Cinco

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Era azul.

Na tempestade, o mar estava cinza - pelo menos visto de fora d'água -, mas embaixo era azul. Um azul bem lindo, com tons de cobalto. Não devia ser mais de duas horas da tarde, e estava mais escuro do que deveria.

Ondina prendera a respiração assim que se viu afundando, mas mantinha os olhos bem abertos. O sal os machucava, porém ela não ligava. Queria ver cada detalhe daquela imensidão azul - para você ter uma ideia, Ondina nem cogitava um meio de voltar à superfície -.

Quando a visão foi entrando em foco, como se seus olhos estivessem se acostumando, Ondina reparou que não era só azul. O chão era de areia, bege escuro, mas estava repleto de algas, corais, conchas e outras belezas que ela não sabia o nome.

Se mexendo um pouco, ela conseguiu pisar numa área na areia livre de outro ser vivo - o que foi estranho, porque, na água, a tendência é o ar subir, e os pulmões dela estavam cheios -.

Ondina concluiu que estava bem longe da praia, porque a tempestade não havia afetado em nada. Peixinhos passavam nadando de lá para cá, caranguejos andavam pela areia, vez ou outra beliscando a água, e havia uma ostra enorme bem aberta, exibindo uma linda pérola. Essa cena era meio mágica.

Em que parte do oceano eu vim parar?, se perguntou.

Ela reparou que havia soltado os chinelos, mas ainda segurava o pente de ouro fortemente. Ótimo, tudo aquilo para nada, perdera os chinelos.

Resolveu que era melhor voltar. Não estava sem fôlego - outra coisa muito estranha -, mas algum tubarão poderia atacá-la. Não há tubarões nessa região, mas também não há ostras, e ela viu uma enorme, então é melhor não arriscar.

Assim que deu impulso com as pernas, para subir, algo segurou seus pés. Ela olhou e era... uma mão humana.



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