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Saímos mais ou menos umas 07:00 horas da manhã da casa noturna. O sol já estava no céu e os passarinhos cantando felizes e me irritando um pouco, já que minha cabeça estava doendo. Enquanto andávamos pela rua, Nícolas passou o braço em volta do meu ombro.

— Vamos tocar café na padaria?

Eu apenas concordei e fomos para a padaria mais próxima. Quando estramos, nos sentamos em uma mesa bem afastada e fizemos nosso pedido. Nícolas colocou a cabeça apoiada em uma mão e ficou me olhando com um pequeno sorriso no rosto.  

— Tá me irritando um pouco! — eu disse e ele caiu na risada.  

— Me conta mais um pouco sobre você? — eu o olhei com uma sobrancelha levantada. — Nós saímos para nos divertir, mas não tive a chance de conversar muito com você. Digamos que essa é a segunda fase do nosso encontro.

Eu concordei com a cabeça.

— Tudo bem... O que quer saber?

— Tudo.

— Tudo? Não é muita coisa?

— Não, eu ainda acho bem pouco.

— Bom... Me chamo Giovanni e tenho 20 anos, sou italiano e me mudei aqui para o Brasil quando era bem novo. Sou trapezista no circo da minha família e eu realmente amo o que eu faço. Tenho três irmãos, uma mais velha e dois mais novos. Minha mãe morreu no ano passado vitima de um câncer de mama, e desde então meu pai é o nosso porto seguro. Namorei com um idiota durante quatro anos e tenho mais chifres do que 100 cabeças de gados.

Ele deu uma gargalhada alta na ultima parte.

— Desculpa, desculpa. Pode continuar.

— Bom, meu sonho é cursar medicina veterinária na faculdade, mas não posso fazer isso, pelo menos não por enquanto.

— Por que não? O problema é dinheiro? Vocês tem um público bem grande no circo...

— Não, o problema não é dinheiro, mas sim o circo. Não temos os costumes de ficar muito tempo no mesmo lugar. Estamos em São Paulo desde os meus 15 anos, por que eu comecei a estudar aqui assim como o meu irmão, mas quando ele se formar nós vamos levar o circo para outro lugar.

— E quando o seu irmão se forma? — ele perguntou meio tenso.

— No fim do ano...

— Nossa, não está muito longe...

— Relaxa, você ainda vai me encher muito o saco... Estou sentindo isso.

Eu disse sorrindo e ele ficou um pouco vermelho, posso dizer que achei isso meio fofo. Meio não, muito fofo. Nosso café chegou e eu gradeci ao garçom. 

— Agora sua vez.

— Minha vez? — ele perguntou se fazendo de desentendido.

— Sim, eu já disse coisas sobre mim... Agora é a sua vez.

— Mas você não disse tudo.

— Quem sabe você não descobre com o tempo.

Eu disse sorrindo e ele abriu um enorme sorriso, era até lindo de se ver.

— Tudo bem, o que quer saber?

— Que tal tudo.

— Não é justo.

— Tudo bem, não precisa ser tudo, só o básico.

Mais uma vez aquele sorriso maldito, acho que posso me acostumar com ele.

— Bom, me chamo Nícolas e tenho 21 anos... 

— Você não tem 21 anos — eu disse o interrompendo.

— O quê?

— Não te faz de sonso, sei que não tem 21. Sua carinha de adolescente não me engana.

— Tudo bem... Eu tenho 17... — ele disse meio constrangido e eu não consegui segurar a risada.

— Você tem 17 anos?

— Não ria de mim...

— Não é isso... Como você conseguiu entrar naquela balada sendo menor de idade?

— Indenidade falsa — ele disse todo orgulhoso de si mesmo.

— Um fora da lei... Estou gostando cada vez mais dessa historia. Pode continuar.

Ele ficou mais uma vez vermelho e deu um pequeno sorriso de lado.

— Então, como eu estava dizendo. Eu tenho 17 anos e ainda moro com os meus pais. Estou para me formar no ultimo ano do colegial e quero ser DJ.

— DJ?

— Sim, mas meus pais querem que eu curse Administração de empresa para conseguir ter um futuro bom, e como eu ainda sou menor de idade eu tenho que concordar com as coisas que eles falam.

— É por isso que você não é assumido?  

— Meu pai foi militar e para ele isso é uma aberração... Ele abomina qualquer tipo de relação que não seja a "normal", do homem com a mulher. Ele apoia todos os políticos homofóbicos, e diz que todos dessa raça tem que morrer. 

 Eu coloquei a mão na sua e ele me lançou um sorriso triste.

— Ele é religioso?

Ele deu um pequeno sorriso e logo em seguida negou com a cabeça.

— Ele diz que Deus não exite e que foi criado pela igreja para manipular o ser humano. Meu pai tem a mente muito fechada. Lá em casa não podemos tocar no nome de Deus, e muito menos na palavra gay. Ele me ensinou a ser homofóbico, disse que se um dia eu ver dois homens se beijando, ou duas mulheres é para eu não ter dó e e meter a porrada.

Eu coloquei a mão na boca e fiquei chocado com o relato do garoto que estava em minha frente.

— E como ele te deixa sair de noite?

— Ele pensa que eu estou em um puteiro ou algo do tipo.

Mesmo estando em um momento tenso eu não consegui segurar a gargalhada, pois o que ele tinha dito para mim foi mais que engraçado. Foi hilario.

Ele ficou me olhando e deu um sorriso logo em seguida, resolvemos mudar de assunto e ficamos conversando sobre coisas banais. Claro que eu não podia esquecer que eu sou um papa anjo por pegar um garoto novinho que nem o Nícolas, que mesmo não sendo assumido, tinha mais experiências que eu.  

Depois da segunda fase do nosso encontro, resolvemos seguir nosso caminho. Ele me deu um abraço apertado e seguiu para uma linha do metro diferente da minha. 

Demorei mais ou menos 01:30 para chegar em casa, mas posso dizer que valeu muito a pena. Me joguei na minha cama que estava sendo ocupada pelo Victor e ele logo me abraçou como de costume e acabamos caindo no sono.

XXX

Então é isso mores do meu coração. 

Que tenham um boa noite de sono e que não tenham pesadelo.

To sentindo que minha mãe vai me acordar as 07:00 da manhã e estou um pouco triste.

Quem liga?

Beijinhos nos corações.

FReaK ShOwOnde histórias criam vida. Descubra agora