Seis

160 54 19
                                    

Meu Poseidon do mar, foi tudo que Ondina pensou, antes de ser arrastada. Sentia a mão fria ainda em seu tornozelo, mas não conseguia ver de quem era, pois ela era puxada muito rapidamente e a força da água a impedia de levantar a cabeça.

Ela já ia entrar em desespero quando parou. Estava em um ambiente mais escuro, e as algas, compridas e amareladas, faziam um labirinto ao seu redor. Era bem assustador.

Não havia ninguém com ela (será?).

- Olá? - ela ouviu sua voz, trêmula. Mas não fazia sentido ela conseguir falar embaixo d'água! Muito menos ainda não ter morrido afogada! O que estava acontecendo?

- Preciso desse objeto que está na sua mão - a voz, melodiosa, veio do meio das algas.

- Quem é você? - Ondina já suspeitava, mas precisava de uma confirmação.

- Não interessa... apenas solte o pente - a voz estava... assustada?

- Não posso fazer isso sem saber o que está acontecendo - nesse ponto da história, podemos perceber que Ondina é a) louca, b) desmiolada e c) curiosa.

As algas se mexeram, e revelaram uma garota. Ela tinha os cabelos castanhos nadando na água, e penetrantes olhos lilases. Suas feições eram delicadas, e... na lateral do pescoço, eram guelras? Impressionantes, mas não tanto quanto a cauda. Enorme, pelo menos duas vezes a parte humana - da cintura para cima -, e azuis, com as escamas bem brilhantes. Aquele azul foi o mais bonito que Ondina viu em toda sua vida.

- Você é... - Ondina não conseguiu conter a surpresa.

- Não importa. Preciso do meu pente - a sereia parecia fria, mas seus olhos denunciavam algum medo.

- Pode ficar - Ondina jogou o pente para ela. Ao contrário do esperado, ele foi até a mão da outra bem lentamente - Eu só queria minhas Havaianas.

- O que são Havaianas - a sereia começou a pentear seu cabelão.

- Havaianas são chinelos - Ondina explicou, mas a sereia ainda parecia perdida. - Para os pés.

- Ahh, sim - a sereia concordou com a cabeça.

- Por que você queria seu pente?

- As sereias ganham um pente quando nascem, e é o único que elas podem usar na vida toda - a sereia explicou. - Mas eu sou um pouco esquecida, então eu perdi o meu.

- Te entendo - Ondina também era "um pouco" esquecida.

- Então - continuou -, quando eu te senti...

- Você me sentiu?!

- É, eu estou conectada com o mar - a sereia disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. - Enfim, eu te senti, e como precisava do meu pente de volta...

- Então eu estava no mar e... onda e... xuá em mim? - Ondina estava meio brava. E tinha razão, afinal, podia ter morrido afogada!

- É, mas eu te encantei - ela reviru os olhos. - Como acha que ainda não morreu?

- Como assim?

A sereia indicou o pescoço, e Ondina passou as mãos no seu.

- Você... EU TENHO GUELRAS?!?!?! - Ondina não beirava o desespero; ela já tinha caído (e se encontrava na profundidade máxima do desespero). - Santo Poseidon... mas eu vou voltar ao normal, né?

- Eu acho - a sereia desviou o olhar.

- Sua... sua...

- Calma! Eu posso encontrar suas... chinelos pra você - a sereia ofereceu.

Ondina respirou fundo - uma expressão estranha de usar, levando em conta que ela estava embaixo do mar -.

- Tá, mas se eu não voltar ao normal você me dá seu pente.

A sereia gelou, mas aceitou mesmo assim.

- Fechado. Aliás, meu nome é Aurore.

- Ondina, muito prazer.



OndinaOnde histórias criam vida. Descubra agora