capítulo 3

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Angelina encara o espelho fixamente e vê o reflexo de 17 anos vividos. Ela vê uma garota cansada, de maquiagem borrada e completa por desgaste. São noites que a insônia a consume e seu único amigo é um objeto encadernado, um livro. Angie também gosta de delirar acordada ao som de cantores Pop clichês como Ed Sheeran. A acalma.

Hoje é sexta-feira, último dia de aula na semana, primeiro dia de curtição que antes se compromete com a missa das seis. Toda semana Angelina se força a ir para a missa com a mãe que esconde sua depressão por trás de um sorriso frouxo. É difícil para Lana Walker admitir que nada havia lhe restado a não ser a filha problemática. Pelo menos nas sextas-feiras, Angie tenta se comportar como a filha que a mãe sempre sonhara.

A  menina pega um de seus lenços umedecidos e tira todo o excesso da maquiagem preta, o jogando fora logo após. Ela abre o armário e escolhe um dos casuais vestidos que usa para ir à Igreja e incorporar sua outra versão, mais uma de suas máscaras.

O vestido da vez é o tomara-que-caia rodado da cintura para baixo que possui o mesmo tom lavanda-fresca das paredes do cômodo. Ela veste a peça de roupa, calça uma sapatilha branca que a mãe tanto gosta e faz um coque no cabelo desajeitado. Uma verdadeira puritana. Uma  versão de Angelina Walker fiel a sua origem.

"Angie, está pronta?" A voz meiga da mãe soa por trás da porta do seu quarto, no mesmo tom entristecido de sempre.

"Sim, já estou descendo." Angie não hesita em responder e logo parte para seu ritual pré-igreja como sempre costuma fazer. Toda sexta-feira antes da missa a menina prepara uma mochilinha com roupas que manifestam o visual de Angelina Walker conhecido por todos. Ela geralmente diz para sua mãe que vai dormir na casa de Alex, de Barbora ou de Donnah, o que ela não deixa de fazer, mas "esquece" de citar que tem uma noite longa pela frente bem antes que isso aconteça. Agora sim estou pronta, diz para si mesma. Ela sorri com satisfação, puxa do cabide um largo casaco jeans e segue o caminho para o andar de baixo.

"Está linda, filha." Lana demonstra um de seus sorrisos mais meigos e Angie, por mais que tente, não consegue retribuir a afetividade da mãe. Sabe que é injusta e egoísta em pensar que sofrera muito no decorrer dos anos, talvez porque fosse muito nova e não merecesse tantos choques de uma vez só. Talvez fosse imatura demais para lidar com isso do jeito certo e acaba descontando suas dúvidas em sua pobre mãe.

"Obrigada. Vamos?" Ela pergunta e a mãe faz que sim com a cabeça.

O prius 2007 branco de Lana está como sempre perfeitamente estacionado na garagem. Angie já havia gostado muito daquele carro mas agora ele não representa nada além de meras lembranças.

"Eu vejo uma coisa verde." A garotinha de 8 anos ergue sua coluna para frente e apoia seus dois braços nos bancos frontais do carro. A música que invade os ouvidos da família é leve e a brisa de verão dá um ar de leveza à atmosfera do carro.

"Árvores!" Lana Walker diz entusiasmada e sua pequena filha solta uma risada gostosa. O pai, Jeremiah, estava achando toda aquela situação engraçada demais.

"Não, mãe! Isso seria fácil demais, pelo Amor de Deus!" A pequena Angie diz e tenta expressar maturidade na sua fala. Maturidade que não é pertinente a uma menina de 8 anos.

"Calem a boca! Eu estou tentando dormir!" A voz do irmão que é apenas 3 anos mais velho, é gritada. Peter, ou Pete, resmunga retirando um de seus headphones.

"Você é chatão!" Angie diz atirando uma das pequenas almofadas de dormir em direção a Peter. Ele cerra os punhos e sua feição, mesmo irritada, transparece um ar brincalhão.

"Vou te matar pirralha!" Ele puxa a irmã e começa a fazer cosquinhas nela. As risadas da pequena envolvem o carro, aquecendo o ambiente. Ela nunca lembra de ter estado tão feliz como neste momento.

"Tentem não se matar, fedelhos." O pai diz rindo enquanto batuca no volante do Prius as notas de alguma música do Kings of Leon. É sua banda preferida.

"Me solta!" A irmã tenta dizer entre risadas.

"O que disse? Não consigo ouvir nada!" O irmão diz prolongando as cosquinhas. Lana sorri e suspira de forma sossegada.

Eles estavam longe de serem perfeitos. Brigavam, discutiam e se amavam como qualquer família. Mas naquele momento, nada mais existia, nenhuma briga, nenhuma discussão, nenhum alfinete capaz de furar algum deles. Naquele momento, eram apenas uma família feliz."




Notas da autora:

Antes de tudo, queria agradecer à todos que começaram a ler o livro, estou euforicamente feliz de já ter conquistado alguns leitores! Saber que chamei a atenção e o interesse de outros me faz querer continuar a escrever e me envolver cada vez mais com essa história, depositando tudo de mim! Tenho uma beta incrível e um forte suporte de amigos para que esse projeto dê certo!

Muito obrigada pelos comentários calorosos e os votos nos capítulos, galera! Tentarei postar com uma frequência maior, já que ainda estou no começo. Espero que continuem lendo e que tenham o conhecimento de que qualquer crítica é válida!

Estou pensando em criar um grupo no facebook para avisar quando publicarei os capítulos e falar algumas coisas sobre a própria história, o que acham? Me digam suas opiniões!

Um beijão,

Lu F.

MASQUERADEOnde histórias criam vida. Descubra agora