"Não."

"Água? Você precisa beber água"

"Não."

Uma pausa, enquanto você pensava no que eu poderia querer.

"Você quer sair?"

"Só se você me levar a alguma cidade."

"Não existem cidades."

Certa vez, você não saiu do quarto como normalmente fazia. Em vez disso, suspirou e foi até a janela. Percebi que as contusões em torno dos seus olhos tinham mudado de cor, de um azul profundo para um amarelo doentio, minha única indicação de que o tempo tinha passado. Você me olhou com uma ruga profunda na testa. Então, rapidamente, abriu as cortinas. A luz inundou o quarto, fazendo com que eu me encolhesse nos lençóis.

"Vamos sair" você disse "Vamos olhar o lugar"

Eu me virei, para proteger meus olhos da luz e não olhar para você.

"A parte dos fundos é diferente da parte da frente" você disse "Vamos até lá."

"Você vai me deixar ir embora pelos fundos?"

Você abanou a cabeça.

"Não há para onde escapar" você disse "Eu já lhe falei. É um deserto."

No final, acabei cedendo. Mas não porque quisesse fazer a sua vontade. Resolvi ir porque não estava acreditando que não existisse nada lá fora. Tinha que haver alguma coisa, uma cidade ao longe, uma estrada ou mesmo cabos de eletricidade. Nenhum lugar é totalmente um deserto.

Você desamarrou meus pés, retirou as ataduras neles e os apalpou. Não doeu como eu pensei que doeria. Você também examinou meu pulso, o corte estava vermelho-acastanhado e coberto de crostas, mas não havia sangue fresco.

Você tentou me levantar da cama, mas eu empurrei você. Esta simples ação foi o suficiente para que eu começasse a tremer. Mesmo assim, rolei na cama e desci pelo outro lado.

"Posso fazer isso sozinho."

"Claro, eu esqueci" você disse "Eu ainda não cortei fora as suas pernas."

Você riu da própria piada mas eu o ignorei. Minhas pernas tremiam tanto que foi difícil levantar. Tentei dar um passo, meu pé se contraiu de dor. Engoli em seco. Sabia que não poderia permanecer naquele quarto para sempre.

Você se virou de costas quando eu vesti a calça, que fora lavada e secada, as marcas de terra haviam sumido. Eu me sentia extremamente fraco quando saí do quarto, prestes a desmaiar. Lamentei não ter aceitado mais comida quando você me ofereceu.

Stolen  l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora