Capítulo 6

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Depois do choque que foi ter lido aquelas páginas do diário, decidi deitar e tentar dormir um pouco. Sem sucesso. Fiquei a noite toda imaginando aquela cena na minha cabeça, ela passava e repassava, mas nunca parava. Obviamente que não iria em Copacabana no réveillon deste ano, desapontaria meus pais por não participar de uma viagem que eles estavam planejando havia meses, mas não correria o risco de conhecer aquele tal de Alex e passar por tudo aquilo que a Izzie do futuro já passou.

Depois de algumas horas me revirando na cama, meus pais bateram na porta para me acordar. Disse que estava "doente" e acabei ficando em casa. Estava cansada, derrotada. Nao conseguia tirar as imagens da minha cabeça e para acabar com isso, voltei a ler o diário para saber o que acontecera comigo naquela noite.

30 de Junho de 2019
Acordei na cama de um hospital. Passei dois dias dormindo, ou tão sedada a ponto de não conseguir acordar. Meu corpo todo está doendo. Olhei meus braços e eles estão roxos assim como minha pernas, bochechas e pescoço. Estou com olheiras profundas embaixo dos olhos e alguns pontos em cima da sobrancelha. O médico me disse que estava tudo bem e que meu sangramento não era nada alarmante, porém teria que falar com policiais sobre o que eu tinha passado.
Naquela noite andei 3 quilômetros até encontrar uma mercearia no meio do nada. Não sabia onde estava e muito menos que horas eram. Entrei na mercearia e uma mulher - que por um milagre de Jesus já tinha sido enfermeira - me socorreu e me ajudou. Ela ligou para os policias, que agora estão fazendo escolta no lado de fora do meu leito, e eles me trouxeram para este hospital, ligaram para os meus pais e me trataram como uma rainha. Eu não conseguia dizer o que tinha acontecido, as lembranças me matavam cada vez que eu tentava. Meus pais estavam desesperados e brigavam o tempo todo. Vi minha mãe chorando em todos os momentos que estivera aqui no hospital e tenho certeza que chorou ainda mais quando eu não estava por perto. Eu causei um caos na minha família por não ouvir meus pais e suas advertências e destruí minha vida por ser idiota o bastante em acreditar em um cara que só vira uma vez na vida. Agora estou aqui, deitada e sem saber quando irei para casa de novo. Minha vida está um inferno e eu sou responsável por isso.

01 de Julho de 2019
Cheguei em casa há algumas horas atrás. Não consigo andar direito por conta da dor. Minha casa está uma zona, tem caixas espalhadas por todos os lados. Minha mãe está deitada na cama, chorando e meu pai assim que chegara comigo, começou a empacotar mais coisas. Perguntei para eles o que estava acontecendo e descobri, depois de muito insistir, que meu pai está saindo de casa. Foi um choque para mim. Meu pai, que eu tanto amo está se separando da minha mãe por minha causa. Tentei conversar com eles mas já está feito. Os advogados já estão com os papéis do divórcio prontos para ser assinados e não tinha nada mais para fazer. Minha mãe não conversa mais comigo e meu pai está se mudando para São Paulo. Minha vida, que já estava ruim, ficou pior. Meu chão caiu e meu pai não vai estar mais aqui para segurar minha mão, minha mãe não está mais aqui para me abraçar e o Matt, que tanto me pediu para não ouvir o babaca do Alex, não fala mais comigo. Provavelmente ele nem sabe o que aconteceu ainda. Eu estou sozinha e não sei o que fazer.

Meus pais iriam se separar? Eu perderia minha amizade com o Matt? Isso não pode acontecer! Comecei a chorar e não conseguia parar. Decidi ligar para o Matheus e contar para ele sobre o diário e tudo que eu li nele. Vinte minutos depois, ele veio correndo e abriu minha porta de supetão. Sabia que ele iria gritar comigo, mas parou assim que me viu sentada na cama chorando desesperadamente.

— Ah Izabelle, Izabelle. Está tudo bem, tudo bem, ok? Eu estou aqui e não vou embora. A gente não vai se separar nunca e nada disso vai acontecer com você. Eu não vou deixar que aconteçam.

Ficamos um bom tempo abraçados até que cai no sono. Acordei horas depois, deitada nos braços dele.

— Oi, fiquei aqui com você enquanto estava dormindo. Comecei a ler esse livro aqui - no caso, Harry Potter - e cara, é muito bom! Mas enfim, como está se sentindo? Tudo bem? Seus pais bateram na porta milhares de vezes, acho melhor você aparecer lá em baixo e falar com eles.

Depois de alguns minutos fitando o vazio e ouvindo Matt cantar minha música favorita - Gemini Feed da Banks - decidi me levantar e encarar a vida de frente. Ultimamente ela estava me socando com força e ganhando a luta, mas agora eu queria vencer. Teria de vencer, não só por mim, mas por todas aquelas pessoas que me amam. Desci as escadas e vi meus pais cozinhando. Estavam sorrindo e brincando juntos. Fiquei olhando para eles até notarem a minha presença.

— Oi minha princesa, fiz um lanchinho para você. Soube que estava meio doente, então quis preparar tudo que meu anjinho mais gosta de comer.

— Oi papai, muito obrigada! - dei o abraço mais forte e demorado nele.

Fui até minha mãe e a abracei também, transbordando todo o amor que eu sentia para ela. Minha família estava feliz. Estava com todos que eu amava ali, bem pertinho de mim. Não podia estar mais feliz.

— Ei Izzie, chama o Matt para comer também. Sei que ele estava lá em cima com você. - diz minha mãe.

Subi as escadas de dois em dois degraus e gritei o Matt. Ele passou correndo por mim e sentou-se na mesa para comer. Minhas comidas favoritas também eram as dele, assim como tudo. Fiquei no pé da escada olhando para minha família - de fato Matt era minha família também - e senti no fundo do meu coração que eu, Izabelle Castro, precisava ser forte e manter as decisões certas para que tudo isso não mudasse, não desabasse.

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