capítulo 2

339 45 13
                                    


Angelina se senta no local que sempre a agradava, o meio da sala. Não gosta do fundo pois transparece tumultos e nem da frente que é o alvo do silêncio. O meio termo é sempre sua escolha.

"Bom dia, meus queridos." A voz do professor de literatura soa no seu tom de sempre. Mr. Larsen abre um sorriso que faz parte do seu ritual matinal, porém, hoje ele parece estar mais vívido. "Imagino que vocês já saibam que hoje teremos uma visita." O professor diz prolongando o sorriso e segue o caminho até a porta. Ele a abre e uma pessoa muda completamente a atmosfera da sala.

As garotas que antes não pareciam dar a mínima para o que o professor dizia, agora têm suas respirações ofegantes e certos tons surpresos predominando em suas faces. Angie quis rir da situação. De fato, o homem que entrara na sala é realmente muito bonito. Um Deus grego. Cheio de armadilhas por entranhas que Angie não queria perder tempo explorando. Ele era bonito, mas beleza não era tudo. Algo nele a chamava atenção mas ela ainda não havia descoberto em certo o quê.

"Esse é meu sobrinho, Isaac Larsen." A fala do professor esclareceu algumas coisas, eles são meio parecidos. "Ele cursa Inglês e Literatura na universidade de Oxford." -Já basta ter uma beleza apelativa, tem que encher a cabeça dessas desesperadas com contos eróticos de linguagem culta. Era só o que me faltava,- Angie pensa alto. "Para deixar claro, ele não será uma visita corriqueira. Isaac passará a frequentar nossas aulas uma vez por semana para auxiliar vocês.", o professor completa.

"Bom dia à todos" A voz de Isaac é rouca e séria. Sua britanicidade parece ser mais evidente devido ao seu timbre másculo. Ele sorri para turma e certos olhares de derretimento são lançados para o homem. "Como meu tio disse, estarei aqui para auxiliá-los de todas as formas." Era possível haver uma pitada de malícia em suas palavras? "Pensei que, para estrear minha chegada em Wheatley Park, poderíamos discutir sobre Shakespeare, o último assunto que vocês estavam estudando, certo?"Praticamente toda a classe assente com a cabeça e a situação se demonstra engraçada. Metade daquela turma eram meninas e quase todas elas não prestavam atenção em pelo menos 10% da fala de Isaac.

"Era só o que me faltava." Barbora sussurra baixinho para Angie e a amiga responde com uma risada irônica.

"Deixe-me adivinhar, qual das obras é a favorita de vocês?" O homem alto e esbelto diz enquanto encara a turma. Ele definitivamente é um Deus grego. Tem cabelos de anjo que se desenrolam como uma mescla de mechas lisas e cachos. Uma bagunça incrível. Seus olhos são de um tom azul piscina que parecem alcançar a profundeza dos oceanos. "Macbeth? Sonhos de uma noite de verão? Otelo? Já sei, o clichê dos clichês..." O homem ri, "Romeu e Julieta?" Ele pergunta e a sala começa a saltitar murmúrios.

"Hamlet." Uma voz quebra todas as outras e os olhos azuis de Isaac se direcionam para a menina problemática.

"Por que Hamlet, Srta. Walker?" O homem pergunta pensativo e Angie arqueia as sobrancelhas. Como ele sabia o meu nome?, -ela se pergunta.

"Porque não é tão utópico quanto os outros. As pessoas só se deixam machucar pela dor física." Ela diz, convicta.

"Você não acha que traição, vingança e moralidade não resultam em dor psicológica também?" Isaac a rebate indiferente, despertando uma certa inquietude na menina.

"Sim, mas são desprezíveis já que no universo shakesperiano não há dor psicológica maior do que o amor." Os olhares da sala se direcionam a Angie. Era só uma troca de opiniões sobre Shakespeare, certo?

"Tenho que discordar, Walker." O homem diz se aproximando da cadeira da menina. "Veja bem, se a dor de ter seu pai morto não atingisse seu psicológico, Hamlet não iria querer se vingar de Claúdio por isso."

"Sua perspectiva. Eu tenho a minha.", ela sorri amarelo ao dizer. Sua inquietude para e sente a indiferença tomá-la por inteiro. Não seria por causa de um mero ajudante de professor que Angie fraquejaria, afinal, ela não faria isso por ninguém.


MASQUERADEOnde histórias criam vida. Descubra agora