Quatro

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Chegando em casa, as garotas encontraram um bilhete de seus pais.

Filhas,

Fomos comprar o almoço.
Voltaremos mais tarde.

- M & P

- Mas eu tô com fome agora, Dina - reclamou Helena.

- Não posso fazer nada - Ondina deu de ombros. - Também tô com fome. Só queria uma pizza e o meu carregador, mas não tem pizza e o carregador eu esqueci e... MEU CHINELO!

Na pressa, Ondina tinha esquecido seus chinelos na areia, próximos à água. Provavelmente o mar já tinha levado, mas ela precisava daqueles calçados; eram os únicos abertos que ela trouxera.

- Vou procurar meu chinelo, Lena - Ondina abriu a porta, liberando uma rajada de vento e chuva para dentro da casa.

- Mas tá perigoso - protestou a mais nova. - Você pode se perder, ou ser levada pelo mar.

- É, só que eu preciso dos meus chinelos. Volto já - e saiu antes de mais alguma objeção.

***

O céu não estava de brincadeira. A chuva caía, forte e constante, acompanhada de ventos gélidos. O mar acompanhava isso tudo, e os clarões dos relâmpagos iluminavam aquela cena.

Dava medo, mas era incrivelmente lindo também.

Cambaleando até o mar, Ondina tentava localizar um par de Havaianas amarelas no meio da areia molhada. Encontrou várias conchas e uma toalha, mas nada de chinelo.

Ela chegou a entrar no mar até a água bater em sua barriga - ela já estava molhada de chuva mesmo -, e já ia começar a chorar quando avistou um barquinho amarelo. Agarrou o pé esquerdo do chinelo com vontade, e olhou em volta para ver se achava o outro. Bingo!

Com a missão cumprida, Ondina começou a voltar para a praia, mas um pequeno brilho embaixo d'água chamou sua atenção. Muito curiosa, a menina prendeu a respiração e tateou a areia em busca do objeto. Talvez fosse alguma joia perdida, ou uma concha mais polida, ou mesmo uma pérola. Porém ela não encontrou nada.

Decidida a encontrar a fonte do brilho, Ondina abriu os olhos embaixo da água salgada. E ardeu muito. Pelo menos ela descobriu o que brilhava: um pente dourado com uma concha lilás incrustada. Devia ser ouro, pois pesava bastante para um pente.

De quem teria sido?

A parte pisciana de Ondina respondeu "de uma sereia". Mas isso é impossível. Afinal, sereias não existem.

E então, repentinamente, uma onda fortíssima se levantou. E tragou Ondina para as profundezas do oceano.



OndinaOnde histórias criam vida. Descubra agora