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1.6

 -ooOoo-

Meu pai e meus irmão estavam sentado me olhando, mas eles estavam mais preocupados com os ferimentos do rosto do Nícolas.

— Quem fez isso com você bambino? — meu pai perguntou preocupado.

— Foi o meu pai...

— Mas Dona Santa — ele se levantou e deu um abraço em Nícolas e um beijo em sua testa. — Como um pai pode fazer uma coisa dessa com um filho, um filho ainda tão pequeno e tão criança?

— Está tudo bem senhor — ele disse sorrindo. — Sempre soube que isso ia acontecer, meu pai nunca escondeu seu ódio a tudo que é "diferente". Nunca pensei em me assumir, mas quando eu conheci o Giovanni, tudo mudou na minha vida...

Ele disse me olhando e eu senti meus olhos ardendo por causa das lagrimas. 

"Tudo o que aconteceu poderia ter sido evitado, se você tivesse tido coragem".

— Bom, mas agora você tem a gente — meu pai disse sorrindo. — Somos sua família agora, todos aqui tem um enorme coração e vamos recebe-lo com muito amor e carinho.

Desde que minha mãe morreu meu pai desenvolveu esse amor maternal que era exclusivamente dela. Ele diz que ela o mudou e o mudou para melhor, mas eu sei que no fundo ele sempre foi assim.

— Espera ai... — meu irmão disse com cara feia. — Por que todo mundo aceitas os namorados do Giovanni e não aceita a minha namorada.

— Todo mundo erra meu bem — meu pai disse sorrindo. — Seu irmão namorou o traste do Lucas e agora acertou com o Nícolas. Você namorou aquela garota suja e que só falava palavras chulas e agora vai encontrar alguém melhor e sua irmã... Logo eu suborno aquele namorado nojento dela e o mesmo desaparece daqui.

— Papà! — Graziela disse de cara feia.

— Gente por favor... Eu preciso falar uma coisa... Muito importante.

O semblante do meu pai se tornou de divertido para preocupado, pude perceber que ele ficou tenso. Meus irmão se sentaram no sofá em minha frente assim como o meu pai.

— Aconteceu alguma coisa meu amor?

— Sim...

— Então fala.

Eles ficaram me olhando e minha coragem estava indo embora, mas Nícolas segurou a minha mão e apertou com força, eu fiquei olhando para ele e apenas dei um pequeno sorriso. Ele beijou a minha mão e sussurrou no meu ouvido:

"Estou com você".

— Há alguns meses eu... Eu pude perceber que as coisas não andavam muito bem com o Lucas... — eu senti minha respiração falhar. — Acho que vocês se lembram — meu pai concordou com a cabeça. — Então, cada dia que passava ele parecia piorar, então um dia eu escutei uma conversa dele com o ex-namorado. Eles estavam brigando, brigando por que tinha descobrido que Lucas estava com Aids... Que ele estava em um estado muito avançado e por isso ele estava daquela maneira. Então... Então eu fui fazer o exame, o exame para descobrir se eu tinha sido infectado...

Graziella estava me olhando com a mão na boca assustada assim como o meu irmão. Já meu pai tinha uma feição rígida em seu rosto e eu não imaginava o que estava se passando por sua cabeça.

— Continue — ele disse com a voz assustadoramente grossa. Pude sentir Nícolas se arrepiando do meu lado assim como eu.  

— E eu descobri... Descobri que tinha sido infectado com o vírus do HIV.  No começo eu fiquei arrasado, então eu decidi terminar com o Nícolas e me afastar de tudo.

— Foi naquela época... Naquela época que você entrou em depressão — perguntou meu pai com a voz embargada. Ele estava vermelho assim como os seus olhos. —   

— Sim... Eu pensei que eu fosse morrer, então achei melhor me afastar de tudo e todos e eu também não contei por medo.

— POR MEDO? — meu pai se levantou e começou a andar de um lado para o outro. Nícolas apertou minha mão. — VOCÊ FICOU COM MEDO? SABE QUE NÓS SOMOS UMA FAMÍLIA? UMA FAMÍLIA QUE NÃO ESCONDE NADA UNS DOS OUTROS. FOI ASSIM QUE A SUA MÃE TE CRIOU.

Eu abaixei minha cabeça e deixei as lagrimas rolarem pelo meu rosto.

— Do que você tinha medo? — meu pai perguntou chorando. Ele se aproximou de mim e segurou as minhas mãos. — Me fala Giovanni! Qual era o seu medo?

Eu solucei e respirei fundo, aquilo estava sendo pior do que eu imaginei. Muito pior.

— Eu tinha medo de você se afastarem de mim. De sentirem nojo de mim.

— Pelo amor de Dio. Eu vou repetir o que eu te disse quando você assumiu sua sexualidade. Nós somos um só, nossa família é uma só. Quando você está bem nós estamos bem, quando você não está bem nós não estamos. Sua mãe sempre te disse isso, sempre te apoiou nas suas decisões, sempre esteve do seu lado. Pensei que isso seria o suficiente para que confiasse em nós, mas eu vejo que não.

— Não fala assim...

— Eu... Não... Eu que não quero falar com você agora!

Ele soltou as minhas mãos e saiu do trailer batendo a porta com força. Meus irmãos vieram até mim e me deram um abraço apertado. Eu me sentei na cama e eles se sentaram ao meu lado e Nícolas se ajoelhou na minha frente.

— Eu estraguei tudo de novo.  

— Não... — meu irmão passou a mãos nos meus cabelos. — Assim como você ele também só está com medo.  

— Medo? — eu perguntei limpando minhas lagrimas.

— Sim... — Graziella disse com calma. — Quando ele perdeu a mamãe ele quase desistiu de tudo, mas por causa de nós ele aguentou... Por causa de você. E ele está com medo de te perder também. Acho que ele não suportaria.

— Mas eu estou bem! — eu disse me levantando.

— Então vai dizer isso para ele — Nícolas disse segurando o meu rosto. — Diga para ele que você está bem.  

Eu concordei com a cabeça e dei um abraço nele e nos meus irmãos.

XXX

Não revisado.

Desculpe os erros.