- Um de baunilha e um de chocolate, por favor - Ondina pediu. Ela praticamente saltitara até a sorveteria, de tanta alegria repentina por causa do sorvete.
- Claro, moça - o rapaz do balcão respondeu com um sorriso. Ele aparentava ter uns 16 anos, com a pele bronzeada e olhos verdes. Não azuis esverdeados, ou verdes azulados; verdes verdes. Ondina corou quando constatou que ele não era nada feio. - Aqui.
Ela pegou os dois picolés e, desajeitadamente, entregou a nota de dez reais para ele.
- Obrigado e volte sempre - o rapaz sorriu de novo, e Ondina corou de novo. - Hoje tá quente, né?
Ele achou que eu corei por causa do calor, que meigo. Ela riu internamente.
- Sim, eu tô quase arrancando minhas roupas de tanto calor - deixou escapar. Reparando na expressão do garoto, ela tentou consertar: - Quer dizer, eu não vou arrancar minhas roupas, é que deu vontade. Quer dizer, não deu vontade, mas daria se ninguém estivesse olhando e... - ela respirou fundo e tentou se acalmar. - É só uma expressão bem idiota que eu não deveria ter usado. Desculpa, não sou boa com palavras.
- Não tem problema, eu entedi - ele riu e estendeu a mão. - André, prazer.
- Ondina - ela apertou a mão de André. - Nome estranho, eu sei.
- É bem bonito, combina com você.
Nesse ponto da conversa, ela só não corou mais porque não era possível.
- Então... você mora por aqui? - ela mudou de assunto.
- Na verdade, só estou passando umas semanas na casa do meu primo. Moro em São Paulo. E você?
- Eu...
Ela também morava em São Paulo, mas foi interrompida por duas garotas que chegaram e se apoiaram no balcão, exibindo decotes enormes e rostos pesados de tanta maquiagem.
- Oii! - uma delas disse, assim mesmo, com dois i's. - Dois sorvetes de morango sem açúcar, por favor, gato. Você malha?
Nem eu e nem Ondina sabemos o porquê de algumas garotas serem assim. Mas elas eram, e monopolizaram a atenção do tal André. Ondina se despediu com um "tchau" bem tímido e retirou seu decote de tamanho normal e sua cara limpa do balcão.
***
- Que cara é essa, Dina? - Lena perguntou, enquanto construía mais uma torre em seu castelinho. Ela optara por esperar a irmã do lado de fora da sorveteria, para brincar na areia.
- Não é cara de nada, Lena - Ondina tentou disfarçar o aborrecimento com as duas piriguetes- quer dizer, garotas. - Toma seu sorvete.
As duas irmãs andaram de mãos dadas até o raso do mar, onde a água só cobria até o calcanhar, e chuparam seus picolés enquanto desenterravam conchinhas com os dedos dos pés. As ondas iam e viam, e eram a fonte de todo o barulho que se ouvia. A praia estava deserta, a não ser por elas.
- Dina, você viu a previsão do tempo? - indagou Lena, do nada.
- Sim, dias quentes e ensolarados e noites frescas para esse fim de semana. Por quê?
- Parece que o céu não está de acordo com isso não...
E era verdade. Mais rápidas do que a ciência considera possível, aquelas nuvens lá de longe, do horizonte, se aproximavam.
Antes que seu cérebro processasse as manchas cinzas no céu, Ondina sentiu gotas em seus braços.
- Vamos, Lena. Vai chover.
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Ondina
القصة القصيرةEra uma vez, Ondina. Ela adorava as ondas, a areia nos pés, o vento no rosto e o sol queimando o corpo, mas, naquele momento, só queria fazer sua maratona de série e acordar uma hora da tarde no dia seguinte. Então é lógico que não foi isso que acon...