Capítulo 2 - Uncharted

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               A sala do diretor Choi Do Bin era razoavelmente grande e acolhedora, decorada com diversos móveis de escritório. Em suas paredes estavam presos alguns quadros com retratos de pessoas importantes para a KU. Elisa, por alguns segundos, se permitiu desviar a atenção dos três homens que estavam ali, na mesma sala, para os quadros e imaginou se o mais velho retrato representava o fundador da universidade.

- Fico feliz que tenha vindo. – falou o diretor, chamando a atenção da garota. “E por que eu não viria falar com ele?”, a garota se perguntou. Elisa voltou a sua atenção para os homens ali presentes e percebeu que além do diretor, também conhecia um outro. O homem baixinho e careca era o seu professor de coreano na universidade.

                Ao constatar a presença do professor ao lado do diretor, Elisa sentiu seu coração parar de bater, deixando o seu cérebro sem sangue para trabalhar. Isso não poderia ser uma coisa boa. A garota era quase um fantasma. Não falava com ninguém, já que só falava inglês e muitas pessoas não se davam o trabalho de usar o idioma para falar com ela. Suas notas eram razoáveis e não era uma aluna brilhante. Entretanto, Elisa estava feliz consigo mesma e com seu desempenho. Não tinha entrado na universidade para ser a melhor aluna do mundo. Ela só queria aprender.

- Esse é o Kwon Se In, CEO da SBS. – O diretor apontou para um senhor elegante. Rapidamente, Elisa curvou seu corpo, cumprimentando-o. Essa foi uma das primeiras coisas que aprendeu aqui e estava feliz por isso. A garota não queria parecer mal educada. – E esse você já conhece. – ele apontou sorrindo para o professor de Elisa. – Por favor, sente-se.

              Elisa sentou em uma das cadeiras vazias em frente à mesa do diretor, enquanto o CEO da SBS sentava-se ao seu lado. O professor permaneceu em pé, ao lado da cadeira do diretor. Com dificuldade, o cérebro de Elisa registrava tudo o que estava acontecendo, ao mesmo tempo em que procurava uma resposta para aquela reunião. Mas a garota não conseguia sequer imaginar o motivo de estar ali.

- Eu te chamei aqui Elisa, pois o senhor Kwon Se In pediu para conhecê-la. – O diretor falou. Será que havia alguma chance de Elisa ser a pessoa certa para estar ali? Eles poderiam ter cometido um engano... Não, definitivamente era ela, embora parecesse impossível. Como um homem importante teria interesse em conhecê-la? Pelo o que ela sabia, só havia uma Elisa naquela universidade... e o fato de não parecer fisicamente com nenhum estudante (sem falar nos alunos de diversos países que estudavam com ela na classe de coreano) ou professor da Korea University diminuía as chances em praticamente zero de estar havendo algum engano.

               Percebendo a expressão confusa estampada no rosto da aluna, o diretor prosseguiu, a fim de explicar melhor o que estava acontecendo.

- Elisa, você se lembra de ter entregue algum trabalho para o professor Park Chul Min?

             Que pergunta era aquela?! É claro que a garota tinha entregue algum trabalho para o professor, afinal, isso contribuía para as suas notas. E isso não era uma particularidade na Coréia. No Brasil, em muitos colégios e universidades, era aplicada a mesma forma avaliação.

- Senhorita Sanders, você lembra de um trabalho de tradução que eu passei? Eu pedi à todos os alunos que pegassem qualquer texto em inglês e o traduzissem para o coreano, colocando em prática o que vocês já tinham aprendido em classe. – o professor falou pela primeira vez desde que a garota chegou naquela sala.  Ainda sem entender, Elisa apenas confirmou com a cabeça.  – O seu trabalho foi a tradução de um roteiro... Quero dizer, pelo menos, parte dele. Você se importaria de nos responder se esse roteiro é seu?

            Elisa buscou em sua mente sobre qual trabalho exatamente o professor estava se referindo e sem muita demora, se recordou. No décimo dia de aula, o homem baixinho havia pedido para que seus alunos traduzissem um texto para  o coreano, para que colocassem em prática o que tinham aprendido até aquele dia. Querendo aproveitar a oportunidade, até mesmo para não ter trabalho dobrado, Elisa decidiu que começaria a traduzir um roteiro original no qual estava trabalhando e sua meta seria, até final do curso, conseguir traduzi-lo inteiro para o coreano, aproveitando também as correções do professor.

- Sim, é meu. – respondeu, sem saber aonde aquela conversa iria chegar.

- Houve um engano... Na verdade, foi uma falha minha. – o professor se consertou. – O seu roteiro, sem querer, foi enviado junto com os projetos que estavam concorrendo para o estágio da SBS. Um dos juízes achou incrível a sua ideia, o seu roteiro e disse que adoraria conhecê-la, embora seja nítida a sua falta de experiência no assunto...

                Ainda que muitos pudessem pensar que ele estava a ofendendo, Elisa sabia que o homem não falava por mal. Ela não era nenhuma expert em relação à produção de roteiros. A garota só tinha colocado no papel as suas ideias para o seu primeiro dorama, para quando pudesse se graduar, e então, aprimorar o seu roteiro.

- O senhor Kwon Se In disse ao seu funcionário que primeiro teria a certeza de era um roteiro original, para então saber o que poderiam fazer... E como você disse que é seu e é original... Bem..

- Acontece, senhorita Sanders, que temos interesse em treiná-la. – o homem elegante falou,  interrompendo o professor. – Você teria interesse de estagiar por três meses na nossa empresa, tendo como mentor um importantíssimo roteirista e diretor? Caso nesses três meses você consiga provar ser capaz de se tornar uma brilhante roteirista, nós a contrataremos definitivamente. Bom, isso será mais pra frente... poderemos discutir os detalhes depois.

                Surpresa, Elisa abriu e fechou a boca diversas vezes, tentando encontrar uma resposta. É claro que ela não seria louca de negar, o problema era que a garota não conseguia encontrar a sua voz. Aquilo só poderia ser um sonho!
            Desistindo de usar a voz, Elisa balançou a cabeça concordando com a proposta antes mesmo que o homem pudesse se arrepender.

- Bom, fico feliz. Essa proposta foi um pedido do seu futuro mentor. Ele está ansioso para conhecê-la e poder treiná-la. – Kwon Se In falou, levantando-se da cadeira e arrumando o terno. O homem estendeu a mão para Elisa, a fim de selar o acordo. – Em breve entraremos em contato.

              E depois disso, tudo aconteceu muito rápido. De repente, Elisa já estava do lado de fora da sala do diretor, no corredor, sozinha. Ela mal podia acreditar em tudo o que tinha acontecido. Esse tal mentor só poderia ser alguém muito importante para a empresa para ser atendido assim, diretamente pelo CEO.  O que ele viu no roteiro dela, ela não sabia, mas não estava disposta a perder essa oportunidade. E se aquela era a melhor chance de conhecer como as coisas realmente funcionavam, por que não?! Elisa só tinha certeza de uma coisa: ela não fazia ideia do que iria acontecer dali pra frente. 

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