Dor e ódio

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Austrália, Sydney, 17 de setembro de 2027.

"Prezada srta. Hermione Granger,

É com imenso prazer que nesta humilde carta peço-lhe sua presença no Ministério da Magia, para trabalhar conosco de volta. O cargo de vice-Ministra da Magia está sendo honradamente oferecido à srta. Aguardo ansiosamente sua resposta.

Atenciosamente,

Kingsley Shackebolt, Ministro da Magia."

Desdobro a carta e ponho-a sobre o meu colo, sem saber o que dizer ou pensar. Meus pais estão em um cruzeiro na costa americana, e vivo sozinha nesta casa, eu e a minha solidão idiota.

Eu sou idiota.

Por tê-lo largado. Por tê-lo abandonado num momento que precisava tanto de mim. Por tê-lo feito sofrer.

E pior,

Por fazer eu e ele sofrermos de um mal que eu causei; a ferida está mais aberta do que nunca, pois resolvi cutuca-la, ferindo-o mais ainda. Ainda que se tivesse algum remédio capaz de curar essa ferida que eu causei, algo que cicatrizasse tudo isso. Mas não há, por que mais uma vez, Hermione Granger estragou tudo como sempre faz com muita mestria. Ronald pode ter errado comigo, mas eu errei inúmeras vezes mais.

Por quê sou assim?

Por quê fiz isso comigo mesma?

Por quê...

São perguntas cujas respostas não são encontradas. Para as pessoas de fora, sou uma bruxa inteligente, bonita, competente, que não tem medo de nada, que enfrenta todos os obstáculos que houver na sua frente. Eu já fui assim. Só que há 20 anos atrás. Hoje, já é tarde demais. O que tem dentro de mim é resumido em um vazio do tamanho do mundo, que eu mesma causei.

...

Londres, 30 de setembro de 2027.

Ministério da Magia, 19:57.

-Granger! Por Merlin, quanto tempo! - Cormoran salta da cadeira de sua sala. Agora ele é um dos melhores aurores que há em Londres. Ele corre para me abraçar, e desaba em lágrimas. Está com os cabelos levemente grisalhos, os olhos com algumas marquinhas de rugas, mas continua com a mesma beleza e simpatia de sempre.

-Ah, Corm. Me perdoe. - lágrimas brotam em meus olhos também. Ah, sinto tanta falta de meus amigos. Eles devem estar me odiando, assim como eu mesma também estou.

-Não se desculpe. Você está linda! Como você está? Como conseguiu passar mais de uma década sem mim? - e brincalhão, como sempre. Ele me larga e rimos.

-Eu estou... Bem. Você está ótimo, Cormoran! Como vai a vida de auror? Arrumou um namorado?

-Eu estou mais do que bem. Hmm, será que devo falar? Você me abandonou, Granger. - ele faz uma carinha triste.

-Ah, me desculpe! Por favor, Cormoran, sem drama que eu sei que você arranjou alguém! Seus olhos dizem isso.

-Owen Malfoy. -ele sibila com uma certa vergonha, mas com um sorriso no rosto.

-Um Malfoy?? OWEN MALFOY? Caramba, o mesmo...

-Sim, que prendeu o resto dos comensais da morte que estavam em sua própria família. -esse bruxo é muito famoso, e também um "primo" bem distante de Draco. Falando nele, preciso vê-lo.

-Você está mesmo namorando ele? Não quer apresentá-lo a mim?

-Meu Merlin, você acabou de chegar e já está de olho no meu bruxo?

-Claro que não, Finnigan! Eu apenas quero conhecê-lo, você sabe... Ele decretou o fim dos últimos comensais da morte existentes no mundo inteiro.  Seria uma honra se eu pudesse conhecer o maior...

-Quem sabe um dia, Hermione. - seu tom engrossa e ele fica sério repentinamente.

-O que houve? Credo Cormoran, foi apenas uma brincadeira...

-Eu sei minha querida, é que... Mesmo depois de tanto tempo fora, você ainda é conhecida pelo trio de ouro, claro, ninguém vai tirar isso de você, mas é que... Essa notícia de que você largou o Weasley repercutiu muito mal aqui em Londres. Vocês eram um ótimo casal, e de repente você acaba com ele numa cama de hospital, quando ele tanto precisava de você...

-Eu já entendi. O que você quer dizer com isso?

-...e você voltou para Londres porque estava sentindo falta dele. E de mim, mas isso não convém agora. O que quero dizer é que...

-Eu sei o que você quer dizer. Eu não quero brigar com o meu querido amigo por causa dele.

-Tudo bem. Não vou mais interferir na sua vida. Faça o que quiser, afinal, a vida é sua, não é?

-É. Mas então... Quer sair para jantar hoje?

-Desculpe, eu realmente queria, mas... Estou tão atolado de coisas do trabalho, e... Owen quer adotar uma criança.

-Sério? Meu Merlin, isso é ótimo, Corm! Parabéns!

-Obrigado. Mas eu realmente ficaria agradecido se eu também quisesse um filho. Quero focar em minha carreira profissional, sabe? Eu gosto de crianças, mas eu seria um péssimo pai. Não teria tempo para ele ou ela, não tenho como cuidar dessa criança, mesmo com Owen. Não quero que essa criança sofra por minha causa.

-Entendo. Mas vocês têm de conversar juntos e com calma, ok? - não tenho direito algum de dizer isso, já que o meu relacionamento acabou por uma fonte ridícula.

-Entendido. Bom, me desculpe querida, mas eu tenho tanto o que fazer... Eu mando uma coruja para você para marcarmos um almoço ou um jantar... Espera. Você vai voltar a trabalhar aqui?

-Essa é a novidade. Vou ser a vice-ministra da Magia de Londres. - seu queixo literalmente cai, e ele corre para me abraçar.

-Meus parabéns! Você merece! Vamos almoçar juntos amanhã comigo e de quebra te apresento à Owen. Ele é um admirador do seu trabalho, sabia?

-Uau. Sério?

-Sim. Mesmo estando trabalhando no Ministério australiano, seu trabalho é mundialmente conhecido pelas leis de proteção aos elfos, e claro, pelo Trio de Ouro. -agora meu queixo cai.

-Isso é maravilhoso; claro, eu amaria conhecer um outro membro da família Malfoy... Falando nele, preciso vê-lo. Tem alguma ideia de onde ele esteja?

-Provavelmente você vai encontrá-lo na sala dele, é a quarta do segundo andar. Boa sorte. - não entendi de início o "boa sorte", mas desconfio de que seja por causa do mesmo motivo que todos me odeiam.








True Blood - O futuro nos espera (Parte Final)Onde histórias criam vida. Descubra agora